Will Eisner – Um sonhador nos quadrinhos
Editora:Globo – Livro teórico
Autor: Michael Schumacher
Preço: R$ 65,00
Número de páginas: 408
Data de lançamento: Agosto de 2013
Sinopse
A biografia de um dos maiores nomes dos quadrinhos norte-americanos, bem como um de seus pioneiros mais profícuos. Indo desde a chegada dos pais de Eisner aos Estados Unidos até a morte do autor.
Positivo/Negativo
O livro de Michael Schumacher (sim, o nome é igual ao do campeão de fórmula 1) faz um apanhado de toda a obra do quadrinista norte-americano Will Eisner. E falar desse mestre é, ao mesmo tempo, fácil e muito difícil.
Fácil porque suas obras, desde Spirit, na década de 1940, até O complô, editado postumamente são primorosas. Eisner era um gênio. Até seus trabalhos mais fracos são melhores do que 99% das obras editadas nos quadrinhos norte-americanos mês a mês.
Difícil porque atentar-se aos fatos e deixar de lado a reverência e a estupefação com trabalhos tão relevantes é tarefa hercúlea.
Nesse ponto, Schumacher consegue dosar e ser equilibrado. Não em todos os momentos, porque realmente não se trata de um biografado normal, mas sim de um notável, daqueles que não aparece todos os dias no mundo. Mas na maioria do livro há, sim, uma capacidade do autor de manter-se o mais isento possível.
Para isso, o escritor volta à infância de Eisner, que permeia o livro todo. As dificuldades de ser uma criança judia e pobre no Bronx da década de 1930 permeiam praticamente toda a obra de Will Eisner. Bem como sua visão de negócios.
Para Schumacher, foram os problemas financeiros enfrentados pela família, somados a um pai artista frustrado e uma mãe austera, que desenvolveram no jovem Bill (ele é chamado assim no início do livro) a habilidade para contar histórias e o tino para os negócios ao mesmo tempo.
O livro conta como, muito jovem, Eisner se uniu a Jerry Iger para fazer uma das primeiras e mais proeminentes empresas de quadrinhos da década de 1930. Também narra como Eisner pilotava os negócios da empresa e como tratava os artistas que com ele trabalhavam.
Nomes que ficaram muitos famosos na indústria passaram pela Eisner & Iger e tiveram ali ótimos momentos ao lado do chefe. Dentre eles, Jack Kirby, Joe Simon e Bob Kane, para citar apenas alguns. Também é interessante a passagem em que Eisner diz que a história de dois garotos de Cleveland, Joe Shuster e Jerry Siegel não era muito bem desenvolvida.
Depois disso, Schumacher destrincha a criação do Spirit, a obra mais longeva do mestre. O leitor descobre como Eisner utilizava ajudantes para agilizar a produção das oito páginas semanais da história, como foram feitos os acordos de licenciamento, o que foi feito com a personagem quando o autor teve que servir o exército na Segunda Guerra Mundial e também o que o levou a abandonar seu “filho” mais ilustre.
A seguir, o biógrafo apresenta outras obras de Eisner, pouco conhecidas pelo público em geral e ainda mais desconhecida do brasileiro. Trabalhos feitos para o exército, para vender produtos ou para educar pessoas. É aí também que o leitor toma conhecimento do real intuito de Eisner: apresentar os quadrinhos como mídia capaz de passar mensagens. Qualquer mensagem. E, em muitos casos, melhor do que qualquer outra mídia existente.
Na terceira parte do livro, chegam as graphic novels, começando com a obra-prima Um contrato com Deus e seguindo por diversas outras como Avenida Dropsie, O nome do jogo, O último dia no Vietnã, New York e Ao coração da tempestade, apenas para citar algumas.
No caso das graphic novels, Schumacher faz um trabalho primoroso ao mostrar ao leitor o que é autobiográfico e o que é ficção em cada uma dessas obras. Assim, o leitor descobre, na obra de Eisner, cada intervenção de sua vida particular. Afinal, como o próprio autor dizia, um escritor só sabe escrever sobre aquilo que viveu.
Schumacher também não se furta de comentar sobre editores, mercado de quadrinhos, parceiros e desafetos de Eisner, colocando o leitor dentro do mercado estadunidense de quadrinhos desde a sua gênese até os dias atuais.
Há apenas um aspecto terrível na obra: a versão brasileira. É inadmissível que uma editora do tamanho da Globo, braço da maior empresa de comunicação do País, que lança um livro caro, capa dura, com distribuição em praticamente todas as livrarias do Brasil, lance um livro que contém notas no final do volume, mas sem a identificação nas páginas pregressas.
Ou seja, ao final, o leitor vê: “notas”, e descobre que havia mais de 360 delas em algum lugar do livro. Mas que não estão marcadas nas páginas de origem. Realmente péssimo.
Enfim, descontando-se a enorme mancada da Globo, a obra de Schumacher tem um efeito colateral no leitor: a necessidade de reler todos os álbuns de Eisner. De novo e de novo e de novo. Como toda obra-prima merece.
Classificação