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Antes de Watchmen – Volume 4 – Dr. Manhattan

13 setembro 2013

Antes de Watchmen – Volume 4 – Dr. ManhattanEditora: Panini Comics – Maxissérie mensal

Autores: Dr. Manhattan – J.M. Straczynski (roteiro), Adam Hughes (desenhos) e Laura Martin (cores) – Originalmente em Before Watchmen – Dr. Manhattan # 1 a # 4;

A condenação do Corsário Carmesim – John Higgins (roteiro e desenhos) – Originalmente em Before Watchmen – Minutemen # 3, Silk Spectre # 3, Comedian # 3, Nite Owl # 3.

Preço: R$ 12,90

Número de páginas: 104

Data de lançamento: Agosto de 2013

Sinopse

Dr. Manhattan – O poder de moldar o tempo e o espaço. A capacidade de prever o futuro e revisitar o passado sempre que quiser. E, mesmo com esses dons acima de qualquer escala humana, o onipotente Dr. Manhattan está agora preso em uma teia de acontecimentos tão catastróficos, que nem mesmo suas espantosas habilidades podem ser capazes de evitá-los.

O mal que fazem os homens... - Parte 2 – Depois de ser libertado pelo Corsário Carmesim para obter três itens em troca de sua liberdade, o oficial júnior da marinha real inglesa se vê preso nos porões de uma nau francesa de traficantes de escravos.

Positivo/Negativo

Quando o projeto desta maxissérie foi anunciado sob um turbilhão de polêmicas, a maior expectativa seria mais um “caça-níquel” da DC Comics – que sempre lucrou com as várias versões comemorativas da obra original – ou um exercício do universo recriado aos moldes de Alan Moore e Dave Gibbons.

No Brasil, Antes de Watchmen estreou em acertados encadernados de cada um dos seus personagens. Straczynski mostrou sua versão “morna” do Coruja, um personagem propositalmente moldado para ser decadente e desinteressante. Tão “chato” que até a sua edição referente em Watchmen (a número 7) também é, incluindo o material extra, um pedante artigo sobre ornitologia por Daniel Dreiberg.

J. Michael Straczynski se redime neste volume, focado no poderoso Dr. Manhattan, justificando por que o projeto existe: com base nos conceitos de Moore, o escritor vai além e garante um verdadeiro exercício de criatividade.

Principalmente porque a complexidade do personagem vai muito além do “Antes”, “Durante” e “Depois” de Watchmen. Dar essa impressão de onipresença pode se mostrar uma tarefa ingrata e não alcançada, vide a versão cinematográfica de Zack Snyder.

Na trama de Dr. Manhattan, são aplicados os princípios da Física Quântica, nos quais infinitos universos coexistem ao mesmo tempo e espaço, principalmente o famoso paradoxo do Gato de Schrödinger.

Em 1935, o físico austríaco Erwin Schrödinger (1887-1961) desenvolveu um experimento mental para justificar o problema da chamada “Interpretação de Copenhague” da mecânica quântica, que foi aplicado a objetos do cotidiano, nos quais os resultados não podem ser deterministas e a realidade é criada por um processo de observação não físico, entre outras conclusões.

Em resumo, o experimento consiste em colocar um gato posto em uma caixa lacrada junto com uma cápsula contendo veneno, tendo 50% de chance do recipiente se quebrar e matar o animal. A mecânica quântica sugere que, depois de um tempo, o gato está simultaneamente vivo e morto. O impasse só será resolvido quando se olhar dentro da caixa.

Essa é toda a base para que Straczynski brinque com as novas possibilidades fora do universo de Watchmen. Apesar de parecer complexo, a leitura é fluida, cheia de alusões e com uma explicação sem parecer tão didática do experimento mental de Schrödinger no meio da trama.

Além de não repetir a obviedade de explorar apenas as origens de Jon Osterman/Dr. Manhattan, o escritor mostra novos ângulos e horizontes do que poderia ser a história do personagem de uma forma criativa, livrando-se, inclusive, da “camisa de força” da estrutura narrativa da obra original.

A troca de perspectivas entre o protagonista e Ozymandias na última parte não fica apenas na mudança de voz narrativa dos personagens: é preciso virar o encadernado de cabeça para baixo também.

Não é de hoje que Straczynski faz tais experimentalismos narrativos. Em Risings Stars, por exemplo, ele obriga o leitor a ler uma página contra a luz para “enxergar” os fantasmas que assombram um personagem (e que são desenhados na página posterior, com os balões invertidos, para serem lidos apenas com esse procedimento).

Elementos de Watchmen, como a Guerra Fria, Marte, o ofício de relojoeiro e o Vietnã são bem aproveitados, mesmo não sendo o fio condutor da história. Outros, como a infância e os pais de Jon Osterman, ganham mais camadas.

Quem esperava ver as curvas das beldades que fizeram a fama de Adam Hughes irá se decepcionar. Em compensação, a expressividade dos personagens (outra marca registrada do artista) é uma atração à parte no arco.

A sutileza da composição da página 79, na qual Ozymandias apresenta seu tique nervoso na fração de segundo é um bom exemplo da narrativa visual de Hughes.

Preste atenção também na sempre competente paleta de cores de Laura Martin (que faz a maioria dos trabalhos de John Cassaday), casando perfeitamente com a atmosfera do enredo e a arte.

Melhor arco de histórias do projeto até agora, Dr. Manhattan não desmerece a inteligência do leitor, tem um quê filosófico sobre as escolhas e garante o entretenimento.

Em mais um capítulo de A condenação do Corsário Carmesim, novamente a Panini credita a história para Len Wein, apesar de ele ter abandonado o projeto desde a última parte, publicada no encadernado anterior, Antes de Watchmen - Rorschach, no qual Higgins assume a função.

Continua a longa narrativa pomposa, bons desenhos e um inexplicável motivo de existir sem ser um mero “tapa-buraco”.

Outro ponto negativo na edição é não ter todas as belas capas de Hughes na galeria nas páginas finais (falta a referente ao número 2 do original).

Classificação

4,0

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