PROJETO MARVELS – O NASCIMENTO DOS SUPER-HERÓIS
Editora: Panini Comics - Edição especial
Autores: Ed Brubaker (texto), Steve Epting (arte) e Dave Stewart (cores) - Originalmente em The Marvel Projects # 1 a # 8.
Preço: R$ 55,00
Número de páginas: 212
Data de lançamento: Maio de 2011
Sinopse
Nova York, 1938. Um idoso morre em um hospital da cidade, não sem antes deixar um presente para o médico que o atendeu: uma caixa com uma máscara e duas antigas armas típicas do Velho Oeste americano. Um legado que está na origem secreta dos personagens da Era de Ouro da Marvel Comics.
Nos anos seguintes, o mundo testemunha o surgimento de combatentes do crime e de super-heróis enviados à guerra mundial que arrasa a Europa.
Positivo/Negativo
No mês em que a "Distinta Concorrência" (a DC Comics) zera sua cronologia mais uma vez, é uma boa pedida ler ou reler a minissérie que celebrou e deu uma nova sensação de continuidade à trajetória da Marvel, desde seus primórdios, quando a empresa ainda se chamava Timely Comics.
Lançada com acabamento de luxo e em uma única edição pela Panini, Projeto Marvels foi originalmente pensada como uma minissérie em oito partes, para comemorar os 70 anos da "Casa das Ideias", em 2009, contando um tempo antes da revolução que Stan Lee trouxe à editora a partir dos anos 60, com a criação do Quarteto Fantástico, dos X-Men, do Homem-Aranha e outros personagens.
O foco aqui era o final da década de 1930, os anos que anteciparam a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, e quando a Timely, inspirada no grande sucesso da, então, National Periodicals (um certo Superman), começava a lançar seus próprios superseres para combater o mal e vender milhões de revistas de quadrinhos. Era a época do Tocha Humana original, do Namor, do Capitão América e companhia.
Para recontar essa história e agrupar toda essa bagagem em uma mesma linha do tempo, foram convocados dois artistas que revitalizaram aquele mesmo Capitão América nos últimos anos. O roteirista Ed Brubaker e o desenhista Steve Epting ganharam a chance de imprimir uma inédita coerência entre o passado da Timelye o presente da Marvel, preenchendo uma infinidade de lacunas.
Projeto Marvels - O nascimento dos super-heróis, pelo menos por enquanto, é uma retcon definitiva da editora: aquela jogada editorial de continuidade retroativa, quando novos fatos são jogados no passado de algum personagem. A diferença é que o recurso foi aplicado em larga escala, de uma vez só a toda uma galeria de seres mascarados.
O próprio nome da iniciativa evoca uma minissérie anterior e extremamente bem-sucedida da mesma editora: Marvels, de Kurt Busiek e Alex Ross. A diferença é que o projeto mais recente usou o dobro de edições (oito contra quatro) para detalhar aquilo que era apenas vislumbrado nos quadrinhos que o antecipou.
O ponto de vista também é outro. Se Busiek e Ross optaram pela visão do homem comum (no caso, o fotógrafo Phill Sheldon) diante das maravilhas, Brubaker e Epting passaram a palavra a um dos primeiros heróis da casa: o doutor Thomas Halloway, que nas horas fora do expediente assumia a identidade do Anjo.
Aquele mesmo personagem foi avistado de relance por Phill Sheldon na edição de estreia de Marvels, pulando de um prédio para o outro. Mais recentemente, foi um dos protagonistas de X-Men Noir, também lançado há pouco no Brasil, pela mesma Panini.
Em Projeto Marvels, é Halloway quem passa a catalogar o surgimento de seus colegas de capa, desde sujeitos que enfrentam o crime sem poderes especiais, como o Máscara Ardente e o Bala Fantasma, até o surgimento das primeiras criaturas a realmente deter habilidades especiais.
O próprio Anjo pertence ao primeiro grupo e, nesta história, o leitor vê qual foi a inspiração que levou o médico àquela vida dupla. Na retcon, o impulso foi a caixa que o médico nova-iorquino recebeu de um de seus pacientes pouco antes de morrer, um idoso advogado nascido em Boston e que viveu um tempo no Texas. Nela, uma máscara e dois antigos revólveres.
O idoso em questão era Matt Hawk, conhecido no Brasil como Defensor Mascarado; Two-Gun Kid no original. Um dos diversos caubóis que a Marvel criou na entressafra entre a primeira geração de super-heróis (a Era de Ouro, dos anos 30) e a segunda (a de Prata, dos anos 60). De uma maneira muito inteligente, Brubaker usa esse subterfúgio para fazer a ponte entre as diferentes linhas de personagens heroicos da editora, os urbanos e os do faroeste; os pioneiros e os atuais.
É apenas a primeira cartada do escritor, que ao longo das demais edições de seu projeto apresenta ao leitor diversas respostas a perguntas que talvez ninguém havia sequer pensado em fazer antes.
O que existe em comum entre os atlantes e os supersoldados criados nos Estados Unidos e na Alemanha para combater na Segunda Guerra? Qual a participação de Nick Fury nos eventos que deram origem ao Capitão América? Quando foi a primeira união de forças dos heróis de Nova York?
Se a arte de Steve Epting não é tão chamativa quanto as pinturas ultrarrealistas de Alex Ross, que tanto alvoroço fizeram no lançamento de Marvels, mais de uma década atrás, ela cumprem muito bem seu papel. Os desenhos seguem aquele padrão entre o realismo e o minimalismo que foi consagrado por David Mazzucchelli em suas parcerias com Frank Miller, nas histórias do Demolidor e do Batman.
Para leitores mais antigos, é muito difícil não abrir um sorriso ao deparar com tantos fatos que dão, ao mesmo tempo, aquela mistura de reconhecimento de velhos amigos de aventuras e de deslumbramento diante das novidades. Para quem chega agora, é a chance de ver um universo coerente repleto de detalhes novos em folha.
A edição da Panini é excelente, com papel nobre e capa dura. Bem verdade que poderia trazer informações sobre os personagens mais obscuros. Ou mesmo notas a respeito de algumas reviravoltas cronológicas em torno de Matt Hawk, que devem confundir leitores, veteranos ou não.
Seriam extras bem mais relevantes que a infinidade de capas alternativas mostradas no volume, assinadas por Epting, Gerald Parel e Steve McNiven (autor da que foi utilizada neste encadernado). Mas tal ausência não diminui a importância do material.
Classificação: