Y - O ÚLTIMO HOMEM – CICLOS
Editora: Panini Comics - Edição especial
Autores: Brian K. Vaughan (roteiro), Pia Guerra (arte), José Marzán Jr. (arte-final) e Pamela Rambo (cores) - Originalmente em Y - The Last Man - Cycles.
Preço: R$ 16,90
Número de páginas: 128
Data de lançamento: Junho de 2010
Sinopse
O ilusionista Yorick Brown, e seu fiel macaco Ampersand, devem atravessar um Estados Unidos caótico em busca de uma cura, depois de todos os homens do mundo terem sido misteriosamente mortos.
Positivo/Negativo
Enquanto alguns títulos de super-heróis inventam as mais esdrúxulas histórias, como conspirações que se estendem a planos premeditados por alienígenas para invadir a Terra, outros mantêm os pés nos chão e cumprem muito mais do que prometem.
É o caso da série Y - O último homem, cuja história mistura elementos de ficção científica com discursos políticos e sociais. De uma hora para outra, todos os seres do sexo masculino na Terra deixaram de viver, e o "genocídio" poupa apenas as fêmeas.
Esse argumento serve de pano de fundo para que o autor Brian K. Vaughan (Os leões de Bagdá, Ex-Machina, Lost) discorra abertamente sobre o quão machista a sociedade norte-americana é, por intermédio de dados reais e situações fictícias que Yorick Brown, um jovem ilusionista, tido como o último representante do gênero masculino, enfrenta em seu percurso.
Depois do primeiro volume da série, Ciclos acompanha a peregrinação de Brown ao lado da agente secreta 355 e da dra. Mann para a Califórnia, onde se localiza o laboratório para que uma possível cura para a praga seja estudada.
No percurso, eles têm a sorte de topar com uma comunidade interiorana onde a organização das sobreviventes mantém a paz e a ordem. Mas ela dura pouco, já que o grupo extremista de ideais feministas, Filhas das Amazonas, requer a posse sobre a vida do último homem.
O ínterim é cheio de reviravoltas. Os personagens secundários são muito bem pensados e seus diálogos, recheados de citações a personagens do cinema, à literatura e a personalidades famosas, complementam a profundidade com que Vaughan trata os temas, principalmente ao criticar o sistema penitenciário.
Como há a discussão sobre como as mulheres acabam sendo mais punidas que os homens ao cometerem o mesmo tipo de crime, este é também um libelo da superação ao preconceito que qualquer preso encara para se encaixar na sociedade novamente.
Vale notar também a sintonia com do texto com a arte. Repare no rosto da líder das Amazonas quando ela agride Hero, a irmã do ilusionista, por questionar sua ideologia e fala sobre como odeia os homens.
Trazer Pia Guerra para desenhar a série não só foi uma ótima escolha por saber casar muito bem os detalhes da arte e do texto, mas também por ela ser uma representante do assunto em questão na história: o sexo feminino.
Ainda assim, o roteirista não mantém um nível de sofisticação nos diálogos o tempo inteiro, e faz questão de utilizar falas dignas de sessões da tarde, como a da cena em que o protagonista pede desculpas por beijar Sônia pela segunda vez. Ela responde que foi só uma, e ele, então, tasca outro amasso na garota.
Além disso, há em Y elementos que permeiam muitas das histórias da linha Vertigo. Como as discussões cheias de referências à cultura pop ou personagens que entram em conflito envolvendo armas de fogo - compare a linha que este encadernado segue com a do primeiro arco: do meio para o final, alguém morre no meio de um caso crítico e, no final, uma situação descamba para algo totalmente diferente do que vinha sendo apresentado até então.
Isso não diminui a qualidade do material, que é, de fato, uma das melhores HQs com temática realmente adulta que provêm do terreno americano, mas sua fórmula torna-se um tanto esquemática.
Classificação: