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SCARLET # 1

1 dezembro 2011

SCARLET # 1

Editora: Icon/Marvel Comics - Revista bimestral

Autores: Brian Michael Bendis (roteiros) e Alex Maleev (arte).

Preço: US$ 3,95

Número de páginas: 40

Data de lançamento: Julho de 2010

 

Sinopse

Scarlet é uma garota (ruiva) que está decidida a mudar o mundo, usando métodos extremos. E antes que você decida julgá-la, ela explicará quais as suas razões para atos tão radicais.

A principal causa é a morte de seu namorado, Gabriel, que foi assassinado por um policial corrupto (Gary Dunes) diante de seus olhos.

Positivo/Negativo

Bendis faz parte, junto com Ed Brubaker, Brian Azzarello e Greg Rucka, de uma geração de autores muito influenciada por romances e filmes policiais, particularmente o subgênero noir.

No começo de sua carreira, ele escreveu minisséries policiais como A.K.A. Goldfish, Jinx (ambas lançadas pela Caliber e posteriormente republicadas pela Image) e Torso, esta última baseada na história real de um serial killer que atuava em Cleveland — cidade natal de Bendis —, nos Estados Unidos, e foi escrita juntamente com Marc Andreyko. É interessante notar que o autor também desenhou essas histórias.

Prolífico, Bendis se dedica mensalmente a quase uma dúzia de títulos da Marvel, envolvendo super-heróis e longos conflitos, alguns deles se estendendo por mais de um ano. Com esse volume de produção mainstream diante do leitor, é fácil esquecer que ele é um bom escritor.

Há elementos em Scarlet que remetem a trabalhos anteriores de Bendis, como Demolidor (também ilustrado por Maleev) e Alias (uma ótima parceria com Michael Gaydos).

Scarlet é uma revista do selo Icon, da Marvel, destinado a trabalhos no qual os autores retêm os direitos sobre a obra. Isso permite a Bendis e Maleev muita liberdade para fazerem diversas experimentações narrativas, algumas relativamente comuns em outras mídias, mas raras nos quadrinhos.

A primeira coisa a ser notada é o uso interessante e inovador dos diálogos (sempre em excesso no caso de Bendis, uma de suas marcas registradas) como ferramenta de narração.

A protagonista não conversa apenas com os outros personagens; ela fala diretamente com o leitor. E não só no discurso, mas nos desenhos, como se estivesse olhando para fora do quadro. Os balões de diálogos são retangulares, remetendo ao formato dos recordatórios. O resultado é uma narrativa mais íntima.

Este recurso de quebrar a quarta parede (a "invisível", existente entre o palco e a plateia no teatro tradicional) foi usado muitas vezes nos quadrinhos, mas esta versão de Bendis e Maleev resulta num efeito bastante peculiar e eficaz, diferente de outras tentativas.

Também não é a primeira vez que Bendis e seus colaboradores brincam com as possibilidades narrativas. Outros exemplos interessantes são: o uso dos balões de pensamento no primeiro arco de Poderosos Vingadores (na revista The Mighty Avengers), recurso praticamente em desuso nas aventuras de super-heróis; e a história Decálogo (Daredevil # 71 a # 75), em Demolidor, que narra o reinado do Homem sem Medo na Cozinha do Inferno, atuando como o novo Rei do Crime.

Neste último, a história é contada por testemunhas oculares que fazem parte de um grupo de auto-ajuda, e o enredo foi montado dentro da estrutura dos dez mandamentos. Uma experiência parecida já havia sido feita pelo cineasta Krzysztof Kieślowski, na série Decálogo, de dez filmes com uma hora de duração.

Logo na primeira página de Scarlet # 1, Bendis deixa claro que a história será controversa. A protagonista mata um policial e, em seguida, se apresenta, falando diretamente com o leitor e inicia um "diálogo", no qual ela tenta explicar seus atos e avisa que você não poderá atuar apenas passivamente, virando as páginas. Afinal, você é testemunha e até cúmplice de seus atos.

Em outro momento, durante um sequência em flashback, Scarlet está, ao mesmo tempo, vivendo um evento dramático e conversando com o leitor, dando outro contexto à cena. Bendis se diverte misturando a diegese (simplificando: a narração ou o ato de contar um evento) com a mimese (a representação ou exibição do evento) num mesmo personagem.

Numa outra passagem, os autores resumem a vida de Scarlet, do nascimento ao seu primeiro amor verdadeiro, numa sequência de 25 quadros distribuídos em três páginas, na qual cada imagem tem uma legenda fundamental (nascimento, primeiro beijo, primeiro emprego, primeiro namorado, primeira nota dez, primeira bebedeira, primeiro orgasmo etc.).

O desenho de Alex Maleev é imprescindível na história. O artista continua mantendo a qualidade num nível igual ou superior ao trabalho executado durante anos na revista do Demolidor. O traço é voltado para o realismo, e abusa dos grafismos para criar um visual que sugere a estilização.

Se existe um empecilho nesse estilo visual é o congelamento da ação (ou seja, cria cenas mais "duras"). O traço de Maleev faz pouco uso de linhas de movimento, não permitindo que a mente do leitor complete a ação. Mas faz com que ele assimile o evento como uma sequência de imagens rápidas. É uma distinção sutil, porém afeta o ritmo da narrativa.

Mas, até o momento, isso não é um problema.

Vale notar que o visual de Scarlet foi baseado na modelo Iva, usada por Maleev como referência em todas as edições.

Este primeiro número da série teve capas de Maleev, Mike Deodato e David LaFuente.

Scarlet é uma história policial com personagens intrigantes, cujo desfecho, por enquanto, parece imprevisível. Sem dúvida, é um título que merece a atenção do leitor.

Classificação:

4,0

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