THE MIRROR OF LOVE
Autores: Alan Moore (texto) e José Villarrubia (arte).
Preço: US$ 24,95
Número de páginas: 132
Data de lançamento: Fevereiro de 2004
Sinopse: Nos versos de Alan Moore, a história da homossexualidade - da Idade das Pedras até os três dias de combate em Stonewall - se transforma em um poema sobre a luta pelo direito de amar.
Positivo/Negativo: O melhor poema deste volume de The mirror of love não é o de Alan Moore. O quadrinhista inglês até se esforça para merecer o título de bardo, mas a competição é ferrenha. Afinal, um dos apêndices do volume reúne os poemas citados em seus versos. Entre eles, estão medalhões como Safo, Walt Whitman e Emily Dickinson. Moore nem dá pro gasto.
Mas
todas essas citações são, ao mesmo tempo, o ponto forte do poema The
mirror of love. Isso porque, na condição de poema, o livro beira o
ingênuo. Não tem grandes construções de imagens elaboradas e a versificação
livre soa muitas vezes apenas como boa prosa.
A força do texto está justamente na engenhosa colagem de citações, referências e tramas. O resultado impressiona pela simplicidade com que trata de um tema tão complexo: em algumas poucas dezenas de estrofes, Moore conta toda a história cultural do homossexualismo, fala de vários personagens e, de quebra, ainda finca pé na idéia de que a humanidade teve a liberdade de amar tolhida pelo processo civilizatório.
Segundo a obra, o fim do matriarcado da pré-História deu cabo, por milhares de ano, da possibilidade de se fazer sexo com quem quer que seja.
O
autor prova, citando o código babilônio de Urukagina, o primeiro código
legal de que se tem notícia: já nele a monogamia para as mulheres estava
prevista como crime - e com pena de morte.
Já o Levítico e o Êxodo, dois dos cinco livros da Torá (incorporados mais tarde à Bíblia cristã), fazem suas restrições ao homossexualismo.
Moore vai elencando, em ordem cronológica, até os dias atuais - e conduz à fé em um futuro utópico, em que o amor livre será retomado, para que o narrador possa amar seu parceiro.
Olhando hoje, a utopia parece mais perto de se tornar verdadeira. Mas, na época em que foi o poema escrito, a tendência era outra. O governo inglês tinha instituído a Cláusula 28, que aumentava as restrições para os gays. The mirror of love, que teve uma primeira edição com arte de Steve Bissette e Rick Veitch (parceiros de Moore em Monstro do Pântano), foi peça de resistência. Teve, portanto, um papel político.
Diante
de um petardo como Lost
Girls, editado pela mesma Top Shelf, The mirror of love
é um livro muito, muito menor.
Alice, Dorothy e Wendy exercem na prática (mesmo que seja fantasiosa, delirante até) o que The mirror of love ainda tenta defender.
Mas, por si só, o poema é um manifesto importante - e até um ponto de partida para uma releitura da graphic novel. Não por acaso, a matéria-prima de ambos é a intertextualidade (ou seja: a interseção de outras obras na criação, a fim de gerar uma completamente nova). Nesse sentido, The mirror of love, escrito em 1988, se configura como um ensaio para o que Moore viria a desenvolver mais tarde.
Mesmo sendo ensaio, apesar de ser menor, a edição da Top Shelf é excepcional.
O
poema é acompanhado de fotografias do quadrinhista José Villarrubia, conhecido
especialmente por seu trabalho como colorista no mercado norte-americano
(inclusive em Promethea, título escrito por Moore), mas que foi
responsável por encenar uma versão dramatizada de The mirror of love
há alguns anos.
Suas imagens tentam seguir a simplicidade do texto. Às vezes, se aproximam perigosamente da fronteira com o brega - como a imagem do túmulo de Oscar Wilde, ponto turístico do cemitério parisiense de Père-Lachaise.
Em outras, contudo, surpreendem pelo poder de síntese, pela abstração e pela capacidade de criação - como a releitura do quadro A bigger splash, do artista inglês David Hockney, visto por outro ângulo.
O livro ainda tem capa dura envolta em tecido, sobrecapa com impressão em dourado e reserva de verniz, lista de referências, prefácio do escritor Robert Rodi e introdução de David Drake.
O trabalho zeloso é, por sinal, uma marca para a editora de Chris Starros: na Top Shelf, até uma obra menor, mesmo difícil de ser comercializada, merece cuidado.
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