Barry Allen foi o segundo personagem a adotar a identidade de Flash, e deu início a Era de Prata dos quadrinhos, quando surgiu, na década de 1960. Mas foi após sua morte, no épico Crise nas Infinitas Terras, décadas depois, que foi alçado ao posto de mártir do Universo DC.

Ele foi substituído pelo sobrinho Wally West, o ex-parceiro adolescente Kid Flash, que honrou seu legado e conquistou uma nova geração de fãs. Mas o campeão tombado continuou a brilhar em histórias sobre seu passado, dentre as quais se destacaram as minisséries Liga da Justiça - Ano Um, De volta à Era de Prata e a graphic novel em capa dura The life story of the Flash.

Essa colaboração entre os roteiristas peritos no corredor escarlate Mark Waid e Brian Augustyn é uma das mais belas e contundentes histórias já narradas sobre o super-herói, mostrando desde a infância do personagem até a vida de seus herdeiros num futuro distante. Mesclando quadrinhos convencionais e prosa literária, o álbum representa o texto biográfico produzido por Íris West, viúva de Barry, e publicado mil anos depois de sua morte.

Vale dizer que a iniciativa teve suas raízes plantadas na fase da revista mensal do Flash assinada pelo próprio Waid, em que ele trouxe Íris de volta do futuro e, com ela, um exemplar de The life story of the Flash. Assim, os autores dão forma a um livro que realmente existia na cronologia do universo ficcional da DC Comics, enquanto exploram detalhes marcantes da existência do herói.

E o trabalho é primoroso! A começar pelo apreço de Barry Allen pelos super-heróis das revistas em quadrinhos e por ciência, duas paixões que moldariam seu destino. Quando ele finalmente é atingido por um raio e desenvolve superpoderes, já conquistou a simpatia do leitor, tamanho o poder da narrativa.

Contudo, mais que a trama de origem de um herói clássico, a obra traz uma verdadeira história de amor que superou todos os desafios.

A paixão entre Barry Allen e Íris West rende os melhores momentos da trama. Desde o dia em que se conheceram até o casamento e além, passando pela ameaça do Professor Zoom e o julgamento público do herói, a equipe criativa apresenta cenas marcantes de puro sentimento, explorando o valor de alguém especial para dividir uma existência extraordinária.

Também ganha espaço a tradicional Galeria de Vilões, um time de malfeitores que sempre deu muito trabalho ao Flash, composto por Capitão Frio, Abrakadabra e Trapaceiro, dentre outros. Verdade que, na época, eles ainda não eram a ameaça mortal de tempos posteriores, mas davam um charme extra às aventuras do velocista.

E o jovem Wally West, que Waid escreveu durante anos como uma espécie de alter ego, surge representando as aspirações do público: o fã que realiza seu maior sonho.

Na arte, Gil Kane e Joe Staton apresentam um traço limpo e emotivo, com jeito de quadrinho clássico. A combinação perfeita para o texto inspirado de Waid e Augustyn.

Em 2008, Barry Allen voltou à vida durante os eventos da saga Crise final, de Grant Morrison, e passou a estrelar uma série mensal própria pelas mãos de Geoff Johns. Ele prossegue como o Flash do Universo DC após o reboot da editora, que desconsiderou todo passado heroico do personagem.

Novos leitores terão a oportunidade de crescer acompanhando suas aventuras, tanto individuais como ao lado da Liga da Justiça. Mas para boa parte dos fãs - que inclui o roteirista Mark Waid - Barry significou mais enquanto inspirava um legado de glórias após a morte.

Para todos os gostos, enfim, esta narrativa biográfica inédita no Brasil é um testemunho de amor e coragem que merece ser apreciado. Fato Flash!