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Reviews

Sláine – The horned god

17 março 2014

Sláine – The horned godEditora: 2000AD – Edição especial

Autores: Pat Mills (roteiro) e Simon Bisley (arte).

Preço: US$ 25,00

Número de páginas: 208

Data de lançamento: Maio de 2011

Sinopse

Sláine Mac Roth torna-se a única esperança de unificação dos clãs de Tir na nÓg, a Terra dos Jovens, e assim derrotar os lordes drunes chefiados por Slough Fed, seu antigo inimigo.

Para tanto, ele precisa reunir três itens de enorme poder e confrontar o reencontro com seu grande amor, Niahm, agora rainha.

Em sua jornada para se tornar a encarnação de Cernunnos, o “deus galhudo” do título e consorte da deusa-mãe Danu, Sláine contará, como sempre, com a companhia do anão mau caráter e futuro registrador de seus feitos, Ukko.

Positivo/Negativo

Há um pequeno grupo de personagens criados como “clones” ou até cópias descaradas de outros mais famosos, mas que, com o tempo e a habilidade de seus criadores (ou de quem os assumiu após eles), conseguiram evoluir e desenvolver personalidade própria, totalmente distinta das criações nas quais foram espelhados.

Sláine é um desses casos.

Nascido em 1983, nas páginas da revista britânica 2000AD, fruto dos roteiros de Pat Mills e da arte de sua então esposa Ângela Kincaid, foi claramente baseado no Conan de Robert E. Howard, mais precisamente na versão produzida pela Marvel Comics.

O personagem divide com Conan o gênio volátil, o barbarismo e a forte bagagem celta.

Porém, logo o talento de Mills começou a se sobrepor e a tornar o personagem distinto do cimério de bronze. Assim, em um espaço relativamente curto de publicações, Sláine já tinha sua própria voz, seu próprio universo, coadjuvantes, mítica e mitologia.

O ponto alto desse amadurecimento, tanto do criador quanto de sua criatura, veio justamente com o arco de histórias The Horned God reunidas neste volume.

Publicada originalmente entre maio 1989 e setembro de 1990, na revista 2000AD, a trama bebe diretamente em vários elementos da História e de mitologias como a celta e a finlandesa, envolvendo dragões, druidas corruptos, batalhas gigantescas entre clãs irlandeses e invasores, guerreiros berserkers e armas lendárias de imenso poder.

Mills desenvolve um enredo emocionante, fortemente pautado nesses elementos, dando voz a seus personagens e evitando o pastiche de mostrar bárbaros se matando com cabeças decapitadas – embora elas existam nas horas certas –, além de conseguir uma retratação honesta dessas culturas antigas, no que diz respeito a vestimentas e armas, mérito dividido com o artista Simon Bisley.

Até Ukko, o anão cafajeste e alívio cômico, consegue a simpatia do leitor e não atrapalha o fluxo da história, sempre com um ar de tragédia eminente.

Mas o grande mérito de todo o argumento é conseguir apresentar aquela que é considerada por muitos como a história definitiva de Sláine. A exemplo de O que aconteceu com o Homem de Aço?, de Alan Moore, a saga consegue resumir e apresentar para qualquer leitor, novo ou antigo, quem é o protagonista, de onde ele veio, qual a sua relação com o mundo à sua volta e onde se situa seu universo cultural.

Não é de se estranhar que este arco, entre tantos já publicados pela 2000AD, tenha sido sistematicamente selecionado em outros países como carro-chefe de entrada e apresentação do personagem. Aqui mesmo no Brasil, ele começou a ser lançado no final de 2000, pela Pandora Books, e depois ganhou uma edição encadernada.

Já Simon Bisley brilha nas páginas da história do começo ao fim de seus três “livros”. Não à toa, este material foi responsável por abrir-lhe tantas portas no mercado norte-americano de quadrinhos, impulsionando seus trabalhos posteriores em, por exemplo, Batman e Lobo, da DC Comics.

Misturando várias técnicas de pintura, Bisley cria painéis tão perturbadores quanto líricos, assustadores ou oníricos, dependendo das necessidades do roteiro, passando desde cenas de batalhas massivas, com direito a magia negra dos lordes drunes e antigos rituais celtas até as viagens astrais de Sláine ao lado da deusa Danu. Não é pouco dizer que suas páginas em The Horned God merecem realmente o título de “arte”. Qualquer designação diferente seria pejorativa.

Por fim, este é o mais recente encadernado da saga, lançado pela 2000AD em 2011 numa edição simplesmente impecável. Além de ter capa dura com impressão hot stamp em dourado, possui uma segunda capa de papel fosco e miolo em couché brilhante, contando ainda com formato diferenciado (19 x 26 cm), que ajuda ainda mais na apreciação dos magníficos painéis de Simon Bisley.

O álbum ainda apresenta como material extra uma galeria de sketches, algumas capas originais e páginas no melhor estilo “comentário de diretor” em DVD ou Blu-ray, nas quais os autores debatem certas cenas e explicam os elementos ali contidos.

Também vale citar a qualidade da reprodução das cores na impressão: estão precisas. Geralmente, revistas com arte pintada sofrem nas reedições ao longo dos anos, pois os tons originais acabam ficando cada vez mais desbotados – ou “lavados” como se diz no jargão gráfico –, dependendo das matrizes usadas, mas não é o caso aqui.

Este volume único é, até o momento, a edição definitiva de The Horned God que todo interessado deve buscar ter em sua biblioteca, devido ao seu primor e acabamento. É o coroamento justo de um clássico dos quadrinhos modernos.

Se você é novo e deseja conhecer esse fantástico universo, comece por aqui. Se já é um leitor experiente de Sláine, sabe que The Horned God redefine padrões de qualidade e exigência para outras histórias não só do rei celta, mas de outros personagens.

Classificação

5,0

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