Mais de sete décadas após o surgimento do Superman, muitos ainda consideram o gênero super-heróis infantil e limitado a confrontos com vilões. A História mostra o quanto estão enganados.

Ao longo do tempo, justiceiros uniformizados vivenciaram tramas com questões políticas e sociais, românticas e intimistas, de enfoque psicológico ou científico, para todo tipo de público e leitores de diversas idades. Embora logo se pense em clássicos como Watchmen, o fato é que os primórdios já lidavam com a ameaça da guerra e capitalistas desonestos.

E o livro Who can save us now?, editado por Owen King e John McNally, surge com 22 histórias em prosa, como mais uma demonstração de que não há limites para esses personagens fantásticos que encantam gerações.

O grande mérito da obra, sem dúvida, é a diversidade. Com 22 histórias assinadas por autores distintos, há espaço para todo tipo de interpretação para os heróis - fantasiados ou não. Assim, há desde tramas mais sérias, que exploram o efeito de vigilantes na sociedade a trabalhos bem-humorados sobre superpoderes ridículos, até parábolas sobre a intolerância e o drama da maternidade.

Precedendo cada conto, há uma ilustração de Chris Burham. Claro que o nível das aventuras varia muito, como é praxe em coletâneas, mas o que salta aos olhos é a abordagem fora do convencional para um tema cada vez mais presente no universo da cultura pop.

Começando pelos contos mais sóbrios, Girl reporter, de Stephanie Harrell, mostra o relacionamento de uma jornalista com o super-herói recém-chegado à cidade, invertendo claramente valores do casal Lois Lane e Superman.

Já as demais propostas escapam de paralelos com quadrinhos conhecidos. Muitos ignoram até os uniformes e identidades secretas. O escritor Scott Snyder, que despontou recentemente em Vampiro Americano e Batman, comparece com uma história agridoce sobre um jovem afetado por energia nuclear nos tempos da Segunda Guerra Mundial. E, em Nate Pinckney-Alderson, Superhero, se vê o efeito de um homem comum com um feito extraordinário na vida de uma criança.

Algumas tramas se destacam justamente por ridicularizar o gênero, algo que pode não ser muito original, mas sempre diverte. Em The Somewhat Super, David Yoo apresenta o grupo com os poderes mais ridículos e inúteis já imaginados. Há o homem com a habilidade de nunca precisar ir ao banheiro, o azarado cujo pênis diminui de tamanho toda vez que ele fica excitado e a mulher que pode cantar mais baixo que qualquer pessoa. E mesmo esses dons pouco suspeitos os tornam alvos do interesse do governo norte-americano.

Por outro lado, em Man Oh Man - It's Manna Man, de George Singleton, se destaca o humor cáustico sendo utilizado para contestar instituições como a religião e o poder da mídia.

Algumas narrativas são muito curtas ou pouco imaginativas, entretanto. Há as óbvias situações sexuais para um homem-fera e a saga de uma mulher capaz de interpretar qualquer linguagem, que não impressionam. Mas, brincando com as convenções dos quadrinhos de super-heróis, investindo em situações fantásticas ou apenas dando vazão ao desejo de ser diferente, Who can save us now? é uma boa pedida para qualquer um que curta essa divertida forma de mitologia contemporânea.