VIDA LOUCA
Autor: Jaime Martín (texto e arte).
Preço: R$ 34,90
Número de páginas: 184
Data de lançamento: Março de 2008
Sinopse: Barcelona, anos 80.
O jovem Vicen se muda para o bairro L'Hospitalet de Llobregat, na periferia de Barcelona. Lá, acaba tendo as primeiras experiências com garotas e sexo - e também com a típica violência juvenil de subúrbios, que irá se transformar em algo maior, mais envolvente e perigoso.
Positivo/Negativo: A primeira parte de Vida louca já foi publicada no Brasil. Chamou-se, na época, Sangue de bairro, e saiu como o sétimo volume de Grandes Aventuras Animal - série de especiais da lendária revista da VHD Diffusion.
O formato era maior, de revista, mas a trama era a mesma: uma baita história em quadrinhos sobre a inserção do jovem Vicen na vida dura dos subúrbios de Barcelona. O tamanho do papel é o de menos: Sangue de bairro se destacava, mesmo diante do alto nível da coleção, como um dos melhores trabalhos publicados. Tinha - e mantém - um frescor e uma energia juvenil.
Contudo, a informação sobre a edição anterior, ainda que parcial, não consta desta versão que a Conrad preparou. Não dá para entender nem mesmo o porquê da mudança de título. Vida louca é uma expressão genérica, vazia, que poderia batizar qualquer história, desde Indiana Jones até Barrados no baile. Já Sangue de bairro exige que a trama seja marcante, latina, que possua identidade própria e vigor.
A desconexão entre a versão e a atual pode até mesmo deixar de atrair os leitores que gostaram da primeira edição e que desconhecem que a trama de Vicen continuou. Quando Martín desenhou o segundo segmento, em 1994, a Animal já tinha ficado para a história.
Mas, em Vida louca, a trama está completa. Sangre de bairro, o título original da primeira parte, é reunido a três histórias que dão continuidade à saga. Purgatório tem nove páginas e serve como prelúdio para a segunda parte, Sangre de Bairro II. E Nunca nada é o desfecho da trama, o único com um final forte a ponto de ser definitivo.
A falta de ligação entre a velha revista e o álbum recém-lançado é, claro, uma questão menor. Picuinhas editoriais à parte, Sangre de bairro - ou Vida louca, a essas alturas tanto faz - continua sendo um petardo dos quadrinhos espanhóis.
Passados quase 20 anos desde seu lançamento original, em 1989, a história de Vicen mantém sua energia pulsante. Seus personagens sentem e provocam tesão, batem e atiram para valer, amam e desprezam (e são amados e desprezíveis) com intensidade.
São momentos antológicos, com diálogos ricos e ágeis, criados por um narrador que preza a crueza da cena, mas que a lapida para que seja perfeitamente crua.
As criaturas de Martín andam por uma cidade de verdade. O desenho em nanquim no papel branco impõe Barcelona. Pela arte, dá para sentir o calor, a brisa do mar, até ver as cores que não estão lá.
Quando não é Barcelona - no capítulo Purgatório, em que Vicen está na prisão - os traços mudam. As linhas simples são preenchidas por tons de cinza feios e pesados e chegam a lembrar um mangá ruim. Mas, quando é Barcelona, até o que é feio tem lá sua beleza.
É essa cidade viva que faz com que um errinho na boa tradução de Marcelo Barbão incomode. Na página 87, a mãe de Vicen o chama para comerem "no" Barceloneta, como se fosse um restaurante. Não é.
Barceloneta, ou La Barceloneta (e, portanto, substantivo feminino), é um tradicional bairro à beira mar na cidade, famoso, aí sim, por seus ótimos restaurantes de frutos do mar recém-pescados. E que, diga-se de passagem, rendem uma experiência tão deliciosamente catalã quanto este belo álbum de Jaime Martín.
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