Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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Turma da Mônica – Lembranças

26 dezembro 2017

Turma da Mônica – LembrançasEditora: Panini Comics – Edição especial

Autores: Vitor Cafaggi e Lu Cafaggi (roteiro, desenhos e cores), com Flávio e Paula Markiewicz (cores) e Eduardo Damasceno (desenhos de flashbacks, com Lu Cafaggi).

Preço: R$ 31,90 (capa cartonada) e R$ 41,90 (capa dura)

Número de páginas: 96

Data de lançamento: Dezembro de 2017

Sinopse

Mônica e Cebolinha tinham problemas para resolver. Mas juntos, e acompanhados de Magali e Cascão, eles são praticamente imbatíveis e viverão uma aventura cheia de intrigas, sopapos, planos, risadas e, claro, amizade.

Positivo/Negativo

"Nerd adora uma trilogia", já justificava o editor das Graphics MSP, Sidney Gusman, também editor-chefe do Universo HQ. Por isso, fez uma trinca o formato do projeto anterior que foi a preparação para este, os álbuns MSP 50, MSP + 50 e MSP Novos 50.

Mais um ciclo se fecha, desta vez com os irmãos Cafaggi, que começaram a trilha em 2013, com de Turma da Mônica – Laços, passando por Lições, em 2015, e chegando ao fim da saga agora, com Lembranças.

Quem é leitor do UHQ sabe que muito raramente uma resenha usa primeira pessoa. Mas aqui, abre-se uma exceção. Porque é importante adiantar que, independentemente do "nó górdio" da amizade que tenho pelo editor e pelos autores, não gosto tanto de Laços. Para mim, é uma boa aventura, divertida e cheia de referências. Nunca escondi que o selo GMSP, assim como a gangorra em que Mônica e Dudu brincam, tem seus altos e baixos (mais altos que baixos, na verdade). Ao mesmo tempo, jamais economizei adjetivos positivos para Lições – que considero o ápice dos Cafaggi.

Dito isto, Lembranças foge daquelas "maldições" que se vê em famosas trilogias cinematográficas, nas quais o derradeiro filme sempre é o mais fraco. O que se acha aqui é uma bem amarrada e coerente estrutura de personagens, que devem respeitar seus objetivos: serem acessíveis para todas as idades.

Fazendo jus ao nome, principalmente para específicas gerações, ler o álbum é como retornar à infância, ao clubinho, aos "ambiciosos" projetos dessa época, às eternas vaquinhas para compartilhar os brinquedos e jogos. Provocar esse retorno às raízes não tem preço. Noves fora o peso do copyright de Mauricio de Sousa, é algo extremamente difícil conseguir tal sensação nostálgica.

Na sua primeira leitura, Lições despertou algo que raramente senti como leitor de gibis, que era a surpresa de acabar (e saber que aquele final de semana – o primeiro de muitos – estava apenas [re]começando pra Mônica) e ficar com uma saudade tão grande que te obriga a voltar pra primeira página, esperando que aquela mesma sensação boa volte no final.

Pois Lembranças é um prolongamento, no qual você revisita a própria obra dos autores, seja pela fofura que mata diabético da Lu ou num drible desconcertante do Cascão sem as grades de requadros que remete à ação igualmente livre nas tirinhas da web de Puny Parker do Vitor.

Turma da Mônica - Lembranças

Puny Parker

Tematicamente, há um quê de Valente – o cãozinho apaixonado jogador de RPG – numa das frentes narrativas da HQ, na qual o Cebolinha fica arriado com os quatro pneus e o estepe pela babá Xabéu.

Se as outras partes tinham referências aos filmes dos anos 1980, como De volta para o futuro, Conta Comigo, Goonies, Curtindo a Vida Adoidado e ET, este não fica devendo aos leitores "caçadores de piolho".

Tem para todos os gostos: desde as do próprio universo dos personagens, elencadas nos extras da edição (coleção de bonecos Mix Faces, a animação A Princesa e o Robô), até referências musicais como Ela é demais, hit sertanejo da dupla Rick & Renner ("Uma deusa, uma louca, uma feiticeira..."), indo mais além com a clássica marchinha carnavalesca Nós, os carecas ("É dos carecas que elas gostam mais").

Os quadrinhistas ainda não perdem a oportunidade de dar uma alfinetada na distribuição dos gibis e brincar com a velha retórica rocambolesca da narrativa de super-heróis de pomposamente descrever as ações vistas nos quadros. Para os mais atentos, há também participações especiais de personagens como o Anjinho e o Horácio – este último quase como a incorporação do Geninho do desenho animado She-ra.

Engana-se quem acha que algumas referências são meros easter eggs. Quando o Tonhão – uma mistura de valentões como Biff Tannen, da franquia cinematográfica De volta para o futuro, e o Moe, das tiras do Calvin & Haroldo – encontra Cascão e Cebolinha, este último ameaça dizendo que aprendeu "calatê" vendo uns filmes.

Mais à frente, ele tem a ideia de um encontro à luz de velas com Xabéu, pois se inspirou na sequência do mesmo longa-metragem. Sabe qual é a franquia, Daniel-San? Inclusive temos um hilário "embromation" em inglês (trocando o "r" pelo "l") da música-tema interpretada pelo Peter Cetera, Glory of love.

Justificando a partir desse exemplo que algumas referências não são meros easter eggs, alguns elementos, digamos, "naturais" (fogo, chuva) que são importantes no filme de 1986 também serão de igual peso aqui para o avanço da narrativa, abrindo mais uma frente.

Vitor e Lu Cafaggi fecham bem a trilogia que explora vários temas, sobretudo o da amizade, mesmo que seja cultivada vez por outra por coelhadas e planos infalíveis. A dupla de criadores respeita as vozes narrativas (algo exemplificado também nos extras do final da edição), além de colocar traços da personalidade por meio de atos sutis como trocar uma tiara de princesa por um boné.

Tudo isso derruba o presente como um tsunami nostálgico de ter saudades de doces como as balas Bilula, ou das fichas do "fliper", ou dos playmobils, ou de catar conchas na praia e levar para casa, ou mesmo de fazer bilhetinhos que nunca seriam entregues à paixão de uma vida toda.

Porém, assim como o leitor que troca Turma da Mônica por Conan (ou seria Biluzinho por Kalik?), chegou a hora das despedidas. Seguindo a esteira do Astronauta, de Danilo Beyruth, os Cafaggi poderiam arquitetar mais um volume, não é mesmo?

"Eu sei, eu sei... Mas eu não quero que acabe!", já diz o Dudu, logo no começo deste terceiro ato, fazendo lembrar, de cara, que é realmente um "fim", como a nossa infância.

Mas ainda bem que há... Lembranças.

Classificação:

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