Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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UMBIGO SEM FUNDO

22 setembro 2009


Autor: Dash Shaw (roteiro e arte).

Preço: R$ 59,00

Número de páginas: 720

Data de lançamento: Agosto de 2009

Sinopse: David e Maggie Loony anunciam para seus filhos que, após 40 anos de casamento, vão se separar.

Os três filhos do casal e seus dois netos vão passar a última semana com eles antes da separação. E cada personagem reage de um modo muito particular ao divórcio.

Positivo/Negativo: Umbigo sem fundo é mais um dos grandes lançamentos de quadrinhos de 2009.

Não apenas nas suas 720 páginas, mas também na qualidade de roteiro e de desenho. O traço de Dash Shaw não é vistoso e, muitas vezes, nem bonito, mas cumpre bem seu papel. A qualidade está na arte sequencial.

Na lombada da edição já há uma chamada que prepara o leitor para o que encontrará quando abrir o álbum. Shaw sabe usar muito bem o espaço narrativo da página. Por isso, tome espaço em branco e variação de tamanho de quadros.

Na primeira parte da graphic novel (dividida em três), quando a narrativa se divide entre Jill (filha de Claire), Dennis (filho de David e Maggie), e Claire (irmã de Dennis) e Aki (esposa de Dennis), Shaw usa diferentes quantidades de quadro por página para dar diferentes ritmos a cada segmento da história.

Há muita engenhosidade e complexidade narrativa, mas elas não precisam ser decifradas para que o leitor possa curtir a obra, embora seja um exercício interessante. A narrativa é interrompida (talvez fosse melhor dizer complementada) por cartas, notas jornalísticas, álbuns de fotos etc.

No começo da obra, o autor já apresenta para o leitor uma construção particular de narrativa com uma linguagem que remete um pouco a manuais de instrução e outro pouco a texto ilustrado.

O texto, o elemento verbal na narrativa é muito importante. Não só pela fala dos personagens, mas pelas características que assume. As onomatopeias são substituídas por descrições breve dos sons, como "gole" ou "engasga, engasga". E não só sons, mas também cores e imagens, como "amanhecer laranja" escrito no céu.

Muito engenhosa a cena em que Shaw cria uma verdadeira cacofonia, ao final do primeiro jantar em família no começo do livro, ao usar o choro de Alex (filho de Aki e Dennis), a tosse de Jill, e os balões de fala de diversos personagens.

Toda a confusão sonora foi armada com palavras e quadrinhos pequenos, nos quais essas palavras ocupassem bastante espaço.

Umbigo sem fundo não é apenas um "manual" de recursos dos quadrinhos, é também uma história forte e tocante. Como é comum entre os autores independentes norte-americanos, o tema é a família disfuncional.

O assunto é distribuído nas linhas narrativas dos três filhos e da neta Jill; e muito bem amarrado com símbolos criados durante a história, como areia, banhos, espelhos e chaves. E isso tudo está cercado pelas técnicas narrativas.

Próximo ao final, as tiras de dois quadros se reduzem de três para duas por página, e depois para uma, até que um único quadrinho ocupe a página, aumentando o branco ao redor dos desenhos e, por consequência, a impressão de vazio que esse trecho da história traz.

Há ainda o zoomorfismo de Peter, personagem que é desenhado como um sapo. Se isso tem um sentido para os personagens Disney e outro em Maus, de Art Spiegelman, em Umbigo sem fundo é um modo visual de dizer como aquele personagem faz sua autoimagem.

O trabalho da Companhia das Letras é bastante competente. A edição é caprichada, o papel bem escolhido e os cadernos e resistem ao manuseio, mesmo num livro tão extenso. Faltou só um prefácio que apresentasse obra e autor ao público. Nada que diminua a grandeza de Umbigo sem fundo.

 

Classificação:

4,0

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