RETRATO FALADO
Título: RETRATO FALADO (Nona Arte) - 2ª Edição
Autores: Lor (roteiro e desenhos).
Preço: R$ 20,00
Número de Páginas: 100
Data de lançamento: Maio de 2002
Sinopse: Rosário é um país sufocado por uma cruel ditadura militar, e está chegando no ponto de ebulição. Um avião foi seqüestrado por guerrilheiros rebeldes, os metalúrgicos estão em greve, os estudantes organizam uma passeata. Enquanto isso, os militares tentam varrer para baixo do tapete as perturbações ao regime autoritário.
Apesar da censura imposta, o jornalista Vladimir investiga o desaparecimento de inimigos políticos do governo, freqüenta reuniões de sindicato e cobre passeatas. Ele é o eixo que conduz a história - até se tornar mais uma vítima do regime.
Positivo/Negativo: Um retrato falado é feito para identificar um criminoso a partir da descrição de uma testemunha. O resultado pode não ficar tão parecido com o retratado quanto se gostaria. Afinal, ele não é feito diretamente a partir da realidade, e sim pelas marcas que a realidade deixou em quem descreve o bandido.
Lor, o artista que faz o retrato falado do Brasil dominado pela ditadura, muda o nome do país para Rosário. Há mais algumas alterações. Mas qualquer leitor sabe que Rosário é o Brasil. Identifica na lata. Essas modificações são tão pequenas que chegam a soar irônicas, como se estivessem lá apenas para provocar a censura - como se olhassem para o censor dizendo "Brasil? Que Brasil? Estamos falando de Rosário!".
E o deboche do regime tem peso, sim, porque Retrato Falado foi feito (e refeito, redesenhado, repensado por mais de ano) durante a vigência do AI-5, e lançado poucos meses depois do seu fim, em 1979. Rir, naqueles tempos, dava cadeia. E cadeia conduzia para o pau-de-arara e para a morte.
Depois de 1979, Retrato Falado ficou desaparecido por mais de duas décadas. Até que o editor André Diniz, da Nona Arte, que também faz quadrinhos sobre a ditadura, encontrou um exemplar em um sebo. Com a autorização do autor, resolveu publicar a revista no site da editora, em formato PDF. Agora, chega a nova versão em papel, impressa em gráfica que trabalha de acordo com a demanda.
Nesse formato, o trabalho de Lor se torna o mais importante lançamento de quadrinhos do ano até agora. E, pelo que as editoras planejam até o fim de 2003, será difícil de ser superado.
Retrato Falado é um álbum testemunhal feito no calor da hora. Engajado, sabe de que lado do muro está, ainda que tenha optado pelo lado mais duro. Ainda assim, não recai em sentimentalismo, nem se torna discursivo. Sua narrativa é impecável, com momentos grandiosos (como o da morte do estudante na passeata). Os desenhos têm traços econômicos e eficientes. Parecem até de humor.
Mais do que isso: com essa republicação, o Brasil passa a ter um álbum em quadrinhos tão denso, revelador e dramático quanto Gen - Pés Descalços (de Keiji Nakazawa, publicado no Brasil pela Conrad Editora) e Maus (de Art Spiegelman, pela Brasiliense), que falam dos pontos mais dramáticos da história recente das nações dos autores.
Obrigado, André Diniz. Obrigado, Lor.
Classificação: - Eduardo Nasi
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