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X-MEN NOIR

1 dezembro 2011

X-MEN NOIR

Editora: Panini Comics

Autores: Fred Van Lente (texto) e Dennis Calero (arte) - Originalmente em X-Men Noir # 1 a # 4.

Preço: R$ 19,90

Número de páginas: 120

Data de lançamento: Agosto de 2011

 

Sinopse

Nova York, 1937. Os chefões do submundo, os tubarões, os criminosos controlam a polícia, a igreja... Só não controlam os X-Men, um bando de garotos de uma escola de Westchester, dirigida por um psicólogo louco chamado Charles Xavier.

O inspetor-chefe Eric Magnus quer convencê-los a entrar no esquema, mas Xavier sempre os manteve longe de suas garras. Comenta-se que ele usou a escola para ensinar aos jovens a arte do crime...

Depois que um dos alunos decidiu alçar voo do telhado do Instituto e se estatelou no asfalto, Xavier acabou preso.

Agora, o corpo de uma jovem com um belo "X" tatuado no ombro direito foi encontrado na costa da ilha do Bem-Estar: o cadáver de Jean Grey, outra aluna de Xavier. Como ela morreu? Quem a matou? Mas, acima de tudo, existe alguém disposto a descobrir a verdade? Os rapazes de Magnus é que não são, pois, quando Sebastian Shaw, líder do Clube do Inferno, dá uma ordem, eles obedecem.

O único aparentemente interessado em fazer as perguntas certas é Thomas Halloway. Uma espécie de anjo da guarda.

Positivo/Negativo

E se no lugar dos filhos do átomo os X-Men fossem filhos da depressão? Ou seja, e se em vez de terem sido criados na década de 1960, pela dupla Stan Lee e Jack Kirby, na época da paranoia de uma guerra nuclear entre as duas superpotências, os mutantes tivessem surgido nos anos 30, tempos difíceis para a economia norte-americana e famosos pelos filmes de detetives e pela literatura pulp?

Esta foi a proposta de uma minissérie em quatro partes lançada nos Estados Unidos em 2010 e que foi encadernada no Brasil pela Panini em uma edição luxuosa, com papel de primeira, capa dura e preço camarada.

X-Men Noir segue o padrão que a editora adotou em outra publicação da mesma linha que teve o Homem-Aranha como protagonista, em maio. Mas a aposta com o grupo de adolescentes foi ainda mais ousada que a adaptação anterior.

Naquela ocasião, o aracnídeo acabou conservando muitas de suas características da versão oficial, como os poderes (apenas houve a substituição da origem tecnológica deles por algo místico). Já na transposição de Scott Summers, Jean Grey, Bobby Drake, Hank McCoy e Warren Worthington houve uma escolha que simplesmente os redefiniu: eles deixaram de lado os poderes mutantes para serem apresentados como jovens sociopatas.

"Indistinguíveis da espécie dominante, livres das restrições da sociabilidade, incomparavelmente capazes de manipular os cidadãos abusando de sua ultrapassada empatia". Dessa forma Charles Xavier, um psicólogo caído em desgraça, anunciou o fenômeno em um trabalho jamais publicado pelos periódicos acadêmicos: "Considerações finais sobre diagnóstico e tratamento de adolescentes sociopatas".

Sim, mesmo nesta nova encarnação, o professor considera seus problemáticos pupilos o próximo passo evolutivo da sociedade, passando a treiná-los para lidar com suas características fora do padrão.

Por sua vez, os X-Men continuam sendo temidos por essa mesma sociedade. A diferença é que, agora, eles não juraram mais protegê-la. Muito pelo contrário.

Summers é um pistoleiro capaz de atirar no que vê; Drake, um sujeito esquentado; McCoy um grandalhão que fala difícil. Quanto aos restantes, Jean e Worthington, eles tiveram um destino trágico. O rapaz aparentemente se matou ao se jogar do telhado da escola de Westchester, o que gerou um escândalo, o fechamento da instituição, a prisão do professor e a fuga dos alunos. Já a morte da garota, uma trapaceira capaz de convencer os incautos a fazerem sua vontade, é o ponto de partida para a trama.

A polícia não parece disposta a investigar o caso, pois o inspetor-chefe, Eric Magnus, além de ser um antigo desafeto de Xavier, ainda está envolvido em esquemas de corrupção com Sebastian Shaw e o Clube do Inferno. Quem se interessa mesmo pelo crime é Thomas Halloway, um sujeito misterioso que se apresenta como repórter do Clarim Diário, mas na verdade esconde uma segunda vida.

O maior problema editorial deste álbum é justamente não identificar direito este personagem que, no mínimo, divide o protagonismo da história com aqueles do título. Ele é o Anjo, mas não deve ser confundido com o X-Man de mesmo codinome. Criado por Paul Gustavson nos já citados anos 30, quando a Marvel ainda atendia por Timely Comics, Halloway era um aventureiro sem superpoderes, um vigilante nova-iorquino cuja origem e destino foram muito bem utilizados nesta nova aventura pelo roteirista Fred Van Lente.

Originalmente, o herói decidiu combater o crime após ter passado a infância em um presídio, do qual seu pai viúvo era o diretor, aprendendo tudo sobre o submundo com os prisioneiros e os agentes carcerários. Anos mais tarde, como já havia feito com outros heróis da Era de Ouro - como Capitão América e Namor -, a Marvel o retirou do espólio para voltar à ativa. Porém, houve sérios problemas de comunicação interna que levaram a um exótico caso de retcon para tentar resolver o imbróglio.

Nas revistas do Capitão América, o Anjo ressurgiu chefiando um grupo de vigilantes que matavam supervilões. Já nas histórias do Hulk, por outro lado, foi dito que o personagem passou anos vivendo como um sem-teto nos subterrâneos de Manhattan.

Para contornar essa constrangedora incoerência, inventaram que Thomas tinha um irmão gêmeo, Robert Halloway, que também teria usado o uniforme azul e vermelho do combatente do crime nos anos 30 e 40.

Van Lente, que já havia se mostrado um excelente pesquisador da mitologia greco-romana, em suas HQs para a revista Incrível Hércules, mergulhou nos mitos mais recentes timely-marvelísticos e produziu uma continuidade em que amarra tudo isso de modo coerente.

A HQ não só respeita o histórico conturbado do Anjo, como ainda o faz se sentir em casa dentro desse universo Noir em que vivem versões anacrônicas de tantas caras bem mais conhecidas do leitor.

Pena que a Panini não tenha chamado a atenção para essas informações que seriam bem mais úteis aos leitores para entender X-Men Noir do que a reprodução de capas, oficiais, alternativas e de seus esboços, nos extras. Um descuido que não combina com a tradução cuidadosa de Mario Luiz C. Barroso, preservando várias expressões da época em que se passa a trama, tanto nos quadrinhos em si, quanto em um outro curioso extra que surge ao final.

O roteirista não homenageou apenas o passado da Marvel e as histórias de detetive. Fred Van Lente fez também o pastiche de um conto de ficção científica publicado em uma pulp magazine que surge nas mãos de Thomas Halloway em determinado momento.

Repleta de teorias eugenistas, a história escrita pelo antropólogo Bolívar Trask narra um combate entre seres geneticamente perfeitos conhecidos como Sentinelas contra a escória indesejada dos mutantes na Novíssima York do distante ano de... 2014. Um festival de referências para os fãs em 12 páginas de texto corrido com poucas ilustrações, a exemplo das revistas dos anos 30.

Infelizmente, os desenhos de Dennis Calero não têm a mesma qualidade do texto de seu colega de projeto. Por vezes burocrática (como na sequência da entrevista do Anjo com Xavier na prisão), quase sempre desleixada (é difícil reconhecer alguma coerência no rosto de Magnus ao longo da história), a arte acaba sendo o ponto fraco deste lançamento de alta qualidade.

Classificação:

4,0

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