Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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TINTIN #1

22 setembro 2009


Autores: Hergé, Paul Cuvelier, Jacques Laudy e Edgar P. Jacobs.

Preço: Originalmente, 3,50 francos. Versão fac-símile gratuita (encartada em Le Journal Tintin)

Data de lançamento: 26 de setembro de 1947 (original); setembro de 2007 (fac-símile);

Sinopse: L'extraordinaire Odyssée de Corentin Feldoé - Aventura, escrita e ilustrada por Cuvelier. O órfão Corentin, um garoto da Bretanha (região costeira da norte da França), apanha de seu tio, um velho beberrão, que o força a sair para lhe comprar rum. O menino planeja a sua fuga.

La Guerre des Mondes - Texto do livro clássico de H.G. Wells, ilustrado por Edgar P. Jacobs.

Le Temple du Soleil - Tintim e Milu estão num ônibus indo para o Castelo de Moulinsart. O repórter desce na parada correta e caminha por uma trilha no campo, distraído com a leitura do jornal, que traz surpreendentes notícias sobre o caso das Sete Bolas de Cristal e a Vingança dos Incas.

Enquanto isso, Milu persegue um porco-espinho. O cachorro se espeta e seu dono, compenetrado com o jornal, cai num riacho.

La Chienne de la Reine et le Cheval du Roi - Texto extraído de Zadig, de Voltaire, ilustrado por Edgar P. Jacobs.

La Légende des Quatre Fils Aymon - Famosa lenda medieval adaptada e ilustrada por Jacques Laudy, sobre os quatro filhos (Renaud, Guichard, Alard e Richardet) do duque Aymon, habitantes das Ardenas, inquietos com as atitudes do rei Carlos Magno.

Tintin vous raconte: L'Histoire des Frères de la Côte - Texto que conta a história do Cavaleiro Hadocque, antepassado do Capitão Haddock, e seus confrontos com Rackham, o Terrível.

Le Secret de L'Espadon - Com texto e arte de Edgar P. Jacobs, mostra os pilotos do Império Amarelo reunidos para serem instruídos pelo Coronel Olrik a respeito de um ataque contra o mundo livre. Felizmente, existe um espião entre eles.

Positivo/Negativo: Tintin #1 é o primeiro número do famoso Journal de Tintin, semanário publicado originalmente pela editora Le Lombard. Em seu lançamento, em 26 de setembro de 1946, vendeu 60 mil unidades em apenas três horas.

Esta edição fac-símile, uma cópia fiel da publicação original, tem 12 páginas impressas em papel similar ao da época (grosso e pouco melhor que o papel jornal), com quatro páginas coloridas (primeira e quarta capas e a dupla central). A revista tinha formato 20,5 cm x 30,2 cm e era distribuída todas as quintas-feiras.

A publicação se destinava ao público infanto-juvenil da França e da Bélgica do pós-guerra, carente de distrações num período tão difícil da história da Europa.

A capa anunciava as novas aventuras de Tintim, Milu e do Capitão Haddock. Começa aqui Tintim e o Templo do Sol, a segunda parte da história iniciada em As Sete Bolas de Cristal (publicada entre 16 de dezembro de 1943 e 3 de setembro de 1944, no jornal belga Le Soir).

Para a maioria dos leitores, esta revistinha é uma viagem temporal, não apenas por se tratar de uma publicação de 1946, mas também porque representa uma maneira de lidar com as HQs que já desapareceu.

Não existe no semanário a presença participativa da equipe editorial - quem faz esse papel são os próprios personagens de Hergé, dialogando diretamente com o leitor.

Em três momentos distintos Tintim e Haddock "conversam" com seu público, da mesma forma como faziam no final de algumas de suas aventuras.

A primeira página traz um editorial assinado por Tintim, apresentando as atrações do jornal e anunciando a criação de um clube dos leitores. Uma coluna lateral traz textos com curiosidades e anedotas.

L'extraordinaire Odyssée de Corentin Feldoé, de Cuvelier, ganha uma página, a segunda do jornal, e é muito bem ilustrada, com realismo e um traço que em certas cenas sugere uma influência Hal Foster.

Cuvelier apresenta seus personagens e situa o leitor no contexto histórico. É difícil avaliar a HQ com apenas uma página, mas a série teve oito álbuns publicados.

Como a maioria dos suplementos da época, esta também oferecia os leitores textos mais longos, como La Guerre des Mondes (A Guerra dos Mundos), de H.G. Wells, que ocupa duas páginas desta edição, com ilustrações em preto e branco de Edgar P. Jacobs.

O Templo do Sol (Le Temple du Soleil) é a história que ocupa a dupla central da revista. O roteiro e os desenhos são de Hergé, e as cores foram feitas sob sua orientação, em seu estúdio, por Edgar Pierre Jacobs.

Depois de publicar Tintim em tiras num espaço minúsculo no Le Soir, durante os últimos anos da Segunda Guerra, Hergé adota uma área mais ampla. Todas as páginas do original deste álbum são duplas centrais.

A versão conhecida pelo público foi reformulada para se adequar ao formato dos álbuns da Casterman.

Um encadernado reproduzindo em fac-símile todo este material, chamado Le Temple Du Soleil - 1946 , foi lançado pela Casterman em 2003.

La Chienne de la Reine et le Cheval du Roi é uma aventura literária extraída da obra de Voltaire, com arte de Jacobs.

A página 9, dividida ao meio, traz no topo uma ilustração de Hergé na qual Tintim está acompanhado do Capitão Haddock e do major Wings (o piloto do hidroavião da história A Ilha Misteriosa) e anuncia que nas próximas edições o espaço seria utilizado para informar sobre aeronaves (apresentadas por Wings) e barcos (exibidos por Haddock), assuntos que interessavam bastante aos garotos da época.

A parte de baixo da página é ocupada por um texto, um longo diálogo humorístico entre Haddock e Tintim.

La Légende des Quatre Fils Aymon é uma adaptação de uma lenda medieval muito conhecida na França, mas essa primeira página não empolga. Laudy se consagrou com este tipo de material, mas aqui a narrativa é quebrada por cenas que parecem isoladas e texto em excesso. O desenho é limpo e detalhado, mas também não se destaca diante dos outros artistas da edição.

A penúltima página também é um conto seriado, Tintin vous raconte: L'Histoire des Frères de la Côte, mas o narrador é Tintim e a história de pirataria revela detalhes dos antepassados do Capitão Haddock. As ilustrações não estão assinadas, mas provavelmente são de Jacobs.

E é Edgar P. Jacobs que fecha a edição, com uma página colorida de Le Secret de L'Espadon, a primeira aventura de Blake e Mortimer.

No geral, a edição é bem agradável, mas encontrar apenas uma página de cada história por semana, é algo completamente fora do padrões de leitura atuais.

Isso sem falar que se o garoto (ou garota) perdesse uma edição da aventura só poderia comprar o álbum completo depois de pelo menos um ano, quando alguma editora publicasse a história. A não que a achasse num sebo.

O único artista que tenta solucionar esse problema é Hergé, que usa o humor para dar um desfecho à página.

Sem dúvida, era uma época mais ingênua, na qual as diversões mais comuns eram a leitura, o rádio e o cinema. E a gurizada devia esperar com ansiedade a chegada de uma nova edição - e mais uma página, na semana seguinte, fato quase inimaginável na sociedade imediatista em que vivemos hoje.

 

Classificação:

4,0

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