REINVENTANDO OS QUADRINHOS
Título: REINVENTANDO OS QUADRINHOS (M.
Books) - Livro teórico
Autor: Scott McCloud
Preço: R$ 45,00
Número de Páginas: 260
Data de lançamento: Agosto de 2005
Sinopse: Scott McCloud vira o narrador de uma aula sobre a relação dos quadrinhos com a sociedade.
Positivo/Negativo: Em 1993, McCloud lançou um dos mais importantes livros sobre a linguagem dos quadrinhos: Desvendando os Quadrinhos. Reinventando os Quadrinhos é a continuação de sua obra.
Embora possa ser lido independentemente, os dois livros têm uma relação intrínseca: o primeiro foca na linguagem, enquanto o segundo olha a relação dos quadrinhos com o mundo real.
Desvendando vinha na cola dos livros teóricos de Will Eisner, mas dava conta de expandir e aprimorar o conhecimento que o mestre tinha produzido. Escrito em forma de HQ, com McCloud como narrador, contou o que são os quadrinhos, como eles funcionam e ainda dissecou sua estrutura de transição quadro a quadro. Havia capítulos especiais para detalhes da linguagem: uso de cor, onomatopéias, balões...
Porém, o seu papel era o de olhar da porta para dentro. McCloud tinha um foco: exaurir tudo que era possível sobre a linguagem das HQs.
Com Reinventando os Quadrinhos, publicado originalmente em 2000 e que chegou com atraso de cinco anos ao Brasil, a idéia é olhar, a partir de algumas das premissas de originalidade e qualidade estabelecidas pelo livro anterior, como os quadrinhos se posicionam diante do mundo real.
Logo no começo, McCloud define doze zonas de expansão para os quadrinhos nos próximos anos. É importante notar que não se trata de áreas para onde as HQs vão, abandonando as conquistas a serem realizadas, e sim novos segmentos pelos quais a indústria, os artistas e os leitores devem batalhar. Elas são:
1) Os quadrinhos como literatura - Os quadrinhos representam a vida e a visão do mundo de seus autores.
2) Os quadrinhos como arte - A ilustração dos quadrinhos podem ser tão relevantes quanto a pintura e a escultura
3) Os direitos dos criadores - Autores podem ter mais controle sobre suas criações.
4) Inovação mercadológica - Um novo modelo de mercado poderia ser mais adequado a autores e indústria.
5) Percepção pública - O público não-leitor deve passar a considerar os quadrinhos como uma alternativa de leitura.
6) Escrutínio institucional - Instituições deveriam deixar de ter preconceito com as HQs.
7) Equilíbrio dos sexos - Mais mulheres deveriam entrar no ramo, tanto como leitoras quanto como produtoras.
8) Representação das minorias - Ampliação das HQs para além do estereótipo de jovens brancos, do sexo masculino, heterossexuais e de classe média.
9) Diversidade de gêneros - Permitir mais gêneros que as fantasias de superpoder.
10) Produção digital - Criação de HQs a partir de ferramentas digitais.
11) Difusão digital - A distribuição por formato digital.
12) Histórias digitais - A evolução das HQs para um ambiente digital.
Ao contrário do livro anterior, Reinventando olha para o mundo real. Por isso, há dois pontos que merecem uma atenção:
1) Por mais que McCloud considere e cite a Europa e o Japão como mercados em que algumas dessas variáveis estão mais ajustadas, o mundo real do autor é no mercado norte-americano.
2) Se a linguagem das HQs não muda, a realidade mudou. E muita coisa que era tendência há cinco anos já virou passado.
Por mais que as propostas de McCloud sejam justas, é curioso perceber que pouco foi feito para mudar isso nos Estados Unidos. E, por mais que haja uma expansão de mangás, o gênero dos super-heróis continua o maior de todos - justamente porque o mercado parece pensado para ele.
No Brasil, pelo menos, os últimos anos registram uma significativa mudança, com mais gêneros chegando por uma porta de entrada diferente: as livrarias.
Infelizmente, as três últimas zonas de expansão propostas por McCloud são as que deveriam estar mais defasadas em relação à publicação original. Afinal, falam de internet - e nada mudou mais que a grande rede nos últimos anos. A indústria fonográfica - muito mais sólida, por sinal, que a dos quadrinhos - foi atingida em cheio. Mas, pras HQs, a web ainda parede uma ameaça distante.
O único grande movimento que se percebeu foi justamente a difusão digital de páginas escaneadas das mesmíssimas HQs vendidas em comic shops norte-americanas. Mesmo nos quadrinhos publicados na internet, boa parte deles não passa da reprodução do formato de página dos gibis - o que é absolutamente incompreensível, já que geralmente um monitor de computador é horizontal e uma revista, vertical.
Nem mesmo as grandes editoras parecem preocupadas. Na edição de maio da revista Wired, nem Marvel nem DC quiseram comentar sobre seus projetos de difusão de quadrinhos na internet - se é que eles existem além dos previews e de um punhado de edições velhas digitalizadas.
O que McCloud mostra - e o atraso na publicação brasileira reforça - é que o mercado de HQs não só é pequeno, mas também pensa pequeno. E, quando um mercado está numa situação dessas, só tem uma saída: se reinventar.
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