Red Skin – Volume 1 – Bem-Vinda à América
Editora: Mythos – Edição especial
Autores: Xavier Dorison (roteiro), Terry Dodson (arte e cores) e Rachel Dodson (arte-final) – Originalmente em Red Skin – Welcome to America e Red Skin – Jacky (tradução de Mario Luiz C. Barroso e Helcio de Carvalho).
Preço: R$ 84,90
Número de páginas: 120
Data de lançamento: Novembro de 2017
Sinopse
Em 1977, a agente soviética Vera Yelnikov foi enviada pelo Kremlin para Los Angeles, nos Estados Unidos, para espalhar a propaganda comunista nas terras do Tio Sam. Como Red Skin, ela vai empunhar a Foice e o Martelo em defesa de verdade, da justiça e do modo de vida comunista.
Dentre seus inimigos, Jackie Core é a líder de um movimento religioso abertamente fascista. A KGB teme que ela seja eleita governadora e atrapalhe a assinatura dos acordos de desarmamento nuclear entre os países.
Ao mesmo tempo em que Vera quer aprender mais como se comporta uma super-heroína em terra estrangeira, um assassino em série que usa ferramentas de carpintaria espalha o terror entre os criticados pela sociedade conservada.
Positivo/Negativo
No ano em que acontece Red Skin, Jimmy Carter tomava posse como o 39º presidente dos Estados Unidos e, no final do ano anterior, Fidel Castro (1926-2016) se tornava chefe de estado e de governo de Cuba, além de ser o sexagésimo aniversário da revolução bolchevique. A chamada Guerra Fria continuava.
A queda de braço nessa década também contava com negociações sobre desarmamento entre Estados Unidos e União Soviética (URSS), incluindo as conversações sobre limites para armas estratégicas, ou simplesmente Salt (do inglês Strategic Arms Limitation Talks).
É nessa conjuntura que nos é apresentada a agente da elite soviética Vera Yelnikov, sem nenhum estereótipo de uma soldado russa – fria, loira e masculinizada –, mas com a roupagem batida da glamorização: uma mulher sensual, morena, cheia de libido, sem pudores e extremamente ágil e forte – características vitais para a trama.
Apesar de ter um contexto histórico, o roteirista francês Xavier Dorison (o mesmo de O Terceiro Testamento, série que a Multi Editores não terminou por aqui, em 2008) faz uma aventura escancarada no nonsense, despreocupada e que tira sarro com os conceitos dos comics de super-herói.
O mote central da série não implica em dizer que só se critica o "modo de vida norte-americano" ou o capitalismo em si. Há também as alfinetadas no comunismo, além de cutucar o conservadorismo e a religiosidade direcionada ao fanatismo, tudo muito caricato, que é a proposta honesta da HQ desde a primeira página.
Para unir o melhor dos dois mundos (comic e bande dessinée), foi bem acertada a convocação do casal norte-americano Terry e Rachel Dodson na arte. Ambos trabalharam com os super-heróis (Homem-Aranha, Mulher-Maravilha etc.) e o desenhista chegou a produzir material europeu, como Songes, no melhor estilo das pin-ups de contos de fadas.
Além da ação com diagramação bem arejada, o humor tem pontos altos, como quando debocha dos próprios clichês dos gibis de super-heróis protagonizados por Batman, Hulk, Justiceiro e tantos outros colhidos para a sua "pesquisa" de ser uma heroína e, ao mesmo tempo, propagar os "valores comunistas".
Porém, as ordens dos burocratas do Kremlin nem sempre serão seguidas à risca, mesmo com a insistência de uma espécie de sidekick nerd infiltrado há mais tempo. Uma lógica que vai atropelar os aspectos morais da protagonista.
Temas como as consequências do neofascismo, o puritanismo, a censura, a liberdade sexual, o poliamor e a indústria pornográfica são abordados de uma maneira que se aproxime da veia simplista dos comics, de forma bastante natural e até circunspecta.
Este volume da Mythos engloba as duas edições publicadas originalmente pela Glénat entre 2014 e 2016. A série ainda não acabou lá fora. Do selo Golden Edition, Red Skin tem formatão 24 x 32 cm, capa dura com aplique de verniz, papel couché de alta gramatura e excelente impressão. Nas pouquíssimas páginas de extras, estudos de personagens e a capa do Volume 2, além de uma página dupla de propagandas de outros materiais do selo – algo que poderia ser evitado pela editora.
O título seria publicado originalmente pela 12 Bis, mas a editora acabou abrindo falência e o catálogo foi adquirido pela Glénat desde 2013. Na época, em virtude da semelhança com a personagem Viúva Negra, da Marvel Comics, houve mudanças tanto no visual quanto no batismo da obra.
Descompromissada, no final das contas Red Skin é um thriller camp que tem a sua crítica (rasa) e serve ao seu propósito de passatempo e entretenimento.
Classificação
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