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THE OTHER SIDE

1 dezembro 2011

THE OTHER SIDE

Editora: DC Comics/Vertigo - Edição especial

Autores: Jason Aaron (roteiro) e Cameron Stewart (desenhos e capa) - Originalmente publicado em The Other Side # 1 a # 5, em 2006-2007.

Preço: US$ 12,99

Número de páginas: 144

Data de lançamento: Janeiro de 2007

 

Sinopse

Ao final dos anos 1960, a nação em guerra do Vietnã do Norte atravessa um momento culminante contra seus inimigos sulistas e os exércitos estrangeiros aliados.

Em lados opostos do conflito, dois soldados são testados ao limite da racionalidade quando adentram uma realidade caótica e violenta: o jovem norte-americano Bill Everette, recrutado contra a sua vontade, e o agricultor vietnamita Vo Binh Dai, que se alistou voluntariamente para cumprir sua honrosa missão patriótica.

A rotina de ambos culminará em um exame pessoal sobre a guerra que marcou duas nações de maneira profunda.

Positivo/Negativo

Exorcizar seus piores tormentos históricos é algo que os norte-americanos sabem fazer muito bem, quando assim desejam. De forma contínua, relembram e reinterpretam certos acontecimentos do próprio passado que, não raro, acabam tornando-se parte da cultura ianque.

Os anos 1960 e 1970 foram palco de (mais) um desses clássicos momentos socioculturais que ocasionam uma gama de oportunidades exploráveis para os veículos midiáticos do entretenimento: a famosa Guerra do Vietnã, a batalha jamais vencida e que deixou profundas feridas no inconsciente e na moral norte-americana que, até hoje, nunca cicatrizaram. Não da maneira como queriam, como protestaram e como testemunharam.

Uma guerra que, para esquecer, procuram insistentemente lembrar-se.

Questões políticas e sociais à parte, o fato é que o conflito no país oriental gerou incontáveis lendas e fantásticas tramas ficcionais. Como não poderia ser diferente, as histórias em quadrinhos foram um dos expoentes neste sentido.

Várias são as séries com essa temática, como The 'Nam (O conflito do Vietnã, no Brasil), O último dia no Vietnã (álbum de Will Eisner), Guerillas, Bomb Road - T1: Da Nang (material europeu), Dong Xoai - Vietnam 1965 (de Joe Kubert), '68, Justiceiro - Nascido para matar e tantos outros contos que trouxeram suas próprias visões sobre a luta no front vietnamita. Uns com temática mais fantástica, outros mais realistas, e alguns até mesmo de cunho pessoal sobre o conflito.

The Other Side não é diferente. É, aliás, traz tudo isso em conjunto.

Graças à contemporânea objetividade advinda do distanciamento histórico daqueles conturbados anos, é possível analisar a multifacetada guerra de maneira a criar um conto de estilo heterogêneo: humor, ação, honra, compromisso, violência, companheirismo e crítica social caminham lado a lado.

Esse mix de gêneros dá a tônica da narrativa, fazendo o leitor imergir em mais uma ótima HQ com temática beligerante.

Abraçada pela crítica estrangeira e tendo concorrido ao Prêmio Eisner em 2007, na categoria de melhor minissérie, a história centra-se em dois personagens social, política e culturalmente díspares, desde suas convocações às respectivas infantarias até o momento em que iniciam, de fato, suas participações no conflito.

Em narrativas paralelas, o leitor acompanha a dura rotina militar do praça norte-americano Bill Everette - o típico recruta "bucha de canhão", amedrontado e completamente inexperiente - num local inóspito e inserido em um ambiente extremamente pessimista quanto às suas chances na guerra.

Para piorar sua já temerosa situação, o personagem ainda sofre de alucinações febris na forma de fantasmas de soldados mortos, advindas da pressão decorrente da desgastante rotina diária de treinamentos, ordens e da iminência da morte.

Esses "espectros", ao lado do típico instrutor veterano casca-grossa, garantem uma dosagem surrealista e cômica à trama, principalmente nos primeiros capítulos eivados de corrosivo humor negro.

Do outro lado está o fazendeiro Vo Binh Dai. Descendente de soldados, fora educado desde cedo para lutar pelos valores morais e éticos conforme as crenças difundidas por sua pátria, ostentando, orgulhoso, um brio irrefreável para o combate, em defesa de sua nação comunista.

Diferentemente do seu inimigo "imperialista", o vietnamita reflete cada passo da sua exaustiva jornada em monólogos registrados no seu diário particular.

Um pouco da crença do Darma - doutrina moral e espiritual dos ensinamentos filosóficos budistas, que ampara os atos humanos por meio da observância de virtudes e condutas sociais éticas, gerando proteção e bem-estar, desde que norteados pelo desenvolvimento da paz e da felicidade interior - é colocados em xeque ante a situação em que ele e seus amigos se encontram.

Frente à necessidade de adaptar tais ensinamentos à luta armada e correndo o risco de desvirtuá-los para um caminho desonroso, mesmo quando lhe fosse física e psicologicamente benéfico, o soldado segue firme na sua disciplina. Desta maneira, traça um perfil obstinado e crédulo quanto às suas motivações em combate, ainda que isso custe sua própria morte.

Apesar de separados durante quase toda a história, os protagonistas somente se esbarram no final, quando suas trajetórias convergem em uma desesperada investida do exército norte-vietnamita às trincheiras inimigas.

É justamente quando o título da história traz seu real sentido, pois esse encontro trará consequências inimagináveis para um deles: um choque cultural efêmero e transformador que, muitas vezes, somente a guerra é capaz de fazer acontecer - tanto no mundo ficcional quanto no real.

Para realçar o caráter realista a que se propõe em muitas partes da trama, principalmente nos cenários, o artista Cameron Stewart viajou ao Vietnã para elaborar uma rica pesquisa visual, inserindo no papel uma gama de cenários verdejantes, templos em ruínas e vilas interioranas destruídas.

Seus desenhos representam tais cenas como se mostraram à sua observação, aliando certa poesia imprescindível nos momentos vividos por Vo Binh Dai. A caracterização do ambiente cotidiano dos soldados, em ambos os lados, é incrivelmente verossímil, tendo, com certeza, embasamento em pesquisas elaboradas nos arquivos e fotos da época.

O artista chegou a criar uma espécie de diário sobre sua viagem, recheado com fotografias e anotações da minuciosa pesquisa realizada, sendo um dos extras desta edição encadernada. Além disso, layouts, páginas cortadas e capas alternativas preenchem cerca de 20 páginas de material adicional.

Com méritos indiscutíveis, esta é uma história que faz por merecer sua chance aos leitores brasileiros, seja no título mensal Vertigo ou em algum encadernado separado. Seria um excelente lançamento em nossas bancas e livrarias, pois agradaria a todos os gêneros e gostos.

Classificação:

4,0

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