Não há dúvidas de que The Walking Dead é uma das séries em quadrinhos mais badaladas da atualidade. O título da Image Comics (aqui publicado pela HQM) cresce cada vez mais em popularidade e, beirando as 100 edições, é um dos maiores fenômenos fora do eixo Marvel/DC, alçando o roteirista Robert Kirkman ao status de superstar e conquistando um universo ainda maior de fãs por meio do seriado televisivo que o canal pago Fox exibe no Brasil.

E este universo cresceu ainda mais agora, com o primeiro romance original, que expande a saga dos quadrinhos e foi publicado pelo selo Galera Record. The Walking Dead - A ascensão do Governador reúne o criador da franquia, Robert Kirkman, com o perito em histórias de horror Jay Bonansinga, para expor a origem daquele que se sagrou o vilão mais cruel e popular da série.

O resultado é uma história em que tensão e perigo transbordam a cada página, com todos os ingredientes necessários para agradar os fãs mais devotados da obra original.

Tomando como ponto de partida uma ideia comum, já bem explorada em meios como o cinema e a literatura, Kirkman criou um épico moderno que ganha força pelos personagens bem construídos, situações imprevisíveis e dilemas éticos e morais diante da adversidade. The Walking Dead é uma das melhores histórias de zumbis já narradas justamente pelo lado humano acentuado, e por mostrar a degradação do homem numa sociedade em declínio.

O romance de Kirkman e Bonansinga segue essa mesma linha de sucesso, provando que não há limites para a criatividade e o talento. A ascensão do Governador mantém o clima dos quadrinhos, enquanto explora bem o potencial da literatura, oferecendo uma visão diferente sobre a jornada desses mortos-vivos. E o fato de apresentar novos personagens só contribui para o frescor da narrativa.

A história é centrada na família Blake, com o líder Philip, sua filha pequena Penny e o irmão Brian que, ao lado de dois amigos, cruzam cidades norte-americanas e enfrentam maníacos sanguinários numa terra devastada.

Os personagens centrais são muito bem construídos, seguindo a tradição de The Walking Dead nos quadrinhos e na TV, e não é difícil para o leitor desenvolver empatia e se importar com o destino deles.

As situações envolvendo zumbis são carregadas de emoção e, embora já não tenham mais o efeito de novidade, ainda impressionam. Kirkman, afinal, criou todo um universo de possibilidades para boas histórias, e elas mantêm o vigor.

Há aqui as reações iniciais à praga dos zumbis, a luta por sobrevivência, as diferentes interpretações sobre a tragédia e formas de reorganização social diante do declínio da civilização. Mas é evidente que o interesse maior recai no elemento já presente no título da obra, a exploração da origem do perverso Governador.

Quando se começa a acompanhar as desventuras dos Blake, fica difícil imaginar que um deles terá a alma consumida pela maldade até o ponto que se viu nos quadrinhos. Contudo, conforme a narrativa se desenrola, e os efeitos deste mundo amaldiçoado se fazem notar, a transformação psicológica desses personagens começa a fazer sentido.

Como tantas prequels de histórias consagradas que se prestam a mostrar a origem de um vilão, The Walking Dead - A ascensão do Governador explora um território inóspito da natureza humana.

Mesmo centrado na ação, o romance é sobre a jornada inglória de pessoas buscando nada além da sobrevivência, que sairão transformadas por força das circunstâncias e terão comprometido tudo que os faz humanos. Fãs da série nos quadrinhos ou na TV, ou mesmo simples apreciadores de uma boa história de zumbis, têm bons motivos para ler este livro.

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