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UNDERWORLD - VOLUME 1

1 dezembro 2008


Autor: Kaz (texto e arte).

Preço: R$ 30,00

Número de páginas: 96

Data de lançamento: Maio de 2008

Sinopse: Coletânea da tira Underworld, em que vários personagens inspirados em desenhos animados e quadrinhos antigos vivem em um submundo doentio.

Positivo/Negativo: A publicação de Underworld marca a chegada de mais uma tira estrangeira contemporânea ao Brasil. Por incrível que pareça, não é algo que se veja todos os dias.

Na prática, as tiras são a forma de histórias em quadrinhos que têm maior circulação no Brasil - até porque a tiragem dos maiores jornais ultrapassa até as revistas da Turma da Mônica.

Mas isso não quer dizer que as tiras tenham o cuidado que merecem. Quem olha os grandes jornais brasileiros tem um panorama equivocado sobre o mercado internacional desse tipo de quadrinhos.

Ao contrário das criações nacionais, que ao menos volta e meia encontram uma brecha, as internacionais têm dificuldade para dar as caras. Os espaços, afinal de contas, estão tomados por clássicos. Alguns materiais, como Peanuts e Calvin & Haroldo, seguem com reprises de grande sucesso. Outros trazem velhos personagens como Hagar, Garfield e Os Bichos em tiras novas - e muitas vezes mais fracas do que aquelas que as consagraram. Dilbert, um dos personagens mais recentes, foi lançado em 1989 - e já vai completar 20 anos. Nem mesmo séries com apelo convencional conseguem romper o bloqueio.

Enquanto os jornais se fazem de desentendidos, as editoras vêm se encarregando de lançar com vigor o bom material estrangeiro. A HQM apostou em Liberty Meadows, de Frank Cho. A Zarabatana lançou, além deste Underworld, Maakies, e promete para o fim do ano Macanudo, do argentino Liniers.

O alcance dos livros, claro, é bem menor. Mas ao menos cumpre a função de manter o leitor nacional minimamente atualizado, mostrando que há, sim, novidades no terreno das tiras nas duas últimas décadas.

Underworld é uma dessas novidades. Seu papel, contudo, não é o de dar prosseguimento às tiras. A obra de Kaz quer arrancá-las do marasmo, corrompê-las, subvertê-las.

Quando, na página 41, o Porquinho Rosado diz "Não fique alarmado. Somos personagens fictícios de um doentio mundo imaginário", ele cita apenas a ponta do iceberg.

O tom psicopatológico de sua criação é apenas a forma que Kaz encontrou para entrar no mundo das tiras e dos desenhos animados.

É curioso notar que o tom das tiras não é o do crítico destrutivo. Kaz, ao contrário do que pode parecer numa rápida folheada, não faz uma obra que apenas ataca as obras parodiadas. O autor não se filia às hordas anti-Disney, anti-E.C. Segar ou anti-Chuck Jones, nem mesmo quando faz Creep, seu Mickey ratão do banhado, ou Snuff, seu Popeye gordão e grandão.

Sua distorção é uma recriação, uma forma de mostrar que ainda há vida no que muita gente chama de velharia. Ao jogar os moldes dos desenhos animados clássicos no seu submundo particular, Kaz os obriga a buscar novas formas de sobreviver. Daí vem a apologia ao cigarro, a sanguinolência, o desprezo generalizado e o rompimento dos limites sexuais.

No fim das contas, Underworld aproxima o mundo dos desenhos animados da vida real, repleta de vícios e contradições. Assim, substitui a gargalhada solta das gags do humor pastelão pelo riso nervoso, com certo mal-estar, provocado pela mente bizarra e pervertida dos personagens e do próprio criador.

Underworld, é bom deixar claro, não tem vocação para ser uma série arrasa-quarteirão, que arrebata paixões por onde passa. Polêmica, suja, tem como missão confundir, perturbar, atazanar.

Mas seu humor, para quem é fisgado, funciona muito bem. Mais que isso: faz rir. Mas a graça não é sempre escancarada. Às vezes, está nos detalhes do cenário - porque a arte é rica e esconde sutilezas e referências que devem ser investigadas pelo leitor.

O lançamento é da Zarabatana, e não é por acaso. A editora tem suprido o espaço que já foi da revista Animal: o de trazer quadrinhos que não são fáceis nem óbvios, mas que têm qualidades intrínsecas e são oriundos de uma força criativa poderosa. Para um catálogo com esse perfil, Underworld é uma bela de uma aquisição.

Classificação:

4,0

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