Confins do Universo 219 - Histórias de Editor # 7: É o Lobo! É o Lobo!
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THE MIRROR OF LOVE

1 dezembro 2008


Autores: Alan Moore (texto) e José Villarrubia (arte).

Preço: US$ 24,95

Número de páginas: 132

Data de lançamento: Fevereiro de 2004

Sinopse: Nos versos de Alan Moore, a história da homossexualidade - da Idade das Pedras até os três dias de combate em Stonewall - se transforma em um poema sobre a luta pelo direito de amar.

Positivo/Negativo: O melhor poema deste volume de The mirror of love não é o de Alan Moore. O quadrinhista inglês até se esforça para merecer o título de bardo, mas a competição é ferrenha. Afinal, um dos apêndices do volume reúne os poemas citados em seus versos. Entre eles, estão medalhões como Safo, Walt Whitman e Emily Dickinson. Moore nem dá pro gasto.

THE MIRROR OF LOVEMas
todas essas citações são, ao mesmo tempo, o ponto forte do poema The
mirror of love
. Isso porque, na condição de poema, o livro beira o
ingênuo. Não tem grandes construções de imagens elaboradas e a versificação
livre soa muitas vezes apenas como boa prosa.

A força do texto está justamente na engenhosa colagem de citações, referências e tramas. O resultado impressiona pela simplicidade com que trata de um tema tão complexo: em algumas poucas dezenas de estrofes, Moore conta toda a história cultural do homossexualismo, fala de vários personagens e, de quebra, ainda finca pé na idéia de que a humanidade teve a liberdade de amar tolhida pelo processo civilizatório.

Segundo a obra, o fim do matriarcado da pré-História deu cabo, por milhares de ano, da possibilidade de se fazer sexo com quem quer que seja.

THE MIRROR OF LOVEO
autor prova, citando o código babilônio de Urukagina, o primeiro código
legal de que se tem notícia: já nele a monogamia para as mulheres estava
prevista como crime - e com pena de morte.

Já o Levítico e o Êxodo, dois dos cinco livros da Torá (incorporados mais tarde à Bíblia cristã), fazem suas restrições ao homossexualismo.

Moore vai elencando, em ordem cronológica, até os dias atuais - e conduz à fé em um futuro utópico, em que o amor livre será retomado, para que o narrador possa amar seu parceiro.

Olhando hoje, a utopia parece mais perto de se tornar verdadeira. Mas, na época em que foi o poema escrito, a tendência era outra. O governo inglês tinha instituído a Cláusula 28, que aumentava as restrições para os gays. The mirror of love, que teve uma primeira edição com arte de Steve Bissette e Rick Veitch (parceiros de Moore em Monstro do Pântano), foi peça de resistência. Teve, portanto, um papel político.

THE MIRROR OF LOVEDiante
de um petardo como Lost
Girls
, editado pela mesma Top Shelf, The mirror of love
é um livro muito, muito menor.

Alice, Dorothy e Wendy exercem na prática (mesmo que seja fantasiosa, delirante até) o que The mirror of love ainda tenta defender.

Mas, por si só, o poema é um manifesto importante - e até um ponto de partida para uma releitura da graphic novel. Não por acaso, a matéria-prima de ambos é a intertextualidade (ou seja: a interseção de outras obras na criação, a fim de gerar uma completamente nova). Nesse sentido, The mirror of love, escrito em 1988, se configura como um ensaio para o que Moore viria a desenvolver mais tarde.

Mesmo sendo ensaio, apesar de ser menor, a edição da Top Shelf é excepcional.

THE MIRROR OF LOVEO
poema é acompanhado de fotografias do quadrinhista José Villarrubia, conhecido
especialmente por seu trabalho como colorista no mercado norte-americano
(inclusive em Promethea, título escrito por Moore), mas que foi
responsável por encenar uma versão dramatizada de The mirror of love
há alguns anos.

Suas imagens tentam seguir a simplicidade do texto. Às vezes, se aproximam perigosamente da fronteira com o brega - como a imagem do túmulo de Oscar Wilde, ponto turístico do cemitério parisiense de Père-Lachaise.

Em outras, contudo, surpreendem pelo poder de síntese, pela abstração e pela capacidade de criação - como a releitura do quadro A bigger splash, do artista inglês David Hockney, visto por outro ângulo.

O livro ainda tem capa dura envolta em tecido, sobrecapa com impressão em dourado e reserva de verniz, lista de referências, prefácio do escritor Robert Rodi e introdução de David Drake.

O trabalho zeloso é, por sinal, uma marca para a editora de Chris Starros: na Top Shelf, até uma obra menor, mesmo difícil de ser comercializada, merece cuidado.

Classificação:

4,0

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