X-MEN EXTRA # 31
Autores: X-Treme X-Men - Chris Claremont (roteiro) e Salvador Larroca e Igor Kordey (desenhos);
X-Táticos - Peter Milligan (roteiro) e Philip Bond (desenhos);
Exilados - Judd Winick (roteiro) e Kev Walker (desenhos).
Preço: R$ 6,50
Número de páginas: 96
Data de lançamento: Julho de 2004
Sinopse: X-Treme X-Men - Após participar de uma missão de salvamento, Sam Guthrie, o Míssil, percebe que a relação pacífica entre humanos e mutantes ainda é um ideal longe de ser alcançado. E ele terá de tomar uma importante decisão sobre seu nível de envolvimento com o assunto.
Enquanto isso, o reverendo William Stryker foge da prisão com a ajuda de Lady Letal, e prepara-se para retomar sua cruzada antimutante. É o início de Deus Ama, O Homem Mata II.
X-Táticos - Ao esvaziar o quarto de Edie Sawyer, Vênus Dee Milo encontra os diários da ex-namorada de Guy. E eles trarão revelações surpreendentes sobre o passado da mutante conhecida como Vai Nessa.
Exilados - Tony Stark e o Arma X fecham o cerco sobre os Inumanos. Alheio ao pânico, Raio Negro toma uma decisão extrema, que selará o destino de seu povo.
Positivo/Negativo: Chris Claremont possui uma carta na manga que, como mostra a história, adora usar após um longo período roteirizando um título: a manobra de fazer com que seu trabalho, repentinamente, dê um salto criativo e apresente novidades que nem os leitores mais fanáticos poderiam esperar.
Tal recurso pode render resultados fantásticos, como Dias
de Um Futuro Esquecido, que veio logo após a Saga da Fênix.
Mas também pode ir na direção contrária e gerar situações desastrosas,
como a continuação da famosa graphic novel Deus Ama, O Homem Mata,
que começa nesta edição.
É fato: Claremont não consegue mais escrever histórias decentes com os mutantes. Prova disso é o fraquíssimo plot dessa continuação: após dar a extrema-unção a um preso na costa oeste, William Stryker é resgatado por Yuriko Oyama, a Lady Letal, no vôo de volta. A ciborgue ainda assassina toda a tripulação do avião e, usando o rádio, faz parecer que a culpa foi dos X-Men.
Os dois então pulam (!) da aeronave, que está prestes a explodir, sobrevivem de alguma forma que não é mostrada e vão até Chicago atrás de Kitty Pryde, uma das protagonistas da aventura original. Enquanto isso, os X-Treme X-Men vão investigar o local da queda e são surpreendidos por uma equipe de soldados high-tech.
A história, claramente baseada no roteiro do filme X-Men 2 (Stryker e Letal trabalhando juntos; X-Men enfrentando soldados), não chega nem perto de causar a comoção de sua predecessora. Os diálogos são fracos, a evolução do argumento é previsível e algumas passagens são tão forçadas, que só se justificam por meio das manias do autor. O sempre incômodo hábito de descrever os poderes dos personagens, por exemplo, mostra-se presente na "luta" entre Tempestade e Míssil, e o uso desmedido de frases feitas permeia todo o primeiro encontro entre Oyama e Stryker.
Mas o grande problema da primeira parte de Deus Ama, O Homem Mata II é a total ausência de carisma em relação à graphic novel original. Aqui, toda a carga emocional que Claremont tão bem construía ao retratar a Cruzada Stryker sob os olhos da pequena Kitty Pryde ou do vingativo Magneto, desaparece em função de um roteiro tão pretensioso quanto estéril, que simplesmente não instiga o leitor a esperar pela seqüência.
A angústia que acompanhava o leitor conforme a aventura de 1982 progredia, desapareceu. William Stryker está de volta, tem novos aliados e a tecnologia do século XXI a seu lado, mas simplesmente não parece representar uma ameaça. Tanto que todos os X-Men terminam a história em situações de risco, mas em nenhum momento isso é passado a quem lê a revista. Parece que os mutantes, uma hora ou outra, arranjarão um jeito de se livrar da ameaça e triunfarão.
Ou seja, previsibilidade total. Daquele sentimento de desespero que se tinha quando a Lince Negra fugia de seus potenciais assassinos por ruas inóspitas, não sobraram nem resquícios. E é duro constatar que, em pouco mais de 20 anos, Claremont foi de um extremo a outro; e hoje macula violentamente sua própria obra sem se dar conta disso.
Os desenhos de Igor Kordey conseguem acompanhar a ruindade do roteiro. Ele é péssimo para retratar as faces dos personagens (como Wolverine, na página 37, ou Lince Negra, na 39); tem uma noção de arte seqüencial pouco melhor que a de seu antecessor (Salvador Larroca) e nem de longe confere à arte a beleza sóbria que Brent Anderson esbanjava na graphic novel original.
Mas o pior defeito dos desenhos é repetir o erro de Chris Claremont no argumento e copiar o filme X-Men 2. William Stryker (que, supõe-se, envelheceu mais de dez anos) está completamente descaracterizado. Se antes ele era um idoso franzino, agora é um homem na casa dos 50 anos, atlético, alto e forte. E também com um cavanhaque! Yuriko Oyama ajeitou o visual, ficou bonita de repente e não lembra em nada a Lady Letal que perseguia Wolverine com sua roupa de ninja. E suas unhas estão idênticas à da versão cinematográfica, tornando-se, inclusive, retráteis.
