SANDMAN APRESENTA - AS FÚRIAS
Editora: Panini Comics - Edição especial
Autores: Mike Carey(roteiro) e John Bolton(arte) - Publicado originalmente em The Sandman Presents: The Furies.
Preço: R$ 22,90
Número de páginas: 96
Data de lançamento: Julho de 2011
Sinopse
Cerca de dois anos atrás, Hyppolita Hall perdeu seu filho pequeno sob condições muito misteriosas. A falta do garoto é dolorosa e se faz sentir dia após dia em uma existência sem sentido.
O casual encontro com uma certa companhia de teatro leva Hall a revisitar seu passado e compreendê-lo melhor. Ao mesmo tempo, uma antiquíssima entidade ameaça por fim à sua existência.
Positivo/Negativo
Se o leitor ainda não conhece a saga do personagem Sandman, criado por Neil Gaiman, e não quer ter nenhuma surpresa estragada, recomenda-se que pare a leitura desta resenha agora e, principalmente, não leia Sandman apresenta - As Fúrias.
A trama criada por Carey está completamente vinculada à conclusão das histórias de Lorde Morpheus, que, apesar de já concluídas pela Conrad, estão em curso pela Panini.
Assim, o leitor não familiarizado com Sandman terá dificuldade em compreender totalmente o drama de Lyta Hall e a relação dela com a entidade conhecida como as Gentis ou as Bondosas ou simplesmente the Kindly Ones, no original em inglês.
Um texto de apresentação situando o leitor de todas as situações de personagens, dramas e eventos pregressos seria indispensável. Entretanto, a única fonte de contextualização é a curta chamada na quarta capa, que revela, sem rodeios, que Daniel, o filho falecido de Lyta, é o novo Rei do Sonhar. E só.
Acontece que Lyta Hall foi peça principal na destruição de Sandman. Seu filho Daniel havia sido concebido dentro do Sonhar e, por isso, tinha uma conexão especial com Lorde Morpheus.
Loki e Robin Goodfellow sequestraram e assassinaram o menino. Isso jogou a antiga heroína (que era membro da Corporação Infinito) em uma trilha de delírio e desespero que a transformou no canal para manifestação das Fúrias, as já mencionadas Bondosas, que, pelo assassinato de seu filho Orpheus, puniram Morpheus com a morte.
Após a execução, Daniel (ou seu espírito) acabou se transfigurando no novo Senhor do Sonhar. Teve uma última conversa com sua mãe, na qual deixou claro que ela havia perdido seu filho para sempre.
Sem essas informações, é difícil para o leitor entender ao menos a relação de Lyta Hall com as Fúrias, fundamental para a história de Carey. Relação, aliás, que não faz sentido, uma vez que as Fúrias já haviam cumprido seu objetivo (aniquilar Morpheus) e não tinham necessidade de permanecer vinculadas à humana.
Esse é um dos problemas do roteiro de Carey. Ele se apoia em alguns eventos da série Sandman, mas ignora outros.
Entretanto, desconsiderando todas as referências à obra de Neil Gaiman, ainda poderia se encontrar a história de uma mãe tentando aprender a viver com a ausência do filho.
Essa trama, associada à boa ideia de cruzar os caminhos de Lyta Hall com uma companhia de teatro especializada em tragédia grega poderia render uma ótima história, ainda mais ilustrada com a belíssima arte de John Bolton.
Mas aí vem a outra mancada de Carey: inserir um "vilão" mitológico com objetivos maléficos de conquista. A tentativa é claramente aludir à coexistência de deuses e humanos, o fantástico e o mundano, realizada por Gaiman em seu trabalho. O resultado é algo que se assemelha mais a uma simples trama de super-heróis, com um bad guy que tem um plano infalível e se dá mal no fim.
Disso tudo, ficam as imagens maravilhosas de Bolton, algumas boas ideias de roteiro, uma edição de capa dura caprichada por um preço acessível e a sensação de que se poderia ter algo bom de verdade com um roteirista um pouco mais maduro.
E fica também uma pergunta: não faria sentido a Panini avisar que essa edição contém spoilers de uma história que ela está republicando atualmente?
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