Quando Laudo anunciou, no final de 2001, que preparava um álbum sobre Jesus Cristo, sabia que tinha pela frente um enorme desafio. Afinal, trata-se, possivelmente, da história mais contada de todos os tempos.

Em sua versão, que inicialmente se chamaria Ele, o autor decidiu mostrar a vida de Jesus de um plano mais humano, de uma visão mais próxima da realidade. Mas sem tirar sua importância dentro da história da humanidade.

Quase dez anos depois, o projeto mudou de nome, passando a se chamar Yeshuah (palavra hebraica que significa salvação), e o álbum foi dividido em três volumes - o primeiro saiu em dezembro de 2009 e o segundo chegou às livrarias em setembro de 2010.

Mas o mais importante é que Laudo está saindo-se bem no seu objetivo. Como aconteceu no primeiro álbum, neste Yeshuah - O círculo interno o círculo externo o foco humano prevalece sobre o místico. Que o diga a cena em que Yeshu (Jesus) faz o pão e os peixes se "multiplicarem".

Ainda assim, há espaço para o inexplicável, como quando Yeshu mostra ao veterano pescador Shimon (Simão) onde encontrar peixes ou quando faz um cego voltar a enxergar.

O interessante no trabalho é que o autor realmente construiu a sua versão sobre a vida de Jesus Cristo. E vem fazendo isso de uma forma que a trama possa ser atrativa até um leitor que não tenha qualquer convicção religiosa.

Na arte, Laudo optou por um desenho mais solto e, algumas vezes, caricatural, que funciona bem com o roteiro. No entanto, o ponto alto está na narrativa, com bom uso da diagramação das páginas e das variações de "câmeras". Destaque também para a competente arte-final de Omar Viñole, com um belo jogo de luz e sombras.

O álbum traz, nas páginas finais, um glossário com todos os nomes dos personagens, termos e localidades que aparecem em hebraico na história.

Mas, na revisão, a Devir pisa na bola - algo que, infelizmente, vem se repetindo em suas publicações recentes. Há erros tolos, que um corretor ortográfico do Word pegaria, como uso de crase antes de palavras masculinas - "à princípio" (p. 105) e "à respeito" (p. 108) - e de verbo no infinitivo - "à perder" e até um pleonasmo típico: "há tantos anos atrás" (ambos na p. 110). Sem contar que há várias palavras grafadas em desacordo com a nova ortografia, como "idéias", "cananéia" ou "platéias", por exemplo. É preciso mais atenção.

Ainda assim, este segundo álbum de Yeshuah é uma leitura bastante agradável e deixa o leitor curioso para saber qual será a versão de Laudo para os fatos tão conhecidos que virão a seguir na trajetória de Jesus Cristo.