Superfolks
Editora: St. Martin's Griffin - Romance
Autor: Robert Mayer.
Preço: US$ 12,95
Número de páginas: 240
Data de lançamento: 1977
Sinopse
Tempos atrás, David Brinkley brilhava sob a identidade de Índigo, o maior super-herói em atividade no planeta. Mas, com o passar do tempo, ele se aposentou, mudou-se para os subúrbios e, hoje, vive em paz com a esposa e alguns quilos extras.
Até que uma ameaça sem precedentes atinge Nova York e pode significar o fim de toda a existência. A única esperança do mundo agora é um Índigo em crise de meia-idade e com os poderes em declínio. Será o bastante para triunfar sobre as forças do mal e salvar o mundo?
Positivo/Negativo
Durante toda a trajetória apreciável dos super-heróis das histórias em quadrinhos, a maior constante foi sempre a mudança. Desde o início, nas páginas de Action Comics # 1, de 1938, esses campeões da justiça passaram de vigilantes com preocupações sociais a metáforas sobre amadurecimento e reflexões sobre as crises políticas que assolavam o planeta, mantendo a atmosfera de escapismo e a passagem para uma realidade em que as forças do bem saem vitoriosas sobre todas as adversidades.
Contudo, os gibis apresentam apenas parte da jornada, pois os heróis se aventuram também nas telas de cinema e televisão, nos jogos eletrônicos e até na boa literatura. Assim, parte integrante da evolução pode ser encontrada em clássicos como os filmes do Superman estrelados por Christopher Reeve, o divertido seriado de Batman com Adam West e sucessos mais recentes como Os Vingadores e Arrow, produções que ajudam a redefinir a importância dos personagens junto ao grande público.
E ainda que sem o mesmo alcance, o romance Superfolks, escrito por Robert Mayer e publicado originalmente em 1977, antecipou muitas das tendências posteriores dos quadrinhos, com um olhar cínico e diferenciado sobre os poderes fantásticos e as roupas coloridas. Hoje, o livro resiste como peça fundamental na evolução do gênero e garante boas risadas, como um verdadeiro clássico a ser celebrado.
Curiosamente, Superfolks ganhou destaque na mídia especializada em tempos recentes, mas por conta das picuinhas entre dois dos mais aclamados roteiristas de quadrinhos em atividade. Em entrevistas, o escocês Grant Morrison acusou o bruxo Alan Moore de ter plagiado o romance em três de suas obras mais cultuadas, os seminais Watchmen e Miracleman, e a aclamada O que aconteceu com o Homem de Aço?, despedida do Superman pré-Crise.
De fato, há significativas semelhanças entre a paródia do plano de supervilões para destruir o herói aposentado e decadente do romance de Mayer e os clássicos de Alan Moore, mas nada prova que ele tenha roubado ideias do livro. Por outro lado, Superfolks angariou reputação entre os grandes escritores de quadrinhos ao longo dos tempos, influenciando nomes como Kurt Busiek e Paul Dini, além do próprio Morrison.
Assim, a acusação de plágio perde força por conta das qualidades evidentes do romance, que é uma viagem alucinada pelos Estados Unidos da década de 1970 e de toda a tradição especial dos super-heróis, com humor ácido e corrosivo. O tom da narrativa é bastante anárquico, e o autor não faz concessões, superando as expectativas do público. Sexo, política e instituições sagradas são alvos da metralhadora giratória de Mayer, e a única certeza nesta experiência é a diversão.
Vale dizer que o romance posiciona em seu contexto o fim da era dos super-heróis tradicionais, citando o destino de nomes como Superman, Batman e Mulher-Maravilha, além da Família Marvel e até do Cavaleiro Solitário e Tonto, numa brincadeira esperta com as convenções do gênero.
Assim, é num mundo em que os confrontos entre as forças do bem e do mal aparentemente foram superados que ocorre a saga do ressurgimento do antes poderoso Índigo, uma realidade em que forças políticas podem ser mais devastadoras que seres extradimensionais e planos de conquista global.
Mas claro que nem tudo é o que parece, e logo o super-herói aposentado deve enfrentar o desafio de sua vida. O escritor brinca com origens e características marcantes do Superman ao compor o universo de Índigo, ele mesmo o último sobrevivente de um planeta distante, adotado na Terra com o papel de salvador da humanidade.
Só que Superfolks vai muito além das referências óbvias, enxergando sob lentes diferenciadas o papel dos vigilantes superdotados na sociedade contemporânea. Eles surgem sempre muito humanos, mas ainda especiais e admiráveis.
A edição mais recente de Superfolks pela St. Martin's Griffin vem com prefácio de Grant Morrison, destacando como o romance apresentou uma visão à frente de seu tempo para os ícones dos gibis, e afirmando que hoje os quadrinhos finalmente o alcançaram.
É verdade que paródias e brincadeiras com o gênero sempre existiram, nas mais diversas mídias, com resultados variados. O diferencial do romance de Robert Mayer, portanto, é seu entendimento único sobre o que faz os super-heróis tão encantadores, com doses elevadas de sarcasmo e uma visão de mundo contundente. Vale a pena investir neste clássico moderno e voar com seu justiceiro de azul rumo a um destino glorioso, enfim.
Classificação