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VIDA BOA

3 julho 2009

Autor: Fabio Zimbres (texto e arte).

Preço: R$ 39,00

Número de páginas: 168

Data de lançamento: Junho de 2009

Sinopse: A série de tiras acompanha dois dias da vida de Hugo,
um cara normal que, desempregado, perambula pela cidade em busca de uma
saída para sua vida.

Positivo/Negativo: Os quadrinhos enobrecem e enaltecem o homem.
É o que normalmente se vê: personagens de HQ costumam ter algo de fantástico,
de incrível, que faz parecer que o ser humano é, de fato, fabuloso.

Claro que o maior símbolo desse fenômeno é Superman, um alienígena que,
a despeito de todos os seus poderes, opta por ser humano e até fica meio
deprê por ser extraterrestre.

Há também Batman, que dá a entender que, se o sujeito se esforçar de verdade,
pode ser um mestre em diversas artes marciais, ter uma inteligência muito
acima da média, pegar só mulheres top e ainda tocar um conglomerado
bilionário.

Até bichos antropomorfizados se beneficiam dessa visão tão positiva que
os quadrinhos têm da humanidade: basta lembrar do caso do Pato Donald,
um sujeito todo problemático e que, ainda assim, vive grandes aventuras
com seu tio rico e seus sobrinhos escoteiros.

Essa abordagem enaltecedora não é regra, mas é bastante usada. E até fora
dos títulos mais comerciais e em histórias bastante sofisticadas - é o
caso da obra de Alejandro Jodorowsky.

Mas também há vários autores reagem a essa tendência, que acham que o
homem não é tudo isso, que nossa grandiosidade não passa de cegueira e
egocentrismo. É um movimento que cresceu principalmente com a contracultura
americana. Pra ficar em um punhado de exemplos: Robert Crumb, Harvey Pekar
e, por aqui, Angeli.

E este Vida boa se associa fortemente a essa reação.

As tiras de Fabio Zimbres foram criadas há dez anos. Ganharam um concurso
e passaram a ser publicadas na Folha de S.Paulo. Angariaram um
punhado de seguidores ferrenhos e hordas de detratores, que escreviam
ao jornal pedindo o fim da série - o que aconteceu em 2001.

Agora, estão compiladas nesse livro. É Vida boa quase integral.
Ficaram de fora as tiras que ficaram datadas. Em compensação, entraram
algumas novas, feitas para dar mais liga à história.

A série mostra Hugo, um sujeito que está desempregado, não tem onde cair
morto - aliás, não tem nem como pagar a conta do boteco, a ponto de pedir
dinheiro emprestado para um menino de rua e dar o calote! Sem amigos,
conversa com um copo.

Não há nada de fabuloso em Hugo. Nada o enaltece. Ele apenas é o que é.

Aparentemente, poderia ser mais, se quisesse. Poderia ser até o Batman,
caso se esforçasse. Mas Hugo só se interessa em viver sua vidinha, ir
de um lado para outro. Nada de bárbaro acontece. Não há aranhas radioativas
em sua vida. Nem foguetes. Nem aliens. Nem supervilões.

A sequência de tiras sobre o aparelho que revela o mundo real debocha
dessas traquitanas que - nas HQs e fora delas - tentam fazer do homem
um ser melhor. Tudo isso não passa de um embuste, que no fim das contas
só mostra mesmo um grande fracasso.

Vida Boa

Zimbres esfrega na cara do leitor que, se nossas vidas
são chatas, é porque vivemos como Hugo - vamos levando.

Não é uma verdade fácil de ser aceita. No jornal, pode tornar cafés da
manhã indigestos.

Mas o quadrinhista fala mesmo assim. E ainda usa um desenho expressionista,
grotesco, em que os homens têm cara de cachorro e tudo é deformado.

De muitas maneiras, quem gosta da tira dificilmente se espanta com o fato
de a Folha tê-la encerrado pela pressão dos leitores. Lamenta,
claro. Mas entende: aceitar Hugo como reflexo não é moleza.

O que não se entende é que Vida boa tenha levado uma década para
ganhar uma compilação dessas. Demorou, mas veio, em mais um trabalho memorável,
que põe a pequena Zarabatana entre as principais casas de quadrinhos
do Brasil.

Classificação:

4,0

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