A impressão é que Deus Ama, O Homem Mata II pode ser nada menos do que uma tentativa frustrada de levantar o prestígio de Claremont entre os fãs, mas que, assim como a maior parte do trabalho do escritor ultimamente, acabará não passando da mediocridade. Resta esperar pelas próximas partes.
Antes da estréia da minissérie, a revista traz a última história do desenhista espanhol Salvador Larroca no título. E nela, ele repete os mesmos defeitos exibidos durante toda a série: narrativa pobre, fisionomias idênticas, mudanças repentinas no posicionamento dos personagens e muitas, muitas poses.
Já o roteiro de Claremont, como o leitor poderia prever, continua decepcionante: clichês, pieguices, frases feitas e enrolação para chegar ao ponto. Saldo final: o retorno do carismático Míssil às histórias dos X-Men, da forma menos empolgante possível.
Larroca deixou os desenhos de X-Treme X-Men para ir trabalhar em Namor, da linha Tsunami, mas continua como capista da série. É dele, inclusive, a ilustração desta edição.
Em X-Táticos, Peter Milligan assina mais uma aventura competente e divertida. Fugindo do estilo anárquico que marcou as últimas edições, assume um lado mais sensível para contar a história de uma das personagens mais cativantes de sua X-Force, a Vai Nessa, também conhecida como Edie Sawyer.
Milligan acerta duas vezes. Primeiro, por conseguir narrar o passado da personagem de forma leve e descontraída, sem cometer exageros ou enfeitar o roteiro com situações inverossímeis. E segundo, por combinar perfeitamente o ritmo da história de Edie Sawyer com o de Vênus Dee Milo, não por acaso os dois amores da vida de Guy Smith.
O resultado é primoroso, mostrando uma espécie de encontro entre duas mulheres que nunca se conheceram, mas que, ao mesmo tempo, estão curiosamente interligadas. E não apenas pelo namorado, como o autor faz questão de mostrar e o leitor não demorará a perceber.
Outro ponto a favor de Milligan é não descaracterizar a personagem que criou. Edie Sawyer não se torna uma mártir. Pelo contrário, sua trajetória é tão tortuosa quanto a de qualquer candidata a atriz que chega a Hollywood à procura de uma vida de sucesso. E isso inclui hotéis vagabundos, empregos ruins, solidão e ilusões indo pelo ralo, entre outros tipos de complicações.
O diferencial é que a protagonista é mutante. E também nada inocente. O autor não só sabe disso, como apóia seu argumento sobre esses elementos, gerando uma história deliciosa de se ler e livre de clichês.
A arte de Philip Bond merece destaque. O desenhista conseguiu pegar tudo que havia de bom nas ilustrações de Michael Allred e elevar ao quadrado. Os traços estão mais limpos e delicados, mas o vigor pop criado por Allred continua todo lá. Só que, dessa vez, embasado por uma narrativa mais refinada.
De quebra, os desenhos encaixam-se ao roteiro tão perfeitamente quanto os de seu antecessor, resultando numa combinação cada vez mais difícil de encontrar atualmente. Uma história tão boa de ler quanto de olhar.
Em Exilados, Judd Winick despede-se do título da melhor forma possível. Utilizando-se de uma das realidades mais distorcidas que já criou para a série, o escritor consegue contar uma história bela e intimista, numa trama com ares épicos. E sem escorregar nem uma vez.
A trama é montada de forma exemplar, sem deixar pontas soltas ou "encher lingüiça" com passagens esdrúxulas. E serve a um argumento simples, porém eficiente: os Inumanos estão acuados pelo maior exército do mundo, sem perspectivas de vitória e prestes a serem capturados para estudos genéticos. O fim é inevitável. Que atitude tomar em uma situação dessas?
Fazendo uma interessante alusão à história real de Massada - quando um grupo de aproximadamente mil judeus preferiu o suicídio em massa a entregar suas vidas ao exército romano - Winick encontra a resposta ideal para compor o que talvez seja seu melhor roteiro à frente do título. E um dos maiores momentos da revista X-Men Extra até agora.
Pena que esta seja a última história do roteirista em Exilados. Seu substituto, a partir do próximo mês é... Chuck Austen, que vem acumulando críticas com seu trabalho à frente dos Fabulosos X-Men.
Os desenhos de Kev Walker continuam funcionais. Ele apenas exagera um pouco mais nos traços, enchendo algumas cenas de "rabiscos", mas nada que comprometa o visual. O artista aplica à arte o tom certo para narrar o roteiro de Winick, enchendo as páginas de um elemento imprescindível à história - sentimento. Certamente, não se trata de um trabalho excepcional, mas cumpre sua parte com louvor.
Não fosse pelos X-Treme X-Men, cuja qualidade estava subindo nas últimas edições, mas agora se encontra em queda livre, esta edição teria tudo para se tornar memorável entre os fãs. Mas a pretensão de Chris Claremont acaba comprometendo a revista. Mais uma vez.
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