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Santô e os Pais da Aviação

9 junho 2006

Santô e os Pais da AviaçãoEditora: Companhia das Letras - Edição especial

Autores: Spacca (roteiro e desenhos).

Preço: R$ 39,00

Número de páginas: 168

Data de lançamento: Novembro de 2005

Sinopse

O título honorífico pela paternidade da aviação é uma polêmica que se arrasta há um século. Quem foi o dono do primeiro vôo de um equipamento mais pesado que o ar? Seria o brasileiro Alberto Santos-Dumont ou os norte-americanos irmãos Wright?

O cartunista Spacca resolve colocar sua colher nessa polêmica e narra a evolução da aviação a partir da biografia romanceada de Santos-Dumont, dos irmãos Wright e de outros inventores da época.

Positivo/Negativo

Este álbum demorou cerca de 25 anos para ser concretizado. Tanta espera valeu a pena. Santô é um belíssimo exemplo do amadurecimento do autor e de como uma boa pesquisa enriquece uma obra.

A idéia inicial era a de contar a trajetória de Santos-Dumont sob uma ótica nacionalista, desmerecendo os feitos dos irmãos Wright. Com o tempo, o roteiro ganhou novas nuances, sabiamente abandonou o tom excessivamente patriótico e alçou um vôo maior ao tratar do nascimento da aviação em geral.

Santos-Dumont se transformou um personagem central de um processo no qual vários inventores de diversas nacionalidades estão em busca de um mesmo sonho e se influenciam mutuamente, mesmo quando estão competindo entre si. O brasileiro foi um dos pais da aviação, mas não o único. Uma visão infinitamente mais rica sobre o assunto e calcada sob uma sólida pesquisa. Spacca conseguiu levantar até fatos inéditos, o que confere uma credibilidade ainda maior ao seu trabalho.

Segundo o próprio autor, quase nada no roteiro foi inventando, seu trabalho se resumiu em como apresentar os fatos levantados. O resultado é um roteiro leve, divertido e muito habilidoso, pois consegue criar contrapontos para não preterir os méritos de ninguém.

Os irmãos Wright eram pobres enquanto Santos-Dumont vinha de uma família rica, mas sua riqueza é tratada não apenas como uma vantagem, mas também como uma grande responsabilidade: a de estar à altura de seu pai, um grande empreendedor e o cafeicultor mais rico de seu tempo.

Além dos irmãos Wright, vários outros pioneiros da aviação são apresentados e se mostra como a história é bem mais complexa do que pode parecer a princípio.

Vale destacar ainda um dos coadjuvantes, Sem, um cartunista e caricaturista que retratava as figuras importantes da época. Ele ficou fascinado pela excentricidade de Santos-Dumont e suas caricaturas deixaram o aeronauta ainda mais famoso.

Na arte, simplicidade e sofisticação. Os desenhos, feitos com bico de pena e técnicas de aguada, mostram tudo e mais um pouco com o mínimo de traços: expressividade é a palavra de ordem. O uso de silhuetas, as noções de ritmo e de composição de página também são exemplares. Pelo menos três seqüências são memoráreis: a divertida origem do famoso chapéu; o vôo bem-sucedido do 14-bis e a poética cena final.

A edição da Companhia das Letras é primorosa e tem um acabamento impecável. Conta ainda com uma boa quantidade de extras, como um mapa ilustrado de Paris na época, um texto sobre o cartunista Sem, referências bibliográficas, uma linha cronológica dos inventores além de alguns estudos e esboços do autor.

Não à toa, abocanhou nada menos que três troféus no 18º HQ Mixmelhor edição especial nacionalmelhor roteirista nacionalmelhor desenhista nacional. E Spacca ainda levou o demelhor cartunista. Imperdível.

Classificação

5,0

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