Título: TALVEZ ISSO... (Casa
21) - Edição especial

Autor: Marcelo Campos (roteiro e arte).

Preço: R$ 22,00

Número de páginas: 140

Data de lançamento: Outubro de 2007

Sinopse: Coletânea de tiras seguindo uma linha filosófica e reflexiva.

Positivo/Negativo: Muitos autores quando querem produzir algo pessoal acabam optando por uma autobiografia, ou de toda sua vida ou de alguns recortes dela que considerem interessantes.

Talvez isso... é um trabalho extremamente pessoal de Marcelo Campos, mas está longe de ser uma autobiografia. Quem pega o livro conhecendo apenas seu trabalho como desenhista de super-heróis e do Quebra Queixo e como diretor sua escola (a Quanta Academia de Artes) pode não perceber como essas tiras estão ligadas ao autor.

Contudo, aqueles que o conhecem melhor ou, pelo menos, assistiram recentemente algumas de suas palestras falando sobre a sua vida e o seu trabalho, perceberão como Talvez isso... é um retrato da filosofia de Campos.

E essa filosofia não se refere apenas ao conteúdo das tiras, mas a todo o conceito artístico delas.

Antes de tudo, o livro chama a atenção pelo formato: horizontal e com espaço para apenas uma tira por página. Não há distrações, notas ou várias tiras concorrendo entre si visualmente.

Outra questão é que o álbum não tem prefácio, texto de orelha ou qualquer explicação. Ele vai direto ao que se propõe: mostrar as tiras. E tudo que o leitor precisa saber está ali representado.

A capa, com um forte contraste entre preto e branco mostrando um homem caminhando sozinho no canto deixa claro o quanto o projeto é pessoal. Apesar de causar em alguns a impressão de tristeza, na verdade, sintetiza bem a proposta. É um trabalho muito bem feito, que ocupa de forma diferente o espaço comumente usado para tiras de humor. E como é estritamente pessoal, só poderia ser produzido em momentos reflexivos e introspectivos.

Quanto ao conteúdo, a maioria das tiras mostra a visão de Campos sobre a humanidade, as coisas que somos obrigados a fazer, as mentiras que contamos. Elas mostram a importância de parar, refletir, se encontrar e ser você mesmo.

Em alguns momentos, chega a ser quase tentador tomar aquelas idéias como "pílulas de sabedoria", mas é importante lembrar que não é essa a proposta. Este não é um livro de auto-ajuda em quadrinhos e sua visão pode - e deve - ser diferente da do autor. A questão é justamente esta: saber apreciar o enfoque que o autor dá para a vida e a forma artística que ele usa para representar isso.

Em algumas tiras, até Deus é personagem. Vários artistas trabalharam com a figura divina, inclusive em tiras, mas Campos deu seu toque pessoal ao mostrar um Deus um tanto blasé e entediado com a incapacidade da sua criação em se compreender.

Para finalizar, o desenho é genial. O traço de Campos atingiu uma grande simplicidade, com uma estilização na medida certa, visual limpo, econômico e altamente representativo.

Certamente, este não é um álbum comum de tiras. Não espere humor nem entender tudo, mas leia e releia várias vezes, pois ele parece ficar cada vez melhor.