X-MEN EXTRA # 33
Título: X-MEN EXTRA # 33 (Panini Comics) - Revista mensal
Autores: X-Treme X-Men - Chris Claremont (roteiro) e Igor Kordey (desenhos);
Wolverine & Dup - Peter Milligan (roteiro) e Darwin Cooke (desenhos);
Exilados - Chuck Austen (roteiro) e Clayton Henry (desenhos).
Preço: R$ 6,50
Número de páginas: 96
Data de lançamento: Setembro de 2004
Sinopse: X-Treme X-Men - A equipe de Tempestade invade o Monte Refúgio, mas acabará encontrando problemas onde menos espera. Enquanto isso, Wolverine tem uma batalha decisiva com Lady Letal; e Kitty Pryde se aproxima de descobrir o que há por trás da misteriosa cidade.
Wolverine & Dup - O desaparecimento do místico artefato Mink Pink unirá o mutante canadense e o mascote dos X-Táticos em uma aventura psicodélica, estranha... e cor-de-rosa!
Exilados - A nova missão do grupo é eliminar o Destrutor do Universo Marvel regular. Isso se eles conseguirem passar por cima de todos os X-Men do Instituto Xavier.
Positivo/Negativo: Como era esperado, Deus Ama,O Homem Mata II continua sua jornada rumo ao fundo do poço. Na tentativa de jogar alguma luz sobre a desastrada trama que vem tecendo desde o início, Chris Claremont piora ainda mais a história e mostra que não é capaz de descascar o abacaxi que plantou.
Os problemas que as novas partes trazem (e que se somam aos antigos) são basicamente dois: o excesso de personagens e tramas paralelas, que prejudica a linearidade e torna o enredo complexo demais; e a incapacidade do autor de juntar todos os elementos em uma história coesa e interessante.
Isso é claro nas edições compiladas de X-Treme deste número. Depois de jogar dezenas de elementos dispersos (Lady Letal, William Stryker, o reverendo Paul, o Monte Refúgio, os próprios X-Men) nos últimos números, Claremont agora tenta conectá-los para, finalmente, resgatar o feeling da obra antiga. O que, obviamente, não ocorre, já que nenhum dos ingredientes dessa salada mista tem o mínimo de carisma para prender o leitor, e o roteirista há muito não possui a verve que tornava inesquecíveis as longas sagas que escrevia no passado.
Assim, a história é apenas o rastejar de uma trama muito ruim que se estendeu mais do que a paciência de qualquer leitor poderia suportar. Quanto mais Claremont tenta elucidar o mistério sobre o Monte Refúgio (e sua relação com Stryker e os X-Men), mais a má qualidade do enredo se expõe. E quanto mais o leitor se aplica para entender a bagunça do roteiro, mais se dá conta de que o esforço é inútil.
Adicione-se isso aos outros absurdos da história, constatados nas resenhas das edições 31 e 32, e não será difícil concluir que Deus Ama, O Homem Mata II merece a lixeira.
Para sorte do leitor, a trama acaba na edição de outubro, na qual Claremont poderá ou surpreender a todos e criar um clímax extremamente bom, ou ratificar as expectativas gerais e apenas pôr um ponto final em um dos trabalhos mais vergonhosos de sua carreira.
Independente de qual seja o resultado, o certo é que esta não será a última das peripécias do escritor à frente do malfadado título. X-Treme X-Men ainda tem outras longas 16 edições pela frente.
Neste número, mais uma vez os X-Táticos cedem seu lugar, dessa vez para a microssérie Wolverine & Dup. Escrita por Peter Milligan, a história é um thriller psicodélico envolvendo mutantes, alucinações e um casaco de pele cor-de-rosa.
Os mais desavisados podem achar que, devido à presença de Dup, a trama seja ácida e recheada de piadas sarcásticas, como nos X-Táticos, mas não é o caso. Milligan assumidamente muda o foco para compor uma trama retrô, que homenageia os filmes noir dos anos 40, ao mesmo tempo em que inova, fazendo uso de uma narrativa mais fragmentada.
A aventura começa quando um casaco-de-pele com poderes místicos (!) é roubado e Wolverine é contratado para investigar o caso. Quando os X-Táticos descobrem que o contato com a tal indumentária pode levar mutantes a terem alucinações com uma criatura chamada Lady Pink, Dup é escalado para ajudar o canadense.
Soa absurdo? Sim, mas Milligan não deixa a trama cair no ridículo e entrega um roteiro delicioso, que passeia calmamente entre as cenas e evita afobações. Sofisticação que cai como uma luva para o clima de fantasia da história, que tem uma narração misteriosa (o locutor não se identifica), reforçando o clima de filme noir.
