Confins do Universo 204 - Marcelo D'Salete fazendo história (em quadrinhos)
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ZEMITH FASE TRÊS #1 e #2

1 dezembro 2004


Título: ZENITH - FASE TRÊS (Pandora Books) - Álbum em dois volumes

Autores: Grant Morrison (roteiro) e Steve Yeowell (arte).

Preço: R$ 24,90 cada.

Número de Páginas: 78 (volume um) e 64 (volume dois).

Data de lançamento: Novembro e dezembro de 2003, respectivamente.

Sinopse: Super-humanos de diversas realidades são convocados por um Maximan de uma terra paralela para deter os Lloigor, misteriosos seres que pretendem acabar com o multiverso, a partir do alinhamento dos universos.

Zenith - Fase Três #2Positivo/Negativo: Sim, você entendeu: distante dos boatos a respeito de seus planos secretos na DC Comics, Morrison já realizou sua Crise nas Infinitas Terras.

O mote é descaradamente igual à minissérie que reformulou a DC (e a Panini Comics relançou recentemente em dois álbuns). E de propósito.

A diferença é que a saga de Zenith não tenta pôr a casa em ordem. Pelo contrário: o que impera na história é o bizarro e o satírico, que se manifestam já nas primeiras páginas, com Archie, o robô anarquista psicodélico riponga. Não por acaso, homônimo do mais CDF dos personagens de quadrinhos norte-americanos.

Também é impagável Vertex, a versão homossexual do protagonista. Nos tempos de Multiverso da DC, aparentemente a única minoria aceita era a dos negros - quer dizer, isso se eles ficassem em uma realidade-senzala, bem distante da Terra-1.

A terceira fase de Zenith é uma saga cósmica com um superadolescente roqueiro cercado de personagens que figuram entre o inusitado e o doentio. É difícil de se imaginar um terreno mais fértil para que o jovem Morrison de 1989 pudesse pôr em prática suas idéias do que significa distorcer um super-herói até torná-lo interessante no mundo contemporâneo.

Yeowell, então um artista em plena formação, está mais maduro do que nos álbuns anteriores. Por essas coisas, ninguém há de estranhar o que a contracapa do álbum anuncia: a Fase Três é a melhor do personagem, mesmo que as duas primeiras, também lançadas com o selo da Pandora, sejam bem bacanas.

Mas calma com o andor, que o santo é de barro. E barro ruim, quebradiço.

A Pandora pisou na bola da qualidade justamente naquela que é anunciada como a melhor das fases!

O volume um parece um jogo de cata-piolho - e, por vezes, de cata-baleia-azul - de tantos erros que tem. Sem pretender dar conta de todos, repassemos os mais gritantes.

Na página 21, lê-se "Porquê não pede a Mantra para explicá-la?". O correto seria "Por que".

Na página 22, há um acento indicativo de crase colocado erradamente em "hippies à estibordo".

Na página 23, a palavra super-humanos foi grafada "superhumanos", sem o hífen. O mesmo erro se repete nas páginas 30 e 57.

Na página 26, faltou o acento circunflexo que indica a conjugação no plural de "têm" em "palavras que não tem significado". Na página 59, o mesmo se vê em "Eles tem sorte".

Nas páginas 28 e 29, o correto seria "Por quê?".

Na página 34, a expressão "como os" saiu "comoos". E faltou a vírgula depois de "resistência".

Na página 46, há um pleonasmo: "Há muito tempo atrás".

Na página 59, a palavra "antidepressivos" está acentuada.

Na página 70, lê-se "nõs" em vez de "nós".

Na página 72, usa-se "porquê" em vez de "por que".

Na página 74, grafou-se "poer" em vez de "poder".

No segundo volume, os erros voltam a um nível aceitável.

Na página 9, lê-se "destrui-los", sem o devido acento agudo no "i".

Na página 20, há um "aonde" em vez de "onde".

Na página 61, o erro do "superhumanos" volta a aparecer.

E o que se vai dizer ao leitor diante da falta de capricho da Pandora? Fica a impressão de que ninguém releu nada antes de mandar a revista para a gráfica. Se porventura alguém revisou, isso foi feito da maneira mais desleixada possível. Não importa qual a alternativa, é um caso escandaloso de desrespeito pelo comprador.

Sim, a editora tem um dos catálogos de HQs mais interessantes do país. Ele foi erguido em plena crise financeira, com todas as dificuldades de que se teve notícia nas entrevistas com seus editores.

Ainda assim, a Pandora publicou títulos incríveis como Estranhos no Paraíso e Sin City, não raro deixando de lado argumentos meramente comerciais e explicitando seu amor pelos quadrinhos mais interessantes do mundo.

O mérito de publicar uma série tão obscura quanto fundamental como essa trilogia de Zenith é inquestionável e soma méritos à Pandora. Trata-se de um precioso material de colecionador, mas também uma leitura deliciosa, um dos pontos mais altos dos quadrinhos ingleses dos anos 80.

Para se ter acesso a um material desses no Brasil, o público aceita desembolsar um pouco mais do que a média - há um custo físico, industrial, a se pagar por tiragens supostamente baixas.

Contudo, esse público colecionador, seleto e fiel, exige uma pequena contraparte pelo preço mais alto: um padrão de qualidade elevado, um esmero, até mesmo um carinho pela revista.

Nenhum editor pode deixar ir para a gráfica um álbum com o número inacreditável de erros grosseiros que se vê no primeiro volume - e ainda pretender cobrar R$ 24,90 por ele -, sem que o leitor saia absolutamente revoltado.

Se Morrison e Yeowell, sem dúvida, merecem uma nota alta por Zenith - Fase Três, antes disso a dupla precisava de uma edição melhor, que acolhesse a obra com grandeza e dignidade equivalentes a seus talentos.

Com uma imensa frustração e por respeito ao trabalho dos artistas, é preciso dizer que o resultado está aquém do lamentável.

Classificação:

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