TEX - TRA DUE BANDIERE
Autores: Gian Luigi Bonelli (roteiro) e Aurelio Galleppini (desenhos).
Preço: 38.000 Liras (preço da época)
Número de páginas: 336
Data de lançamento: Setembro de 1996
Sinopse: Ao chegar a Abilene, Tex Willer - acompanhado de Kit Carson e Kit Willer - reencontra seu velho parceiro "Damned" Dick. Durante a conversa, os dois se lembram de seu antigo amigo Rod e de uma aventura ocorrida anos antes, no auge da Guerra da Secessão dos Estados Unidos, e de como tais fatos marcaram para sempre suas vidas.
Positivo/Negativo: Publicada originalmente na Itália entre as edições # 113 e # 115 da revista Tex, em 1970, esta edição reúne a mais clássica equipe criativa dos fumetti: G.L. Bonelli e Galep, os criadores do mais famoso ranger dos quadrinhos. Os fãs do personagem são quase categóricos em afirmar que tanto roteirista quanto desenhista estavam nos momentos culminantes de suas carreiras.
Galleppini, um dos grandes mestres mundiais do traço, era um autodidata: largou o Instituto Industrial da Sardenha no segundo ano para se dedicar à ilustração. Começou a publicar na Alemanha em 1936, mas logo o mercado italiano o descobriu e, até chegar aos fumetti, foram dois anos de aprendizado, com estréia pela Mondadori.
A parceria com Bonelli só seria efetivada dez anos mais tarde, na Editora Audace, quando o já experiente roteirista traria à luz o personagem que pôde escrever continuamente até meados dos anos 1980.
Há duas fases distintas de histórias na vida de Tex: quando jovem, em meio à Guerra Civil Americana, e já mais maduro, quase ao fim do século 19. Mas, algumas vezes, essas épocas se tocam por algum hábil artifício nas tramas desenvolvidas por Bonelli.
No caso, o nortista Dick é quem faz a ponte para o leitor imergir nos problemas de uma guerra que não era apenas pela independência de 11 estados confederados, mas também uma batalha que envolveu ideologias e a defesa de meios de vida conflitantes.
O roteirista, pesquisador dos eventos centenários ocorridos no oeste americano, dá veracidade às suas tramas ambientando seus personagens em vários dos principais eventos que por lá aconteceram. Tex, em determinado momento, dá a dica de que a aventura que está narrando aconteceu no início do conflito entre a União e os Estados Confederados, provavelmente no final do ano de 1861.
Neste ano, o país começava a se dividir, graças à eleição do primeiro presidente republicano da história, Abraham Lincoln. Cinco meses depois, a guerra eclodiu após o ataque das forças confederadas (vindas de estados escravocratas, como Texas, Alabama, Florida, Geórgia e Mississipi) ao Forte Sumter, na Carolina do Sul.
Como se nota durante a leitura, a famosa Batalha de Shiloh Church, ocorrida em abril de 1862, é o que movimenta toda a história. E chega a um crescendo violento e extremamente bem-pavimentado, a ponto de se acreditar que o desfecho se torna, a cada página, inevitável.
Há uma das marcas do ranger: a defesa da justiça, no caso representada por um oficial da lei de um estado da Confederação que passa a apoiar os ideais supostamente inimigos da União. Claro, existem motivos para que Tex Willer tenha tomado essa postura. Diversos deles (e provavelmente as origens de sua decisão) são apresentados em Tra due bandiere, que pode significar tanto literalmente "entre duas bandeiras" (das duas frentes que travaram a guerra) como "entre dois pavilhões" (e a palavra pavilhão aí entendida como símbolo ou ideal de uma nacionalidade).
É uma aventura significante demais para Tex, pois Bonelli cria um libelo contra o conflito travado pelos Estados Unidos - e a publicação original da história se deu na época da Guerra do Vietnã.
Para isso, o autor utiliza habilmente a cadeia crescente de eventos de um ódio movido por ideais que já estavam impregnados na mente dos norte-americanos: o chamado Destino Manifesto, segundo o qual o destino americano era a conquista de todo o continente, inclusive a América do Sul, pelos habitantes dos Estados Unidos.
Numa fase em que o faroeste entrava em declínio e diretores como Sérgio Leone abandonavam o gênero, considerado esgotado, Bonelli e Galep se dispuseram a demonstrar que o gênero ainda tinha muitas e boas aventuras para serem contadas.
Isso apesar de os italianos começarem a se interessar, na mesma época, pelas peripécias bem-humoradas contadas por outra dupla monstruosa dos fumetti, Max Bunker e Magnus, com seu agente-nem-tão-secreto Alan Ford (hoje estranhamente desconhecido no Brasil, mesmo a Vecchi tendo lançado algumas de suas edições por aqui), que ainda é publicado com sucesso na Itália e em diversos países europeus.
Voltando a Tex, muitas pessoas, sem nunca terem lido sequer um episódio, se afastam dos seus quadrinhos por considerá-los "chatos, velhos, parados, antiquados, anacrônicos" e um sem-número de adjetivos que não fazem jus à qualidade e à longevidade do personagem. Nem ao fato de ele, praticamente sozinho, ter consolidado não só uma indústria de entretenimento, mas também definido suas formas, padrões e reconhecimento.
Além das mais de 300 páginas de história , esta edição, a nona da série cartonada de especiais colecionáveis de Tex na Itália, traz biografias dos autores, uma introdução assinada por Sergio Bonelli e um belo ensaio sobre o conflito entre sulistas e nortistas, escrito e desenhado por Gino D'Antonio (conhecido dos leitores brasileiros por Bella & Bronco, publicado brevemente no país pela Editora Globo, nos anos 90). Tex - Tra due bandiere, enfim, é um álbum digno de qualquer coleção de quadrinhos que se preze.
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