YESHUAH – ASSIM EM CIMA ASSIM EMBAIXO
Autores: Laudo Ferreira Júnior (roteiro e desenhos) e Omar Viñole (arte-final).
Preço: R$ 23,00
Número de páginas: 156
Data de lançamento: Dezembro de 2009
Sinopse: A história de Yeshu (Jesus), desde sua concepção até os dias em que, jovem e na companhia de seu irmão Yaakov (Tiago), era seguidor do batista Yohánan (João).
Tudo dentro da visão pessoal de Laudo Ferreira, que realizou a obra - que se estenderá por mais dois livros - baseado nos textos dos Evangelhos Canônicos de Matheus, Marcos, Lucas e João e, também em pesquisas de vários textos apócrifos e históricos.
Positivo/Negativo: Yeshuah é, sem dúvida, o maior trabalho da carreira de Laudo Ferreira, um nome bastante conhecido por quem circula no mercado "quadrinheiro", mas não do grande público.
No mercado desde o início dos anos 80, o autor atuou como ilustrador para grandes editoras e no segmento publicitário. Nos quadrinhos, no entanto, seus trabalhos mais conhecidos talvez tenham sido a independente Subversivos - Companheiro Germano, com roteiro de André Diniz, e a série pornográfica Sacanagens da Tianinha, que saía nas revistas Total e Sexy Premium, quase sempre com roteiros de outros profissionais. Faltava ainda uma obra que mostrasse o talento de Laudo para o mercado de HQs, de forma mais ampla.
Faltava!
Foram nove anos elaborando o projeto de Yeshuah (palavra hebraica que significa salvação), mesclando as muitas pesquisas em diversos segmentos religiosos, literários, filmes e músicas, com a sua visão da história de Jesus.
E o resultado é uma bela HQ. Laudo conseguiu dar à história, que é conhecidíssima pela maioria dos leitores, ares mais humanos, factíveis. Como, por exemplo, quando retrata a desconfiança de Yosef (José) a respeito da gravidez de Miriam (Maria), que, pelo que lhe constava, era virgem.
As emoções humanas, mesmo em meio a uma trama que remete tanto a temas religiosos e místicos, foram muito bem trabalhadas pelo autor. Outra cena que merece destaque é quando Miriam dá à luz Yeshu sozinha - nada de reis magos, animais etc. Ela traz seu filho ao mundo sem a ajuda de ninguém, numa caverna.
Isso faz a diferença na condução de Yeshuah.
Do ponto de vista do roteiro, o leitor pode estranhar o salto da história, do nascimento de Yeshu para mostrá-lo jovem, já de barba. No entanto, vale lembrar que pouco se sabe da infância de Jesus Cristo.
Laudo acertou a mão na arte e narrativa. São raras as páginas em que há excesso de texto e a diagramação dos quadros é sempre muito arejada, deixando a leitura mais "solta".
E aí entra também o talento de Omar Viñole. Seu trabalho de claro-escuro na arte-final deixou ainda mais atraente o traço expressivo de Laudo, que, desde já, é candidatíssimo ao HQ Mix de melhor desenhista de 2009.
Foi interessante a opção do autor por usar os nomes dos personagens, termos e localidades em hebraico - tudo devidamente explicado num glossário nas páginas finais do livro.
Este primeiro tomo termina (sim, apesar de a história ser longa, a série foi pensada como três álbuns independentes, com começo, meio e fim) com Yeshu jovem e deixa um bom gancho para a continuação.
Editorialmente, o trabalho da Devir é competente. Passaram uma ou duas mancadas de revisão e soou um pouco estranho, pelo tom da história, o uso de contrações como "tô" em vez de "estou", mas isso em nada atrapalha a obra.
O prefácio de Yeshuah é assinado pela filósofa Júlia Bárány e, apesar de muito, muito extenso, merece ser lido, para contextualizar o trabalho de Laudo dentro das mais recentes versões da vida de Jesus Cristo.
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