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Reviews

SCHULZ’S YOUTH

Por Delfin
1 dezembro 2010

SCHULZ'S YOUTH

Editora: About Comics - Edição especial

Autor: Charles M. Schulz (texto e arte).

Preço: US$ 14.95

Número de páginas: 296

Data de lançamento: Maio de 2007

 

Sinopse

Charles m. Schulz, famoso pelo seu trabalho para o universo infantil, mira aqui o universo adolescente dos anos 1950 e 60. Sob um ponto de vista muito peculiar.

Positivo/Negativo

Charles M. Schulz tem uma obra vasta, popular e muito divulgada no mundo, correto? Não, na verdade não é bem assim. Apenas uma de suas obras, Peanuts, é popular e conhecida na maior parte dos países. Mas muito de sua carreira é obscuro para a maioria de seus fãs. Não é algo incomum. Will Eisner, frequentemente citado por suas graphic novels e pelo personagem Spirit, possui uma longa lista de trabalhos desconhecidos do grande público. Também é assim com Schulz, ainda que a lista não seja tão longa assim. A intenção deste review é iluminar uma das facetas menos conhecidas do autor natural de Minneapolis: seu trabalho junto aos jovens.

Era 1955 e Schulz já fazia sucesso com Charlie Brown e sua turma. Àquela época, o jovem adulto de 32 anos possuía inquietações acerca da fama recente. Assuntos que não cabiam em sua tira que começava a ficar famosa. Era uma época inquietante, em que o rock'n'roll florescia, os conflitos sociais aumentavam e o mundo começava a mudar. Mas a educação de Schulz teve componentes religiosos muito fortes, o que sempre se refletiu, em maior ou menor grau, em seu trabalho. E foi em sua obra para adolescentes que esta influência se mostrou claramente.

Apesar de ter tido uma educação luterana, nos anos 1950 Schulz tinha conexões fortíssimas com a Igreja de Deus, sediada em Indiana. Baseada no primitivismo cristão e nos conceitos anabatistanos (uma ala de radicais dentro do protestantismo), esta igreja tinha forte influência sobre seus fiéis, inclusive o cartunista. Deste modo, quando começou a publicar sua série de cartuns Young Pillars (algo como "Coluna Jovem"), os adolescentes tementes à crença da Igreja de Deus passaram a ter em quem se espelhar: em Harold e sua turma.

Harold era para aqueles adolescentes o que Charlie Brown estava se tornando em todo o mundo: uma espécie de símbolo. Mas enquanto Charlie era um derrotado cheio de esperanças, no qual pessoas de todas as idades podiam se refletir, Harold era um jovem modelo de moral rígida e fé inabalável. Em verdade, pétreo e doutrinário demais para ganhar as massas.

Young Pillars, normalmente, é julgado rasamente como uma obra menor de Schulz, justamente por conta do rígido viés religioso. Mas não é bem assim: Harold é um jovem inquieto como Snoopy, pensativo como Linus van Pelt. E sabia muito bem encarar uma briga, como Lucy ou Patty Pimentinha. Navegando pelas tiras, publicadas originalmente entre o primeiro dia de 1956 e 1965, percebem-se as inquietações amorosas, afetivas, morais e culturais dos adolescentes da época, que eram considerados para a sociedade quase como crianças. Um dos cartuns possui um texto emblemático: "Eu anseio pelo dia em que as pessoas dirão a palavra 'adolescente' como se fosse sobre pessoas e não como uma doença".

O conflito de gerações era acentuado na época, por conta das transformações sociais que já foram referidas por aqui. Ainda assim, o trabalho de Schulz era muito respeitado tanto pelos adultos da época como pelos jovens fiéis que tiveram acesso aos cartuns, reimpressos sucessivas vezes. Tanto é que, após toda a superexposição, alguns tinham suas legendas atualizadas, para refletir os novos tempos (por exemplo, em uma tira sobre música jovem, Perry Como dá lugar aos mais populares Beatles, numa reimpressão dos anos 1960).

O braço editorial da igreja, a Gospel Trumpet Company - depois renomeada Warner Press, em homenagem a seu fundador, Daniel Sidney Warner, que nada tem a ver com a grande empresa de comunicação Time Warner - publicou diversas compilações, cronológicas e temáticas, com os cartuns de Schulz, o que apenas popularizou Young Pillars (ou Teen Nuts, como foram certa vez renomeados) entre jovens cristãos dos Estados Unidos. Isso não impediu, no entanto, que uma compilação total desses trabalhos ficasse inédita até 2007, quando da publicação deste Schulz's Youth.

Quadradinho, em edição popular e de bolso (e impresso com um papel bem mais ou menos, certamente para baratear o custo), o livro possui, além de Young Pillars, outros trabalhos menores de Schulz à época, como cartuns para convenções religiosas da Igreja de Deus; a série Two-by-Four (em parceria com Kenneth F. Hall), enfocando crianças em idade pré-escolar adentrando o ambiente religioso; além dos raros cinco cartuns publicados na revista Reach em 1969, quando do retorno de Schulz à Warner Press.

Aliando momentos brilhantes com peças de puro doutrinarismo, esta é uma obra irregular, notadamente em termos ideológicos. Em compensação, o traço de Schulz, recém-definido à época, é brilhante.

A esta altura, ele já tem a beleza que lhe valeu, em 1955 e 1964, o Reuben Award, laurel mais importante do cartunismo norte-americano naqueles tempos.

Por assinar como Charles a maioria desses cartuns (talvez para diferenciá-los de sua obra comercial), não é incorreto afirmar que, mais do que Peanuts, Young Pillars foi sua obra mais pessoal. E é incompreensivelmente inexplorada.

Nesses dez anos da morte de um dos maiores gênios do quadrinho mundial, uma justa homenagem seria termos esta obra, bem como as outras ainda inexploradas (como a pioneira Li'l Folks e It's Only a Game), chegadas ao território nacional.

E não apenas Peanuts, apesar do belo e oportuno trabalho que vem sendo realizado pela L± atualmente.

Afinal, Schulz é um homem de mais faces do que um simples beagle seria capaz de supor.

Classificação:

4,0

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