Criação do roteirista Scott Snyder com o ilustrador brasileiro Rafael Albuquerque e contribuições valorosas do romancista campeão de vendas e mestre do horror Stephen King, Vampiro americano não é só mais uma história de vampiros.

A série mensal da linha Vertigo, cujos cinco primeiros números a Panini republica neste especial de capa dura, reinventa o mito desses chupadores de sangue, enquanto investe com vigor por diversos períodos da história dos Estados Unidos.

Sob a pena de Snyder, King e Albuquerque, os herdeiros de Drácula aparecem como criaturas bestiais, demônios assassinos e impiedosas criaturas da noite, mas com diferenciais marcantes.

Skinner Sweet é o personagem central, e o primeiro vampiro nascido na América. Além de ter uma personalidade odiosa, com vocação para crueldades diversas, ele se revela mais poderoso que seus antepassados europeus, chegando até a ganhar força com a luz do sol.

Pode parecer uma afronta à tradição literária de Bram Stoker, mas a forma como os vampiros são tratados por Snyder compensa qualquer desvio em sua mitologia.

Após fenômenos de público e crítica como Sandman, Preacher e Fábulas, os editores da DC Comics estão sempre em busca do próximo sucesso em seu selo de quadrinhos adultos. Vampiro americano foi idealizada por Scott Snyder e, além da premissa instigante e do tom arrebatador, chamou atenção por contar com roteiros do escritor Stephen King.

O autor de clássicos do horror como A coisa, O iluminado e Carrie, além da série de fantasia sombria A torre negra, colabora com tramas secundárias a cada edição, que exploram o passado de Skinner Sweet no Colorado de 1880.

Não há dúvidas de que o nome de King já seria suficiente para levar suas legiões de fãs a experimentar a revista, mas foi a qualidade do texto que os fez continuar comprando. As histórias do autor nesta coletânea são uma perfeita mescla de western com terror, associada às caracterizações precisas de seus romances. E personagens impactantes num cenário histórico bem pesquisado são o forte de Vampiro americano.

Se a contribuição de Stephen King ressalta os perigos do Velho Oeste norte-americano, a trama principal narrada por Scott Snyder versa sobre uma jovem atriz na Hollywood dos anos 1920. Pearl Jones possuía uma carreira brilhante pela frente, até ser transformada em vampira e ter sua existência radicalmente transformada.

A reconstituição histórica apresentada garante uma experiência única, ainda mais com as belas ilustrações de Rafael Albuquerque. Pearl passa a contar com o auxílio de Skinner Sweet em sua vingança contra os vampiros europeus que a transformaram; e os dois imortais têm suas "vidas" intimamente ligadas.

Além das fartas doses de sangue, violência e perversidades, a saga ainda tem aspectos românticos e dramáticos, que tornam impossível não se importar com os personagens.

Embora não chegue a usar o vampirismo para reflexões mais aprofundadas sobre a natureza do indivíduo, os anti-heróis concebidos por Snyder apresentam contradições humanas indeléveis. Mesmo com seus caninos protuberantes, revelam facetas ocultas da sociedade norte-americana.

Nos últimos tempos foi a popularidade dos vampiros renasceu na literatura, no cinema e na televisão, e os quadrinhos não poderiam ficar de fora. Mas o fato é que foi logo na nona arte que surgiu uma das mais brutais e angustiantes experiências com os chupadores de sangue.

Assim, não espere encontrar em Vampiro americano mais uma história de imortais bonitinhos para adolescentes apaixonadas. Scott Snyder e Stephen King posicionam os vampiros no panteão do horror que lhes é de direito, e o trabalho de Rafael Albuquerque completa o quadro visceral.

O desenhista é perfeito para cenas grotescas e assustadoras, e ilustra os dois períodos históricos distintos com riqueza de detalhes e características próprias. A receptividade da série, publicada primeiro em capítulos na revista mensal Vertigo, foi tão boa que a Panini já lançou a primeira obra derivada de Vampiro americano, o especial Seleção natural, também de autoria de Snyder. Nada menos que o nascimento de um novo clássico.