Wardogs Chronicles – War Age – Part 1
Sinopse
Em 2129, soldados enfrentam uma missão de resgate contra um inimigo monstruoso: seres híbridos de humanos com animais. A missão pode acabar com a guerra que devasta o planeta.
Positivo/Negativo
Wardogs é um projeto brasileiro multimídia, que envolve uma série de animação e esta webcomic, disponível no Social Comics. Pensada e produzida para a leitura em celular ou tablet, a HQ adapta levemente a narrativa tradicional dos quadrinhos para esse suporte, ainda uma relativa novidade na forma de consumir a nona arte.
As “páginas” são visualmente mais estreitas que as de um gibi de formato americano, para se adequar às dimensões da tela de um smartphone. E a orientação da leitura é predominantemente vertical.
Não só na passagem de uma página para outra, mas dos quadrinhos dentro de cada página. Há apenas três breves momentos de leitura horizontal.
E há muitas imagens de “página” inteira, dada a dimensão consideravelmente menor da tela em relação à página de um gibi tradicional, mesmo um formatinho.
Claro que existe a opção de o leitor aumentar a imagem, mas os autores preferiram privilegiar uma leitura que flua sem necessitar dessas intervenções.
São adaptações de narrativa inteligente e que funcionam. Em dois momentos, arrisca-se até o que seria equivalente a uma página dupla, só que vertical: um quadro mais longo, que ultrapassa o limite da tela do smartphone.
E se existe essa possibilidade, a de quadros mais longos verticalmente, isso leva à reflexão do formato “página”, utilizado na quase totalidade do gibi virtual. Se a orientação de leitura é vertical, há um sentido em dividir páginas e não apenas dispor os quadrinhos continuamente um embaixo do outro?
Pode ser só uma limitação técnica, para disponibilizar o arquivo em pdf. Pode ser também uma opção estética, para manter no leitor a identificação com um elemento importante do formato familiar de gibi – compensando outras alterações.
Assim, o leitor segue pelo gibi virtual sem obstáculos, numa história que não complica: é simples, direta e procura impressionar com algumas imagens de impacto.
A trama é basicamente de ação e suspense, com ritmo acelerado. Perto do fim, há um pequeno espaço para um drama pessoal. E uma boa sequência de flashback, um pouco mais inspirada e elaborada.
Na verdade, um “flashback dentro do flashback”, já que a história é estabelecida na cena de abertura como um relato que conta uma trama que, pelo menos nesta edição, se passa cem anos antes.
O gibi virtual não gasta muito tempo e espaço mostrando esse futuro de 2229: apenas três páginas. Talvez os autores pudessem ambientar melhor o leitor, mostrar um pouco mais de como é esse mundo, quais as relações de poder, os problemas dessa sociedade. Para gerar, afinal, mais curiosidade sobre a história de como as coisas chegaram até isso.
Mas há potencial para criar uma ambientação ampla que permita diversas histórias, até independentes entre si. A animação, já se sabe, envolve raças de híbridos diferentes, dando a entender que essa expansão é mesmo a intenção.
O problema principal neste gibi é a falta de carisma dos personagens. Os protagonistas basicamente são um grupo de pessoas dizendo lugares-comuns de tramas militares e falando todos da mesma maneira. É preciso fazer certo esforço para diferenciar uns dos outros.
É claro que, sendo esta uma primeira parte, isso pode ser desenvolvido em edições futuras. No entanto, como cartão de visita, esse item não ajuda o leitor a se envolver na trama. Isso precisa melhorar nas histórias seguintes.
Outro ponto que vale uma discussão é o excesso ostensivo de termos em inglês numa publicação voltada para o mercado brasileiro. Wardogs pode até ser a tentativa de emplacar uma marca para o mercado internacional. Mas – em que pese a visível admiração dos autores pela narrativa de ação estadunidense – é no mínimo um exagero usar, aqui no Brasil, chronicles em vez de crônicas (ou algo que o valha) e o subtítulo ser War Age. E ainda mais Part 1 (sem a letra “e” no final).
Depois disso, situar o local do começo da história como The Dome também soa como um anglicismo reverente e desnecessário.
Classificação: