X-MEN EXTRA # 35
Título: X-MEN EXTRA # 35 (Panini Comics) - Revista mensal
Autores: X-Treme X-Men - Chris Claremont (roteiro) e Igor Kordey (desenhos);
X-Táticos - Peter Milligan (roteiro) e Mike Allred (desenhos);
Exilados - Chuck Austen (roteiro) e Clayton Henry (desenhos).
Preço: R$ 6,50
Número de páginas: 96
Data de lançamento: Novembro de 2004
Sinopse: X-Treme X-Men - Vampira e seus amigos começam a investigar as compras de casas em Vale Soleada e suas ligações com o atentado que matou a família da terrorista Marie D´Ancanto. Mas logo descobrirão que o responsável pode ser um rosto mais conhecido do que poderiam esperar.
X-Táticos - Os holofotes da mídia e a câmera de Dup se voltam para o mais novo integrante da equipe, El Guapo, um jovem cujo sex appeal e inexperiência em combate trarão novos conflitos para o grupo.
Exilados - É a hora da verdade para o Destrutor malvado. Se os Exilados não conseguirem expulsá-lo do corpo de Alex, a única forma de cumprir a missão será matá-lo.
Positivo/Negativo: E não é que Chris Claremont está conseguindo manter o bom nível em X-Treme X-Men? Após fiascos como A Saga de Khan e Deus Ama, O Homem Mata II, o veterano escritor parece, enfim, ter deixado seus vícios de lado, com uma história que vai além da pancadaria descabida e do sentimentalismo de boutique.
Intifada, apesar de estar longe de ser perfeita, é boa! E o mérito é todo do roteirista, pois os desenhos de Igor Kordey continuam tão ruins quanto sua estréia, na edição 31.
Parece que Claremont, mesmo tardiamente, percebeu que estilo reducionista e antiquado não tinha mais espaço numa época em que o racionalismo tem mais espaço que a fantasia, e gente como Grant Morrison, J. M. Straczynski e Brian Bendis conquistam público e crítica com histórias "pés no chão".
Até agora, a nova saga difere de tudo já publicado sob o selo X-Treme X-Men. Claremont toca em questões sérias, como política, terrorismo, corrupção, corporativismo e preconceito, de forma sensata e coerente, sem se deixar levar por pieguices ou fórmulas prontas. E o melhor: amarra tudo ao mostrar que os mutantes nem sempre são as vítimas e os humanos, nem sempre os bandidos.
Até que enfim, uma história dos X-Men em que os mutantes são vilões de forma verossímil, dispensando os discursos belicistas e neo-escravagistas de Magneto e Apocalipse (herdados do século passado e, espera-se, esquecidos junto com as sagas cósmicas e os colantes coloridos). Eles são corruptos, antiéticos e insensíveis, como os humanos (tanto os dos gibis quanto os da realidade) sempre foram. E não é nenhuma facção anarquista ou dissidência rebelde: é a própria Corporação X. Por isso, até a figura de Xavier é posta em jogo.
Ponto para Claremont, por tirar X-Treme do fundo do poço e restaurar a própria imagem. Apesar disso, ainda se vê algumas manias, como as cenas de ação grandiloqüentes (Míssil e Vampira desarmando a terrorista), os diálogos longos, repetitivos e inúteis (Tempestade conversando com os agentes da S.H.I.E.L.D) e as inserções retroativas (Míssil servindo como confidente de Vampira quando esta era uma caloura na Mansão X, para criar um vínculo emocional entre os dois), mas isso não estraga o conjunto da obra.
Mesmo assim, vale conferir a lista de "pequenos absurdos" de Intifada.
1) Na página inicial, com a descrição dos poderes dos personagens, a legenda de Gambit diz "ladrão/garanhão". O sucesso do cajun com as mulheres e seus atos criminosos (que ele há muito não executa), pelo jeito, viraram habilidades mutantes. Não só é inadequado, como ridículo.
2) A legenda de Vampira diz apenas "Anna". Entendeu? Esse é o poder dela...
3) Embora estejam ganhando altitude a uma grande velocidade, Vampira, Marie e Míssil conversam normalmente, como se estivessem em terra.
4) Vampira guarda uma faca dentro de calça. Como ela conseguiu entrar na boate portando o objeto? E se o Vale Soleada é tão pacífico, por que a moça precisa carregar uma faca?
5) Quando em queda livre, apesar da altíssima velocidade (que diminuiria consideravelmente o fluxo de sangue em seu cérebro) Vampira não desmaia, embora esteja sem nenhum de seus poderes e tão vulnerável quanto Marie, esta sim devidamente desacordada.
6) Depois de Vampira beijar Bishop, na edição anterior, desta vez é Gambit que sai "bitocando" Tempestade, nua, ainda por cima. Eis um casal liberal.
7) Tempestade, flagrada nua, invoca um raio para se vestir. Basta um "skra koom" e pronto, está de roupas. Não é a primeira vez que ela faz isso, mas continua sendo infame. E como Gambit não foi eletrocutado pela descarga?
8) A lanterna de Vampira produz hologramas dos habitantes de Vale Soleada. E isso com um tamanho igual às comuns e apenas dois botões. Que maravilhas a tecnologia não faz...
9) Quando Vampira se transforma em Mística, sua pele azul e escamosa lembra muito mais a atriz Raven Darkholme dos filmes do que a dos quadrinhos. Depois da Tempestade Halle Berry, só faltava essa.
Os X-Táticos de Peter Milligan e Mike Allred finalmente retornam à revista, e em boa forma. Após o sensível conto de Edie Sawyer (na longínqua edição 31), o autor retoma a tradicional mistura de crítica e paródia para narrar a chegada do mais novo integrante do grupo, El Guapo.
O personagem é um protótipo do típico galã hollywoodiano: jovem, bonito, sexy e com muito apelo junto ao público adolescente. Somado a isso o fato dele ser mutante, Milligan tem munição mais do que suficiente para disparar sua metralhadora verborrágica sobre quem estiver na frente.
Há críticas à indústria cinematográfica (os X-Táticos sempre conhecem seus novos aliados em um telão de cinema, arte visual por excelência, simbolizando a supervalorização da imagem), ao corporativismo (as decisões sobre a equipe são tomadas por um "pessoal de R.P.", aludindo ao fato do grupo de super-heróis ser uma empresa em primeiro lugar), à volubilidade da fama (Vênus Dee Milo referindo-se à equipe como "elenco" e Falecida dizendo que "todos somos atores", além da propositadamente inexplicada - por ser banal, como a maioria desses eventos entre pessoas famosas são - festa glamourosa com a presença de George Clooney e Kevin Smith), ao uso descarado da sexualidade para atrair público (ver o genial diálogo entre Spike Freeman e Wolverine na página 57 e, mais à frente, a insinuação de que as garotas que dormem com El Guapo foram contratadas para isso), à mídia (Dup, com seus trejeitos sarcásticos e seu oportunismo malicioso torna-se cada vez mais uma metáfora da imprensa marrom) e até à indústria farmacêutica ("quem se importa? Com nossa expectativa de vida, ninguém se preocupa com o estado de seus órgãos internos", solta Vivisector, ao explicar os efeitos colaterais da droga que cura a bebedeira).
Tudo isso regado pelo humor ácido de Milligan e pela arte pop de Allred, uma das melhores duplas a cuidar de um título mutante nos últimos anos.
Em tempo: apesar de esta ser uma história fechada, a última página traz um gancho interessantíssimo para a próxima edição. Valerá a pena esperar.
O arco Instintos Antinaturais, de Exilados, termina tão ruim como começou. Após duas histórias arrastando uma trama desinteressante, previsível e superlotada de personagens, Chuck Austen conclui com uma clímax de pancadaria desenfreada envolvendo os X-Men, os Exilados, os lobisomens e quem mais estivesse por perto.
A história, aliás, se resume a isso: uma longa cena de ação que cruza todos os personagens e tramas paralelas dispersos ao longo do arco. Como nenhum deles era interessante sozinho, juntos também não fazem muita diferença. Instintos Antinaturais acaba como uma grande perda de tempo.
E com uma bela demonstração de falta de inteligência: Austen bagunçou uma das poucas cronologias do universo X (talvez a única) que se mantinha limpa, coesa e interessante desde o começo, embora fosse relativamente jovem.
O resultado é que agora até o Corretor do Tempo se tornou um personagem dúbio (no mau sentido), como se não bastassem coisas como "Alex bom e Alex mau" e o Homem-de-Gelo mauricinho. Isso sem falar nas frases feitas à la Schwarzenegger que o autor adora espalhar pelos roteiros. A grande pérola desta edição: "Agora... todo mundo morre!", por Destrutor. Lamentável.
Como se o argumento já não fosse ruim o bastante, a arte de Clayton Henry está longe de ser um primor (o Arcanjo está a cara do He-Man!). A infantilização exagerada dos personagens e a pouca ousada estilização mangá deixam o trabalho muito clean, apático, totalmente preso ao lugar-comum. É visualmente correto, mas estéril. E isso não impede que o estilo esteja cada vez mais em moda nos Estados Unidos. Preocupante.
Um equívoco curioso: na pág. 81, Destrutor é ferido por um lobisomem nas costas. Na 86, quando acorda, o ferimento passa para o abdômen. Na 88, ele some no quadrinho superior e reaparece no inferior. Na 90, desaparece novamente. Na 91, retorna. E, finalmente, some de vez na 92. Será que o machucado ficou "andando" das costas para a barriga, escolhendo onde ficar?
Para sorte dos leitores, a dupla se despede com esta edição. Em dezembro, o bom filho Judd Winick retorna para pôr ordem na casa.
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