Transmetropolitan – Volume 4 – Cidade solitária
Editora: Panini Comics – Edição especial
Autores: Warren Ellis (roteiro), Darick Robertson (desenho), Rodney Ramos (arte-final), Nathan Eyring (cor). Lea Hernandez, Frank Quitely, Bryan Hitch, Kieron Dwyer e Eduardo Risso (artistas convidados) – Originalmente em Transmetropolitan # 25 a # 36.
Preço: R$ 78,00
Número de páginas: 288
Data de lançamento: Outubro de 2013
Sinopse
Spider Jerusalém experimenta o que é se tornar uma figura pop, com diversos produtos licenciados e, ao mesmo tempo, perder sua credibilidade como voz pública.
Em meio a tudo isso, um massacre do qual é testemunha não pode ser noticiado por causa do governo. O "sorridente", presidente dos Estados Unidos e inimigo declarado de Spider, começa a mostrar o seu poder.
Positivo/Negativo
Esta publicação contém 12 edições de Transmetropolitan. Nesse ritmo, a Panini está a dois encadernados de terminar a série. Com base nos lançamentos anuais da editora, em 2015 os leitores brasileiros veriam o fim da busca de Spider Jerusalém pela verdade.
Isso é aproximadamente 14 anos após o fim da HQ nos Estados Unidos. Não são poucos os leitores que esbarram no visual “muito anos 1990” da série e escapam pelos lados. Pena, pois perdem uma das melhores séries publicadas pela Vertigo.
O ciclo que vai tornar a década de 1990 “retrô” e não “ultrapassada” está prestes a se iniciar, e que isso incentive mais pessoas a conhecer essa cidade do futuro, onde se acompanha um jornalista à la Hunter Thompson, desesperado pela verdade.
Spider Jerusalém é obcecado pelo jornalismo. Mas jornalismo em seus termos é “(...) em última instância, importar-se. É dar o troco aos malditos que, de algum jeito, deixamos que tocassem nossa vida por nós. É dar a eles um gostinho do que é ser gente”.
E não para nisso, pois olha qual é o modelo de jornalismo que o personagem prega e pratica: “É jornalismo que se importa. Participação, preocupação com o mundo cujos fatos você noticia. Há quem diga que é mau jornalismo, que a mídia tem mais é que manter um ponto de vista distanciado, frio e isento. Caralho, se é isso que você quer, tem câmera de segurança pra todo lado. É só assistir às gravações. O que eu quero ver é humanos falando sobre a vida humana. Quero ver gente que se importe com o mundo. Quero ver jornalistas possessos!”.
O personagem defende uma abordagem radical, ética, violenta e honesta sobre os fatos. Eis o tipo de coisa que não envelhece: a discussão sobre os métodos. Outra brincadeira que mantém a série revigorada é a infinidade de referências, desde aquelas gratuitas (tipo o Tom Waits andando na rua), até algumas que acrescentam significados à trama e ao clima da HQ (como um famoso quadro do pintor Edward Hopper).
Além disso, outro aspecto garante o interesse de um leitor “de hoje”: justamente os temas. O grande foco da série até aqui tem sido relação entre humanos e tecnologia e corrupção pelo poder.
O tema que percorre este volume, que tem seis histórias “soltas” e dois arcos de três partes cada, é a impotência da imprensa. E a partir daqui serão tratados alguns detalhes do enredo que podem prejudicar a leitura daqueles que preferem não saber nada antes de ler a obra.
Aviso dado, segue-se.
Com imposições legais, o corrupto presidente apelidado de “O Sorridente” atrapalha a livre circulação de informação de seu maior desafeto, Spider Jerusalém. Eis um exemplo da corrupção pelo poder e da sobreposição do poder à liberdade.
O que o protagonista de Transmetropolitan queria denunciar, mas não pode, é o brutal assassinato de um menino motivado por preconceito genético. Aqui entra a relação entre humanos e tecnologia. Foi graças a uma espécie de scanner genético que os espancadores puderam reconhecer sua vítima. Mas também foi graças às câmeras de segurança que se soube que policiais estavam por perto e optaram por não agir.
Para que a culpa não caísse na incompetência policial, houve manipulação legal, ocultação de filmagens, manipulação de informação e um massacre proporcionado pelas forças do governo culpando alguns manifestantes que teriam saído do controle durante um protesto.
Qualquer leitor que acompanhe minimamente as notícias de 2014 sobre o que acontece no Brasil, na Ucrânia e na Venezuela vai encontrar um eco disso tudo nesta HQ escrita 14 anos antes. Isso não é profecia, é trabalhar com situações de base e argumentos de discussão.
E é desse modo que Warren Ellis estende a vida de Transmetropolitan pelos anos. Discussões sobre liberdade de imprensa, manipulação de informações e a imparcialidade jornalística são constantes para aqueles que se importam com como o mundo vai. Você não precisa concordar com Spider Jerusalém, mas não faria nada mal prestar atenção no que ele diz. Pena que o cara seja apenas um personagem de ficção.
Classificação