Se existe algum "porém" no roteiro, são os bruscos cortes que ocorrem nas cenas, dificultando o entendimento. Várias seqüências importantes (como a invasão à casa do Colecionador) são finalizadas sem mais nem menos, quebrando o ritmo da obra e tornando necessária uma segunda leitura.
Dependendo do leitor, pode ser um defeito grave, já que a compreensão total da história (por si só bastante complexa) é necessária para que possa ser apreciada da forma adequada.
A arte de Darwin Cooke é o outro trunfo. Seu estilo cartunesco, mesmo correndo o risco de ser mal-interpretado, cria a ambientação perfeita para o roteiro, chegando a ter um efeito sinestésico sobre o leitor. Para tal, ele carrega as páginas com uma estilização "embriagada", usa e abusa de sombras e tons escuros (mais uma influência do cinema noir) e carrega nas cores, principalmente o rosa.
O resultado é a sensação de estar vendo um filme em animação, e não lendo uma HQ. Em alguns momentos, a arte lembra a produção Mundo Proibido, de 1992, uma trama também detetivesca, na qual personagens animados interagiam com seres humanos reais. A película era ruim, mas continha uma mistura inovadora de charme e trash. Felizmente, a obra de Milligan e Cooke só herda o charme.
Em Exilados, Chuck Austen perde a noção do ridículo. De novo.
Se na última edição o autor salvou seu trabalho com a trama escapista, nesta ele prefere se levar a sério, voltando a entregar um mau argumento. A história não chega a ser tão ruim quanto as últimas edições de Fabulosos X-Men, mas está, no mínimo, a anos-luz de distância do que Judd Winnick fazia no título.
No plot descabido da vez, Austen inventa que o Destrutor do universo regular da Marvel é o "nexo" de todas as realidades existentes e que, de repente, ele começou a causar "panes no sistema", tornando necessária a ação de grupos como os Exilados.
A missão do momento (criada apenas para realizar um desnecessário crossover entre os títulos mutantes que Austen roteiriza), é achar esse Destrutor e impedir que uma personalidade maligna, que está prestes a se apoderar de seu corpo, cause dano a duas crianças do Instituto Xavier.
O número de baboseiras é tamanho, que é preciso tomar fôlego. Numa visão mais reducionista, pode-se dizer que Austen comete dois erros básicos: mexer na origem dos Exilados, até então bastante simples, desfigurando uma das poucas histórias no Universo Marvel cuja clareza parecia estar a salvo do invencionismo de outros roteiristas; e, usando um argumento estapafúrdio, "botar a colher" num personagem que já estava consolidado, comprometendo todo seu passado.
Será que Austen não parou para pensar que, caso Destrutor realmente fosse um "nexo de todas as realidades", seria impossível esse fato não ter influência em eventos passados? O que aconteceu com as outras realidades quando o herói "morreu"? E quando esteve em coma? O número de perguntas que uma inserção retroativa dessa magnitude causa é enorme. Mas o roteirista não fornece nenhuma resposta.
Outro absurdo: há 16 protagonistas para 22 páginas de história, o que resulta em personagens superficiais ao extremo, limitados a falas óbvias, clichês e participações figurativas. E isso porque Austen não colocou Xavier, Ciclope, Polaris e Noturno na trama... ainda.
Quer mais? Em certo ponto da história, Anjo vê Illyana Rasputin, morta há anos no universo regular, surgir bem na sua frente. Sua reação? "Tsc! O que você veio fazer aqui, vai ter que esperar". Pior que isso, só o maniqueísmo patético usado pelo Corretor do Tempo para explicar as diferenças entre as duas consciências de Destrutor: "uma personalidade é muito, muito boa, e a outra, muito, muito má". Parece o presidente norte-americano!
Na arte, Clayton Henry não compromete. O desenhista mistura os conceitos básicos dos comics com traços de mangá sem exagerar na dose, não "orientalizando" a revista, nem negando as influências do estilo japonês. Seu único defeito talvez seja o visual excessivamente clean dos personagens e cenários: é tudo bonitinho, certinho, em ordem, como manda o manual do politicamente correto. Exatamente o mesmo que fazem Kieron Grant (Novos Mutantes) e Randy Green (Emma Frost).
Ou seja, para Henry vale a mesma lição que já existia para os outros dois: se quiser que seu trabalho seja relevante no abarrotado mercado mainstream, terá que tirá-lo do senso comum.
De resto, vale apenas citar o único ponto positivo do texto: seu ritmo, que permite à história fluir sem qualquer complicação. Se essa fosse a única variável qualitativa de uma HQ, Austen estaria feito. Infelizmente para ele, conteúdo ainda conta.
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