Nightly News foi o primeiro trabalho publicado de Jonathan Hickman. Mas não espere por nada simplório. Esta é uma história de vingança no mundo da informação 2.0, contada segundo esses padrões.

Quando foi lançado, esta obra gerou diversas comparações entre Hickman e Brian Wood, criador de DMZ (no Brasil, ZDM - Terra de Ninguém). Os trabalhos dos dois têm grandes relações, principalmente nas questões políticas e sociais.

Ambos procuram colocar o dedo na ferida dos dilemas do mundo atual. Como alguém que grita do alto de um edifício, eles convocam as pessoas a ver a verdade e tomar uma atitude.

Nesta história, o alvo principal são os jornalistas. Na verdade, a mídia como um todo. Hickman mostra um mundo onde a imprensa não está comprometida com valores éticos ou o compromisso com a verdade. O importante é a audiência, o sensacionalismo e preservar os interesses políticos dos grandes grupos. Não muito diferente da realidade.

A busca pelo furo de reportagem e pela audiência já levou muitos veículos a publicarem notícias erradas e não refletirem sobre as consequências éticas de suas ações. Atualmente, não faltam exemplos disso. Do caso escola-base, em 1994, ao recente assassinato da adolescente Heloá Pimentel, a cobertura da mídia é um show de falhas.

Hickman critica essa imprensa, que não pensa duas vezes em arruinar a vida de uma pessoa. O resultado é um álbum repleto de violência e teorias conspiratórias.

O enredo é muito bem construído. A história avança aos poucos, com vários detalhes e letra miúdas. Este não é um álbum para se ler as pressas. Hickman vai revelando os jogadores de ambos os lados (terroristas x imprensa), estabelecendo os diferentes elementos da trama, para culminar num desfecho sangrento e revelador.

A relação dos terroristas com o leitor é um paradoxo fundamental da trama. Afinal, os métodos usados para realizar a vingança são dignos de cultos e seitas, mas seus motivos podem a ser considerados válidos. Pode-se admirar e se relacionar com a raiva sobre a corrupção do quarto poder, mas o fanatismo e o extremismo são perturbadores.

A arte é um diferencial único. O autor criou um visual que mistura referências fotográficas, design gráfico, infográficos e clip art que destaca a história do marasmo de outras publicações. Uma ressalva é a fonte utilizada, que em certos momentos fica pequena demais dificultando a leitura.

A influência do design na arte lembra o recém-publicado no Brasil Jimmy Corrigan. Embora cada um tenha buscado referências diferentes, os dois trabalhos mostram uma tendência no uso de técnicas tradicionais do design gráfico para se contar uma história.

Em Nightly News, um dos elementos mais interessante são os boxes explicativos. Não é preciso a sua leitura para apreciar a história, mas as informações neles - devidamente pesquisadas e revisadas - enriquecem a leitura tornando esse conto de vingança o mais próximo possível do leitor.