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XIII #1 - O DIA DO SOL NEGRO

Por Delfin
1 dezembro 2007

Título: XIII #1 - O DIA DO SOL NEGRO (Panini
Comics
) - Série mensal

Autores: Jean Van Hamme (roteiro) e William Vance (desenhos).

Preço: R$ 22,90

Número de páginas: 96

Data de lançamento: Maio de 2006

Sinopse: Um homem com um ferimento de bala na cabeça é encontrado numa praia semi-deserta. Completamente amnésico, mas mantendo a memória coletiva e seus reflexos extraordinários, ele possui apenas uma chave, costurada à sua roupa, e o número treze, tatuado em algarismos romanos perto de seu ombro esquerdo.

Em seguida, dois assassinos liquidam o casal que encontrou o homem e logo tem o mesmo destino, pelas mãos do misterioso protagonista. É quando ele descobre uma foto em que aparece ao lado de uma garota - e, no verso está escrito o nome de uma cidade: Eastown.

É o começo de uma busca que envolve muitos perigos, uma grande quantia em dinheiro e o assassinato do jovem presidente dos Estados Unidos.

Positivo/Negativo: Demorou muito para que XIII desse as caras no Brasil. Até o game do personagem (baseado nos cinco primeiros álbuns originais) apareceu alguns anos atrás.

Para quem não sabe, a série é um dos maiores êxitos do quadrinho realista belga (que estava em franca queda de público) dos últimos 20 anos. É isso mesmo, esta bela saga, cheia de aventura, despistes e mistério começou a ser publicada nas páginas da edição 2408 da clássica revista Spirou (Dupuis), em 7 de julho de 1984. De lá para cá, o sucesso na Europa foi crescente.

Por sorte, como acontece com as boas histórias, os 22 anos de defasagem inicial não foram suficientes para envelhecer a trama de XIII.

É necessário dizer que, em 1984, este gênero de mistério combinado à aventura (que mesmo os belgas definem como thriller) não era tão consistente nos quadrinhos e, quando existia, era em páginas de heróis de séries já calejadas. Por vários motivos, entre eles as reviravoltas constantes na trama, a consistência do roteiro e o belo traço de W. Vance, XIII acabou deixando as páginas do semanário belga e, a partir do seu quarto álbum, começou a ser publicado pela Dargaud, de onde nunca mais saiu.

O início da saga é declaradamente inspirado no romance A Identidade Bourne, lançado em 1980 pelo nova-iorquino Robert Ludlum. Há vários sites que traçam paralelos entre as duas obras. Mas, claramente, XIII é escrito num ritmo diferenciado, mais lento, o que permite não só melhores ganchos, como também a ampliação da distância do conceito original.

Nesta edição nacional são reunidos os dois álbuns iniciais: O dia do Sol Negro (1984) e Onde vai o índio... (1985). Neles são introduzidos diversos elementos mitológicos que dão base à série, como: XIII, a amnésia, o assassinato do presidente Sheridan, o Coronel Amos, o General Carrington, a bela Tenente Jones, Kim Rowland e o vilão que sempre dá as caras, o Mangusto.

A ação começa cadenciada e, a cada história, deixa o protagonista com nós cada vez mais difíceis de desatar - deixa Jack Bauer e Jason Bourne (do seriado televisivo 24 Horas e do livro A Identidade Bourne) "no chinelo" muitas vezes.

Petra, a colorista, traz certa nostalgia da pintura européia em quadrinhos antes da computação gráfica começar a imitar à perfeição os pincéis e texturas manuais. Uma visão clássica, competente, mas apenas isso.

Pontos fracos? O começo da história tem muito a ver com os clássicos mistérios de gente que não lembra de seu passado, como as séries de TV O Fugitivo e O Prisioneiro. A base do livro de Ludlum também faz com que o primeiro episódio, visto à luz do tempo, não seja exatamente um prodígio de originalidade. Mas o fato de que todas as pessoas que o protagonista procura parecem saber de coisas sobre ele, como se ele adorasse se meter em encrencas, é intrigante desde o início.

Problemas na edição? Levi Trindade manda bem no trabalho de adaptação, ponto positivo. Mas o álbum é completamente "pelado", fora o texto na contracapa. Textos informativos internos, mesmo sabendo que isso implicaria num caderno a mais na revista, seriam vitais para o leitor entender, inclusive, as referências dos autores.

Na segunda história, a referência textual à internet certamente não era assim no original, mas, levando-se em conta as mais de duas décadas de defasagem dos álbuns, casou bem para o público.

O problema mais grave, que afetou várias vezes a Panini em 2006, foi o acabamento dos álbuns. Este, na medida em que se lê, vai soltando páginas, esgarçando a borda. Mesmo nas mãos de um leitor cuidadoso. Talvez seja um erro de gráfica das primeiras edições (não foi a única em que isso aconteceu, na linha européia da editora), mas é uma falta gravíssima para a estréia de um clássico europeu. E o papel da capa e de miolo são pobres em relação aos concorrentes da Conrad, Companhia das Letras e Devir.

A capa melhoraria muito se tivesse orelhas, que sustentariam a edição. Talvez cobrar R$ 22,90 tenha sido um exagero. Mas, ainda assim, estava mais barato que a concorrência européia que chegava na forma de álbuns eróticos.

Outro problema: XIII talvez funcionasse bem em livrarias. As outras editoras de álbuns, que possuem este canal de distribuição, registram todo o seu material na Biblioteca Nacional, ganhando assim sua ficha catalográfica. Teoricamente, as edições da Panini não são livros como os da Devir, Opera Graphica, Conrad e Pixel. O cerne da coisa está aí e talvez a gigante italiana dos cromos e HQs não esteja interessada neste mercado.

Mas que XIII (e outros títulos muito procurados em livrarias em 2006, como V de Vingança) poderia ter alcançado um público muito mais qualificado, isto é certo. Não seria bom repensar a estratégia?

Classificação:

4,0

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