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UM CONTRATO COM DEUS & OUTRAS HISTÓRIAS DE CORTIÇO

1 dezembro 2007


Título: UM CONTRATO COM DEUS & OUTRAS HISTÓRIAS DE CORTIÇO
(Devir Livraria)
- Edição especial

Autor: Will Eisner (texto e arte).

Preço: R$ 48,50

Número de páginas: 200

Data de lançamento: Junho de 2007

Sinopse: São quatro histórias que se desenvolvem em torno do cortiço da Avenida Dropsie, 55.

Na primeira, que dá nome ao álbum, um judeu muito bom e devoto se torna um investidor voraz depois de perder sua filha adotiva, Rachele, o que considera um quebra de um contrato firmado com Deus em sua infância.

O Cantor de Rua mostra um sujeito que se embrenha em becos para cantar na esperança de arrecadar alguns trocados durante a Grande Depressão. Na Avenida Dropsie, ele encontra uma diva aposentada que se dispõe a ajudá-lo a se tornar um grande artista.

O Zelador fala sobre a derrocada, pelas mãos de uma criança, do homem que administra o cortiço.

Cookalein leva o leitor a conhecer onde os moradores da Avenida Dropsie tiravam férias, uma região nas montanhas em que mudar de vida era mais importante do que descansar.

Positivo/Negativo: Um Contrato com Deus & Outras Histórias de Cortiço é um marco na história dos quadrinhos. Em especial, nas HQs produzidas nos Estados Unidos. O álbum, que saiu originalmente em 1978 (e teve uma edição nacional pela Brasiliense em 1988), foi o primeiro a ser chamado de graphic novel.

O termo, cuja tradução é romance gráfico, foi inventado por Eisner para diferenciar suas criações mais literárias dos comics, os desgastados e desacreditados gibis infanto-juvenis. Uma graphic novel não era um gibi. Era um romance, mais próximo de Charles Dickens do que de Stan Lee.

No Brasil, o conceito se perdeu de cara ao não ser traduzido. Graphic novel virou sinônimo de gibi de luxo, sem ao menos tangenciar a idéia de representar um gênero literário. Nos Estados Unidos, o rótulo passou por um processo semelhante: a indústria se apropriou do termo para designar obras de suposta maior qualidade - o que nem sempre era verdade - até deturpá-lo.

Ler um Contrato com Deus é uma forma de restaurar o que é, de fato, um romance gráfico. Nessa que é uma das obras-primas de Eisner é fácil de identificar elementos de literatura de altíssimo nível.

A Avenida Dropsie, por exemplo, está para Eisner assim como Macondo está para Gabriel García Márquez - é um cenário ficcional poderosíssimo, povoado de personagens riquíssimos. Ela está em boa parte das obras da fase madura do autor; se não está presente, ao menos, está insinuada. Seu nome batiza um álbum, já publicado pela Devir (e que compõe a trilogia Um Contrato com Deus, junto com A Força da Vida, prometido pela editora para este ano).

Seus personagens são fortes, marcantes, e construídos rapidamente, com tintas precisas. Em poucos quadrinhos, às vezes num só, o leitor é capaz de entender do que se trata.

Mais do que isso: capta a alma das criaturas, porque chega a ser difícil acreditar que elas não estão vivas. Eisner leva o leitor a uma experiência de arte seqüencial (para usar outro termo cunhado pelo autor) em que fica difícil não se ver andando pelos becos da Avenida Dropsie.

O leitor de Eisner, no fim das contas, não lê: ele se torna um fofoqueiro e bisbilhota pela vizinhança.

Uma obra-prima desse porte tem, com a Devir, um cuidado editorial quase impecável. Peca só por uma confusão no prefácio, na página 9. Não é a palavra "Cortiço" que deriva de um termo legal do século 15, e sim seu equivalente em inglês, "Tenement". Sem uma nota explicativa, a tradução do texto de Eisner fica confusa.

A outra falha, essa feia, é um "mal-humor" no mesmo texto de abertura.
Passou pela revisão. Pena.

Mas isso não desmerece este álbum memorável. Um Contrato com Deus une-se a grandes realizações da Devir, como Lost Girls e a reedição de 300, bem como ao excelente trabalho que tem feito com a obra de Eisner.

Classificação:

4,0

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