Y - O ÚLTIMO HOMEM - BONECAS DE PAPEL
Editora: Panini Comics - Edição especial
Autores: Brian K. Vaughan (roteiro), Pia Guerra e Goran Su?uka (arte), José Marzán Jr. (arte-final), Zylonol (cores), Massimo Carnevale (capas) - Originalmente em Y - The Last Man # 37 a # 42.
Preço: R$ 17,90
Número de páginas: 144
Data de lançamento: Novembro de 2011
Sinopse
Bonecas de Papel - A repórter de um jornal sensacionalista consegue fotografias de Yorick e pretende publicá-las, revelando sua existência ao mundo.
Na hora da nossa morte - Hero encontra Beth, que tem o mesmo nome da noiva de Yorick e que se relacionou com ele em episódios anteriores. E a moça está grávida.
Botões - O confronto iminente com canibais desperta uma série de lembranças na agente 355.
1000 máquinas de escrever - A origem de um importante personagem da série: Ampersand, o macaco.
Positivo/Negativo
A Guarda Suíça é o exército privado do Vaticano. Sua arma, a alabarda, é uma espécie de lança que possui na extremidade uma peça de ferro, algo semelhante a um machado com um prolongamento pontiagudo. Com ela, a Guarda Suíça conseguiu afugentar os nazistas em 1943.
Antigamente, as senhoras eram vestidas por criadas e botões à esquerda da roupa deixavam as coisas mais fáceis para as empregadas destras. Os homens, porém, carregavam espadas, por isso o lado esquerdo do paletó tinha que fechar pela direita, para que eles pudessem sacar sua arma sem coisa alguma que a prendesse. Assim, eles usam botões da roupa à direita e elas à esquerda.
Esses são dois exemplos do tipo de informação que pode aparecer no meio de um diálogo, em qualquer história de Y - O último homem.
O vasto repertório de cultura pop é uma das características do protagonista Yorick. Ele frequentemente insere referências, piadas e conhecimentos aleatórios em suas falas.
Mais que isso, é uma característica do autor Brian K. Vaughan que está presente em praticamente todo o seu trabalho. Há diversas personagens que soltam dropes desse tipo em seus diálogos.
No caso, a Guarda Suíça e a alabarda são mencionadas pela personagem Beth, no episódio Na hora da nossa morte. Já a história dos botões é contada para a agente 355 ainda criança, por seu pai, em Botões.
Essas demonstrações de cultura não são gratuitas. Têm um vínculo com a trama e muitas vezes parecem orientá-la.
Este sétimo volume da série apresenta três histórias curtas em que uma informação ou tema complementa e direciona o drama da narrativa principal.
Em Na hora da nossa morte, por exemplo, a gravidez de Beth (que não é a namorada de Yorick) atrai a atenção de um grupo de religiosas católicas que supõe que um menino possa vir à luz e assim substituir o Papa. Daí as referências à alabarda e Guarda Suíça.
O uso de referências aparentemente aleatórias que adquirem significado quando relacionadas a outros aspectos da trama acaba estendendo seu efeito para eventos e acontecimentos da vida dos personagens e trazem consequências e desdobramentos.
Mais do que contar o embate com as emissárias do Vaticano, Vaughan utiliza o episódio para construir uma relação entre Hero e Beth e desenvolver ainda mais as personagens. Cada escolha que fizeram e fazem, cada interação que tiveram com Yorick e outras pessoas, conduziram-nas a esse momento e a criar uma aliança.
Raciocínio semelhante pode ser aplicado às outras duas histórias curtas da edição.
Botões começa de maneira eletrizante, com um iminente combate que será travado entre o grupo de Yorick e um bando de desesperadas criminosas canibais. Entretanto, as ditas comedoras de carne humana nem chegam a aparecer.
O fato principal é que a menção a canibalismo desencadeia uma série de lembranças em 355. Ainda criança, ela recebe de seu pai, um alfaiate, as explicações das diferenças entre meninos e meninas, partindo da questão dos botões para explicar por que as meninas não podem lutar com espadas.
A aventura avança pela infância e adolescência da personagem, mostrando como ela ingressou no Círculo Cooper e como aprendeu, de modo definitivo e sangrento, a lutar por si mesma.
O título Mil máquinas de escrever guarda a referência que conduz o insólito episódio protagonizado pelo macaquinho Ampersand.
As "mil máquinas de escrever" referem-se a um teorema estatístico, o Teorema do Macaco Infinito, que pode ser grosseiramente resumido na seguinte expressão: mil macacos sentados em frente a mil máquinas de escrever, teclando fervorosa e incessantemente, acabariam, mais cedo ou mais tarde, escrevendo uma obra literária de qualidade.
Capturado pela misteriosa Toyota, Ampersand apresenta sua própria história de modo igual ao de diversos outros personagens ao longo da série. Vários flashbacks mostram como ele chegou até Yorick e ainda apresentam mais pistas e provocações em torno do mistério da praga que dizimou os machos do planeta.
Bonecas de papel é a principal trama da coletânea, dividindo-se em três partes. O tema principal é a questão da imprensa, citada como o "quarto poder".
A repórter de um tabloide sensacionalista está produzindo uma série de matérias especulando sobre a sobrevivência de algum homem à praga. Tudo se resume a uma grande coleção de boatos, até que ela cruza o caminho de Yorick.
Consegue um retrato deveras revelador da masculinidade do protagonista e pretende publicá-la. Temendo que a divulgação dessa notícia atraia a atenção e gere muitos conflitos e problemas, a agente 355 caça a repórter, procurando destruir a fotografia custe o que custar.
Daí vem uma das melhores qualidades de uma obra como Y - O último homem: o modo como a história não se fecha em seu universo fictício, mas permite estabelecer relações e questionamentos com a nossa própria realidade.
Qual é a extensão do poder da imprensa? Quais os reais interesses por trás da publicação de uma notícia? A verdade deve sempre vir a público ou há situações em que é melhor manter o sigilo? A necessidade justifica a censura?
A história não propõe nenhuma resposta, apenas inspira as perguntas. E a resolução para o problema das fotos de Yorick é tão simples quanto surpreendente.
Ainda em Bonecas de papel são apresentadas outras tramas paralelas de interesse: Yorick descobre o paradeiro de sua noiva Beth e a doutora Mann arranja uma namorada e também uma nova companheira de viagem para o grupo.
O epílogo é inesperado e completamente brutal.
Todas essas características do roteiro de Vaughan e o nível constante de qualidade da arte fazem de Y - O último homem uma das melhores séries publicadas no País atualmente.
Classificação: