Y – O ÚLTIMO HOMEM - A SENHA
Editora: Panini Comics - Edição especial
Autores: Brian K. Vaughan (roteiro), Pia Guerra (arte de A senha), Goran Parlov (arte de A passagem da viúva), José Marzan Jr. (arte-final) e Zylonol (cores).
Preço: R$ 17,90
Número de páginas: 144
Data de lançamento: janeiro de 2011
Sinopse
A senha - Quando suas companheiras de viagem partem em uma missão arriscada, Yorick fica aos cuidados de 711, uma ex-colega e amiga de confiança da agente 355.
Entretanto, a estada na cabana de 711 surpreenderá as expectativas de Yorick de maneira profunda, brutal e inesquecível.
A passagem da viúva - Yorick, a doutora Mann e a agente 355 seguem em sua jornada rumo à Califórnia. Mas, no caminho, encontram a estrada bloqueada por uma milícia fortemente armada, pela qual terão de passar.
Positivo/Negativo
Se o leitor não está familiarizado com a série Y - O último homem, encontrará neste quarto volume publicado pela Panini um texto de apresentação da história até o momento.
Assim, ficará informado de que metade da população de mamíferos do planeta (todos os machos) morreu em segundos, vítima de uma praga misteriosa. Os únicos sobreviventes são o jovem Yorick e seu macaquinho Ampersand.
Junto com a doutora Alisson Mann e a agente 355, Yorick atravessa os Estados Unidos procurando chegar a um laboratório onde a doutora tem material de pesquisa que pode ajudar a entender o que aconteceu com os machos do planeta, por que ele sobreviveu e, talvez, descobrir um meio da humanidade não se extinguir.
Durante essa jornada, o grupo enfrenta diversas situações, narradas nos três volumes anteriores (confira as resenhas: # 1, # 2 e # 3), também publicados pela Panini.
E depois de acompanhar essas diversas histórias, o leitor começa a se perguntar: "E agora? Pra onde vai a trama? O que mais pode acontecer?". Nesta edição, Vaughan responde essas perguntas apresentando duas ótimas tramas, com destaque para o arco A senha.
Nele, pela primeira vez na série, é abordada a questão da violência sexual. Embora o foco do roteiro não seja exatamente esse, sua presença é fortíssima e abre possibilidade para discutir o que significa ser vítima: estar impotente diante uma situação de abuso.
A senha tem como propósito principal revelar aspectos do passado de Yorick e consolidar sua estrutura como personagem. Há ainda, mesmo que timidamente, alguns recursos narrativos interessantes no grid dos quadrinhos de algumas páginas, que reproduzem o fluxo inconsciente das memórias do protagonista.
O roteiro de A passagem da viúva está mais para uma história de aventura dentro dos paradigmas clássicos. Nossos "heróis", em sua jornada, encontram um obstáculo. No caso, uma barricada feita por viúvas de um grupo de conservadores radicais chamadas Filhos do Arizona.
Assim como seus maridos, as mulheres tomam as armas para proteger sua família e propriedade contra o governo federal, pois acreditam ser ele o responsável pela praga que matou os homens.
Novamente, o leitor fica sabendo mais sobre os personagens principais, especialmente a doutora Mann. A história tem um ritmo rápido e, se não chega a ser tão chocante quanto a anterior, ainda assim, é um ótimo entretenimento.
Este álbum apresenta ainda algumas trocas na equipe artística. Em A passagem da viúva, a desenhista Pia Guerra, que trabalha na série desde o início, é substituída por Goran Parlov.
A mudança é quase imperceptível, talvez devido à proximidade dos estilos ou devido ao trabalho do arte-finalista José Marzan Jr. Mesmo assim, os fãs de Guerra não precisam se preocupar, pois ela volta já no próximo volume.
O mesmo não acontece com o capista J. G. Jones, aqui substituído por Massimo Carnevale, que deve continuar até o fim da série. Destaque também para a única capa produzida pelo artista Aron Wiesenfeld: uma arte belíssima, que pode ser conferida logo no início da publicação.
Como nos volumes anteriores, todas as capas originais das edições da série estão presentes, sem o logotipo e os demais elementos textuais.
Y - O último homem é uma série excelente para discutir questões de gênero, como as relações de poder entre homem e mulher. A sociedade moderna sempre teve uma perspectiva patriarcal e, nessa ficção, de um momento para outro, isso se desfaz totalmente. Embora não seja genial, a obra escrita por Vaughan levanta temas muito interessantes para reflexão.
No texto de apresentação do início dessa edição, por exemplo, é citado um grupo de "soldados" israelenses que participou de algumas histórias e era composto só por mulheres. Na língua portuguesa é permitido o feminino "soldadas", mas a preferência pelo gênero masculino dentro da própria gramática é um sinal do quão nossa sociedade e cultura são ancoradas sobre uma perspectiva machista.
Dentro da história A passagem da viúva, uma das próprias personagens aponta para o fato de as mulheres não mudarem o nome do grupo para Filhas do Arizona, permanecendo fiéis à ideia patriarcal de seus falecidos companheiros reacionários.
Mesmo desconsiderando uma abordagem mais profunda das questões de gênero, Y permanece como uma das séries mais interessantes do momento. "E agora? Pra onde vai a trama? O que mais pode acontecer?". Não se sabe. Mas a diversão está garantida.
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