REX MUNDI - LIVRO UM - O GUARDIÃO DO TEMPLO
Autores: Arvid Nelson (texto), EricJ (arte) e Jeromy Cox (cores).
Preço: R$ 48,50
Número de páginas: 216
Data de lançamento: Setembro de 2007
Sinopse: As grandes revoluções do século 18 fracassaram. O mundo está imerso numa disputa de poder entre a bruxaria e a Igreja Católica.
Em Paris, o médico Julien Saunière é convocado por um velho sacerdote para ajudar a encontrar um códice medieval secreto que foi roubado da igreja de La Madeleine. Mas o padre logo aparece morto, iniciando uma série de assassinatos que estão relacionados com uma antiga sociedade secreta.
E mais: Irmão Mateus enfrenta a magia.
Positivo/Negativo: Logo de cara, Rex Mundi arrebata o leitor. Não é preciso nem mesmo que a história comece. Antes até do primeiro quadrinho, quando a entusiasmada introdução do quadrinhista Joshua Dysart (Monstro do Pântano, Faça 5 Pedidos) ainda ressoa, um mapa mostra que não é pouca coisa que a história a seguir precisará explicar.
A imagem mostra a Europa, parte do Oriente Médio e o norte da África. O contorno da geografia é o mesmo. Mas as fronteiras entre os países (bem como alguns dos nomes) estão alteradas. Bruxelas, por exemplo, fica na França. A Catalunha é um país independente, assim como Navarra e Aragão. Portugal não existe - faz parte do Emirado de Córdoba, que engloba boa parte do que se conhece por Espanha. Um grande pedaço do Oriente Médio aparece sob o controle do Império Otomano, enquanto o Leste Europeu integra o Sacro Império Romano.
Sem ler um quadrinho sequer, já dá para sacar: há forças muito poderosas alterando o destino da realidade paralela em que Rex Mundi se desenvolve.
É justamente a força criativa geradora desse mundo imaginário o que mais chama a atenção. A partir de alterações nas grandes revoluções do século 18, os autores forjam um mundo coerente e consistente, que inclui não só a nova geopolítica do mapa, mas até um intrincado sistema de produção baseado no modelo das antigas guildas medievais.
Quando o médico-detetive Saunière entra em cena repleto dos clichês do gênero, revelando-se um personagem quase vazio, ele praticamente implora para ser encarnado pelo seu leitor. Afinal, os jornais falsos que encerram os capítulos estão repletos de pistas para desvendar o mistério - e são um convite para brincar de detetive por essa Paris imaginária.
Se desvendar a realidade fictícia de Arvid Nelson e EricJ é uma experiência empolgante, já não se pode dizer o mesmo da trama em si. Com certa dose de boa vontade, pode-se classificá-la como uma história de detetive competente. E olhe lá.
Os clichês estão todos lá: ruas sombrias, adagas misteriosas, mulheres sedutoras, assassinatos mirabolantes e por aí vai. São coisas do gênero, enfim. Nem tem como fugir. Vale insistir que o cenário geral, ao menos, é uma tentativa de somar algo de novo ao argumento batido. O resultado é feliz.
A arte também está longe de ser encantadora. Ela sustenta a história, e só. EricJ tem um traço cansativo, que às vezes ecoa o famigerado estilo da Image nos anos 90. Até o trabalho de Jerome Cox fica aquém do atual: o excesso de degradés dá um tom brega aos desenhos.
De novo: não fossem os alicerces da história, o trabalho da equipe de arte não seguraria a bronca.
De qualquer maneira, os maiores erros ficaram a cargo da equipe que produziu a versão brasileira. A edição, no formato levemente reduzido de 16,5 x 24 cm, tem seus méritos, inegavelmente: capa bonita com reserva de verniz delicada, uma galeria de artistas e, de quebra, publica a boa HQ de Rex Mundi # 0, em páginas horizontais, aludindo às histórias dominicais.
O grande problema é no descuido com a língua portuguesa. Os erros são diversos - especialmente nas matérias do Le Journal de la Liberté. O próprio periódico se define, edição após edição, como "O principal jornal anglofono de Paris", o que já é um erro: o correto é "anglófono".
Há outros. Na página 41, a crase antes de "uma da manhã" não existe. Na 87, há uma hifenização errada em "estab-elecer" e a frase "Quatorze anos pode parecer muito tempo, mas não há substituto melhor para a experiência" ficou com uma construção estranha, que beira a falta de sentido. Na 116, há um porquê empregado errado.
É de se convir, claro, que não são erros que impedem gravemente a leitura e inutilizam o álbum. Pelo contrário: o lançamento da Devir não deixa de ser bastante interessante. A questão que fica é se uma obra com uma edição quase franciscana, cujo preço beira os R$ 50,00, pode dispensar uma revisão mais zelosa sem soar como um descaso com o seu próprio leitor.
Tomara que o Livro Dois, prestes a ser publicado pela mesma Devir, apresente maior rigor no bom uso da língua.
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