Nunca se pode imaginar de onde sairão ideias para boas histórias em quadrinhos. E The Li´l Depressed Boy apareceu pela primeira vez em desenhos de uma tirinha que o autor S. Steven Struble produziu com o intento de convidar uma garota para sair, via e-mail.

Ela recusou o convite, mas o personagem acabou rendendo uma série em quadrinhos bem interessante, publicada inicialmente na internet, depois como revista mensal pela Image e que ganhou seu primeiro encadernado reunindo quatro edições do título.

Escapando dos temas convencionais que dominam o mercado e investindo numa trama sobre relacionamentos com um adorável protagonista, The Li´l Depressed Boy é ideal para quem deseja sair da rotina e experimentar novidades.

A premissa da série está longe de ser um primor de originalidade, pois é marcada pelo típico boy-meets-girl, o garoto-encontra-garota que serve de combustível para a maioria das comédias românticas em diversas mídias.

Contudo, a fluência narrativa de Struble e Sina Grave, associados ao frescor como os dois tratam fatos do cotidiano, mais que compensa isso. O Li´l Depressed Boy do título, conhecido pelos (poucos) amigos como LDB, é um jovem que vive trancado em seu apartamento em meio a livros, quadrinhos, música e jogos eletrônicos, sem muita perspectiva de vida.

E claro que uma mulher vai surgir para virar seu mundo de cabeça para baixo. Com visual punk, o alvo da paixão de LDB surge já na quinta página, falando sobre como sente falta de jogar videogames na presença física de outras pessoas, afastadas hoje pela internet. Mas ela não será o que parece.

O roteiro não perde tempo com enrolação. As situações se sucedem em ritmo frenético, bem diferente do que poderia indicar o título. O "herói" pode até ser um garoto depressivo, mas sua aventura é divertidíssima e muito cativante. O LDB apaixonado passa a viver as cenas mais improváveis ao lado de sua musa, e até a simples tarefa de descobrir o nome dela vira um desafio.

Ilustrado sempre na forma de um boneco de pano ambulante, o problemático personagem se destaca por qualidades únicas, maneirismos e idiossincrasias. As reações dele a ambientes como uma festa ou loja de roupas logo se sobrepõem a seu caráter introspectivo. E os diálogos são bem espertos, passando pela moda dos zumbis e o calçado de um jogo de boliche.

Quando The Li´l Depressed Boy começou a ser publicado online, contou com ilustradores diversos, até que Sina Grace assumiu a função de desenhista oficial da série, com um tom cartunesco e eficiente.

Mas, além do visual do protagonista, todo o universo à sua volta é bem realista, reforçando o senso de alienação e como uma paixão muda tudo. As sequências envolvendo mortos-vivos imaginários comprovam a versatilidade de Grace.

O encadernado tem sketches e pin-ups, incluindo um divertido desenho no estilo do sucesso Scott Pillgrim, e uma página para recortar e montar.

Dialogando honestamente com o leitor, esta é uma história em quadrinhos que celebra bem a magia de se apaixonar. Impossível não terminar a leitura com um sorriso no rosto. Que venham os próximos volumes!