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SAINO A PERCURÁ - ÔTRA VEZ

1 dezembro 2011

SAINO A PERCURÁ - ÔTRA VEZ

Editora: Zarabatana - Edição especial

Autor: Lelis (texto e arte).

Preço: R$ 56,00

Número de páginas: 96

Data de lançamento:Agosto de 2011

 

Sinopse

Coletânea com 13 histórias curtas que apresentam personagens caipiras e urbanos vivendo situações absurdas e bem-humoradas.

Saino a percurá é uma fábula deliciosa e cheia de absurdos, com direito a cruzas de pato e galinha e porcos com asas.

Mudernidades mostra o impacto da súbita chegada da televisão sobre a vida do matuto Jovino de Tião Ferrêra.

Neoliberal 2 apresenta o resgate de uma donzela belissimamente ilustrado e contado em versos rimados.

Corrupção e propina são os temas de Frango Caipira.

Saruê queimado - Um matador profissional subestima os habitantes de uma cidadezinha e paga caro por isso.

Salva-vidas - A solteirona encontra finalmente um marido, com uma secreta, estranha e lucrativa profissão.

Decaer apresenta uma conversa telefônica, uma batida policial e uma infeliz coincidência.

A programação de TV e a salvação de almas estão em Domínio Legal.

Capitão Jabá é uma delirante crítica à indústria do futebol.

O uso incorreto de Viagra dá estranhos resultados em Tapioca's motel.

A casa usa versos de Vinicius de Moraes para tecer um sombrio retrato do cotidiano urbano.

Lust (Luxúria) - Um voyeur extravasa seus desejos, mas suas razões revelam-se uma surpresa.

O violeiro dá uma dica muito importante para quem quer ser o melhor instrumentista.

Positivo/Negativo

Saino a percurá - Ôtra vez é uma nova edição do álbum quase homônimo publicado em outubro de 2001. As três histórias originais receberam um reforço de dez novos episódios.

A arte do mineiro Lelis é bela e original. Seu desenho delineia formas distorcidas e expressivas e define personagens engraçados e dramáticos. São suas aquarelas que mais chamam a atenção. Ele consegue combinar diversas cores de maneira harmoniosa, preservando a luminosidade característica da técnica.

Em Frango caipira e Decaer, o autor dispensa a aquarela e trabalha apenas com pincel e nanquim. A ausência das cores é compensada com pincelas e hachuras resultando em imagens muito atraentes.

Além da técnica apurada, as imagens de Lelis apresentam um estilo próprio e cheio de personalidade.

Já no prefácio, o autor demonstra a valorização e o apreço pela cultura brasileira em toda a sua diversidade. Há um carinho pelo cotidiano, pelos detalhes simples e também um pesar pelo desvanecer de aspectos singelos frente ao progresso alienado e alienante.

Essas ideias permeiam as histórias da coletânea, alternando momentos de críticas bem-humoradas com nonsense total.

Saino a percurá abre e dá nome ao álbum. Com seus absurdos narrados em versos caipiras e rimados, cheio de bom humor e inventividade, disputa com a surpreendente Lust (Luxúria) o posto de melhor episódio do livro. São obras simplesmente irretocáveis.

São momentos como esse, de humor despretensioso, que oferecem outras boas histórias, como Tapioca's motel, Salva-vidas e o ótimo Neoliberal2.

A crítica às modernidades tecnológicas e urbanas quase resvala para o sermão.
É o caso de Mudernidades, em que a televisão é retratada como uma irresistível força alienante que consumirá inevitavelmente todo o inocente povo do campo, destituindo-o de sua cultura própria.

Curiosamente, Saruê queimado mostra-se como um interessante contraponto a Mudernidades: ali, o esperto assassino da cidade grande sucumbe diante dos caipiras que subestimou. O matuto não é retratado como um inocente e o humor-negro da história a aproxima de Salva-vidas.

Outros episódios de teor crítico são Frango caipira e Domínio legal, que possuem um tom mais de escárnio do que de repreensão.

A casa apresenta um retrato sombrio e pessimista, enfatizando a decadência e a marginalidade da cidade grande.

A arte de Lelis é soberba, mas em alguns momentos peca quanto à fluidez. Decaer é um exemplo disso. Trata-se de uma boa trama, mas sua narrativa sequencial é um tanto confusa e o leitor pode ter dificuldade para compreender o que acontece e o desfecho.

Já em Capitão Jabá, o experimentalismo psicodélico é um tanto exagerado.

Mas o saldo final é extremamente positivo. Saino a percurá - Ôtra vez é um excelente upgrade da edição original.

O trabalho da Zarabatana foi cuidadoso. A editora teve o respeito com o leitor de apontar a ausência dos originais de Tapioca's motel. A versão presente no álbum foi diretamente digitalizada da revista Ragu # 4.

Enfim, trata-se de um trabalho sério, com uma arte belíssima que embala ideias que merecem ser lidas e discutidas. Ao mesmo tempo, possui uma leveza e um bom humor contagiantes.

Classificação:

4,0

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