Yes Is More - An Archicomic on Architectural Evolution
Editora: Taschen - Edição para iPad
Autores: Bjarke Ingels (editor e texto), Bo Benzon e Joanna Gasparski (líderes de projeto), BIG, E-Types, Jens Kajus e Michael Thouber (concepção gráfica) e mais dezenas de fotógrafos, editores de texto, idealizados e arquitetos do BIG.
Preço: US$ 9,99
Número de páginas: 424
Data de lançamento: 22 de dezembro de 2010
Sinopse
O arquiteto dinamarquês Bjarke Ingels apresenta 38 projetos do escritório que dirige, o BIG, e mostra sua visão de arquitetura.
Positivo/Negativo
Yes is more é uma história em quadrinhos sobre arquitetura. Mais precisamente, sobre os projetos do BIG - o Bjarke Ingels Group, escritório fundado em 2006 e coordenado por Bjarke Ingels.
Aos 36 anos, Ingels é um arquiteto dinamarquês com reputação ascendente, integrante de uma nova geração de criadores europeus. Já ganhou o Leão de Ouro da Bienal de Veneza, quando ainda fazia dupla com Julian de Smedt no escritório PLOT, e prêmios do World Architecture Festival e da revista Forum AID. Seu trabalho com o BIGinclui projetos para o mundo todo - mas é marcante especialmente pelas mudanças que provoca em sua cidade-natal, Copenhagen.
Lançado em 2009 em formato de livro de papel (disponível por US$ 29,99 nas livrarias lá de fora e por cerca de R$ 100,00 no Brasil), Yes is more acabou ganhando uma edição revista e ampliada no final do ano passado - adaptada para se tornar um aplicativo do iPad e marcar a estreia da renomada Taschen no tablet da Apple. Ganhou não só páginas extras, mas também vídeos, fotos em 360° e um breve documentário sobre Parkour que ampliam o volume.
De algumas maneiras, o álbum não é uma história em quadrinhos convencional. Primeiro, porque não há um desenhista ou pintor, e sim uma equipe de produção. Porque os quadros são formados ou por fotografias ou por imagens dos projetos - maquetes, modelos computadorizados, desenhos de plantas...
De certa forma, é como uma fotonovela em que Ingels é o protagonista - é ele que guia o leitor pelos projetos de seu escritório.
Há puristas, claro, que dirão que não se trata de quadrinhos, porque, afinal, não há desenhos. Mas a arte feita com lápis e tinta é apenas um padrão que se estabeleceu na linguagem por uma questão de hábito e de mercado.
(Quer dizer: lá atrás, quando os quadrinhos cresceram, era mais simples pagar uns trocados para uns moleques desenharem histórias do que produzir sets de fotografias, pagar atores, tratar as imagens etc.)
O tema também causa estranheza. Faz lembrar aquela frase - parece que sua autoria é polêmica - segundo a qual escrever sobre música é como dançar sobre arquitetura. Se dançar sobre arquitetura seria algo assim tão desprovido de sentido, o que dizer de fazer uma HQ sobre esse tema?
Pois é: logo na introdução, Ingels explica que ele e sua equipe encontraram nos quadrinhos uma linguagem que casa muito bem para explicar arquitetura. Isso porque, nas HQs, é possível combinar as imagens dos projetos com os ensaios e os conceitos escritos - e ainda integrar outros elementos, como histórias sobre o terreno, os clientes, os construtores...
Ingels e a equipe do BIG estão certíssimos. Conhecer os 38 projetos apresentados em linguagem de quadrinhos em Yes is more é uma experiência fascinante e transformadora.
Como todo bom projeto, cada trabalho do BIG tem por trás uma rede de grandes ideias. Nos quadrinhos, elas são dissecadas de forma que leigos possam entendê-las facilmente. Às vezes, as páginas lembram o didatismo delicioso com que Scott McCloud destrinchou a linguagem das HQs em Desvendando os quadrinhos.
No formato dos quadrinhos, os projetos viram histórias. Ao ler sobre o REN - People's Building, projetado para Xangai, descobre-se que o conjunto de prédios tem o formato da palavra "povo" em chinês - mas que isso foi coincidência! E que o premiado conjunto habitacional VM Houses(aliás, onde Ingels mora) teve suas varandas pontiagudas batizadas de "balcão do Leonardo DiCaprio" pelo cliente - por conta da cena de Titanic em que o ator, na proa do navio, grita que é o rei do mundo.
Yes is more poderia ser apenas uma colagem de 38 projetos, um depois do outro, uma espécie de catálogo do escritório. Mas não é só isso.
Ingels acredita numa arquitetura que ajuda o ser humano a evoluir. No documentário sobre o Parkour, diz: "Arquitetura é o meio; e os objetivos são o desenvolvimento máximo da vida humana".
Para o BIG, as cidades devem se adaptar aos homens (e não o contrário). Yes is more é o manifesto do BIG. É como esse grupo de arquitetos brilhantes acredita que a humanidade deve viver.
E, ao mesmo tempo em que prega seus conceitos, o escritório mostra na prática o quanto construir prédios, que são ao mesmo tempo úteis, sustentáveis, confortáveis e integrados com o entorno, nem sempre é questão de dinheiro. Trata-se, isso sim, de quebrar a cabeça, de ter boas ideias, de não seguir o caminho mais óbvio.
Yes is more acaba fazendo o leitor olhar para o seu entorno e pensar na cidade em que vive, no prédio ou na casa onde mora, em seu bairro, e a pensar em soluções melhores, mais eficientes, que vão melhorar a sua própria vida.
É assim que, com seus projetos arquitetônicos, Yes is more acaba entrando numa lista de quadrinhos que inclui Palestina, V de Vingança e Maus: a das HQs que provocam seu leitor a mudar o mundo.
Classificação