Em 2004, o maior anti-herói da Marvel ganhou uma nova adaptação para os cinemas, de produção encorpada e sem grandes méritos, com Thomas Jane encarnando o Justiceiro e tendo ninguém menos que John Travolta como vilão da vez.

Posto que o filme não tenha conseguido muitas críticas positivas nas telonas, seu lançamento para o mercado de vídeo melhorou sobremaneira as estatísticas. Lá fora, a edição em DVD veio com um interessante bônus: um minigibi exclusivo, trazendo um prelúdio para a história filmada.

Apesar de o filme ser totalmente independente de explicações anteriores para seu perfeito entendimento, não seria errôneo afirmar que, com esse enredo prefacial, a trama que originou o longa-metragem ganha uma maior consistência.

E para melhor.

É apresentando o passado de Castle a serviço do exército dos Estados Unidos, suas operações arriscadas no Oriente Médio e missões perfeitamente executadas por um verdadeiro soldado de guerra expert em táticas de guerrilha, como fora detalhado no filme.

A cada objetivo concluído, o personagem questiona internamente se o que vem fazendo é o certo, se sua luta está alinhada com seus valores morais. Decepcionado com o que vê, começa a aflorar seu lado justiceiro.

Sua mudança para agente federal não muda isso. Pelo contrário: piora. Os seus disfarces para flagrar negociatas com drogas e armas deixam isso bastante claro.

A linha tênue que separa a lei da justiça natural insinua-se gradativamente, mesmo nos momentos de tranquilidade passados com sua família ou nas conversas com seu pai, veterano de guerra.

Vários pontos do longa-metragem são citados, antecipando ao leitor personagens e características que serão vistas em carne e osso. O argumento de Ennis trabalha muito bem cada um desses aspectos, tendo o cuidado necessário para evitar contradições.

No traço de Steve Dillon, nada de diferente do que estar acostumado a fazer nas outras centenas de histórias do Justiceiro que já desenhou.

Há só uma diferença lógica, mas não menos curiosa: o rosto do futuro anti-herói. Uma ou outra tomada lembra algo das feições de Thomas Jane, mas é o máximo. Quem está acostumado a ver seu Frank Castle sempre com a cara amarrada, boca crispada e cabelo penteado pra trás, vai se surpreender com a versatilidade que o artista empresta ao personagem aqui.

Não se poderia esperar menos da equipe criativa deste especial. Ennis, Dillon, Palmiotti e o capista Tim Bradstreet - responsáveis diretos pela aclamada Justiceiro - Bem-vindo de volta, Frank e várias outras histórias do selo Marvel Knights - terminaram por criar um ótimo ponto de partida para o filme, oferecendo ao leitor uma chance de conhecer o passado do personagem nesta versão cinematográfica.

Uma pena que, no sempre criticado mercado brasileiro de vídeo, não houve nem sombra de algo assim chegando às lojas especializadas.