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SÃO JORGE DA MATA ESCURA

1 dezembro 2012

SÃO JORGE DA MATA ESCURA

Editora: Independente - Edição especial

Autores: Marcello Fontana (roteiro) e André Leal, Antônio Cedraz e Naara Nascimento (arte).

Preço: R$ 15,00

Número de páginas: 48

Data de lançamento: Julho de 2011

 

Sinopse

O álbum conta a história de três personagens que habitam o bairro da Mata Escura, em Salvador, por meio de arquétipos do misticismo religioso baiano.

Jorge é um cara correto. Humilde e determinado, ama Bárbara e fará de tudo para ficar com ela.

Já Bárbara não vê a hora de subir na vida e, por isso, pega os atalhos que Jarcisley lhe apresenta.

Positivo/Negativo

Salve, Jorge! Jorge da Capadócia. Capitão do exército romano e cristão fervoroso. Por não se deixar dobrar pelo Imperador romano Diocleciano, foi condenado à morte. No entanto, após três tentativas de execuções infrutíferas, a alma guerreira de Jorge só se deu por vencida após ver sua cabeça rolando no chão. Virou santo.

No panteão do candomblé, fruto do sincretismo religioso brasileiro e africano, São Jorge é o orixá Oxóssi, o bravo caçador.

Tal qual São Jorge/Oxóssi, o Jorge criado por Marcello Fontana é um cara honesto e batalhador. Negro e pobre, mata um leão por dia vendendo cafezinho na rua. Mora no bairro soteropolitano da Mata Escura, comandado pelo traficante albino Jarcisley, e namora a bela e ambiciosa Bárbara, personagem inspirada em Santa Bárbara (e no respectivo orixá feminino Iansã, responsável pelas paixões, ventos, trovões e tempestades).

Os três se conhecem desde criança, com Jarcisley sempre arrastando uma asinha para Bárbara. Já adultos, a namorada de Jorge cai na lábia do traficante (que pode ser visto como o vaidoso orixá Oxumaré, senhor das transformações) e escolhe vender o corpo em troca de uma vida mais promissora.

Como se não bastasse perder Bárbara, Jorge ainda é enganado por Jarcisley e acaba preso. Mas a vida dá voltas e Jorge não se deixa vencer. O destino vai uni-los mais uma vez e ele descobre que sua luta contra o dragão será travada aqui na Terra mesmo.

Fontana criou uma multitrama "novelesca" com um forte sotaque baiano (o jeito de falar da periferia e as gírias locais estão presentes, mas faltou um glossário no final, para explicá-las), na qual os pontos de virada são bem construídos, conduzindo a ação até seu clímax amargo e realista.

E, para trazer mais realismo à história, foi mais do que acertado contar com o traço em linha clara de André Leal, juntamente com seus tons de cinza, além das inserções do renomado Antônio Cedraz (nas páginas que remetem à infância dos personagens) e da jovem Naara Nascimento (retratando passagens da história de São Jorge e Oxóssi).

Merece destaque a revisão do texto feita por Ilan Iglesias e Larissa Martina, que praticamente não permitiram deslizes ao coloquialismo empregado nos diálogos (só um "por quê" passou despercebido na página 21).

No tocante ao letreiramento, o que incomoda um pouco são os balões em formato retangular.

São Jorge da Mata Escura comprova que o cenário de quadrinhos na Bahia está bastante promissor.

Os ventos de Iansã levaram o álbum à 39ª edição do Festival de Angoulême, na França, concorrendo com mais 38 títulos na categoria de quadrinhos alternativos, entre eles os brasileiros Café Espacial # 10, Silêncio, Lorde Kramus e Escorpião de Prata, perdendo para um quadrinho da Letônia, chamado Kus.

Que esses mesmos ventos o levem a todos os quadrantes do Brasil.

 

Classificação:

4,0

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