Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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Zero Eterno # 1

22 maio 2015

Zero Eterno # 1Editora: JBC – Série em cinco edições

Autor: Naoki Hyakuta (história original) e Souichi Sumoto (desenhos) – Originalmente publicado em Eien no Zero (Tradução de Naguisa Kushihara).

Preço: R$ 23,90

Número de páginas: 208

Data de lançamento: Abril de 2015

Sinopse

Kentaro Saeki, um jovem de 26 anos, admite que está estagnado: há alguns anos reprovando no Exame Nacional de Advocacia, o rapaz sente falta de algo que o faça ter motivação e fazer o “motor” da sua vida funcionar.

Um dia, sua irmã o contrata para pesquisar e descobrir quem foi Kyuzo Miyabe, o verdadeiro avô dos dois, homem que batalhou nos céus da Guerra do Pacífico de 60 anos atrás, pilotando um caça Mitsubishi A6M Zero, e que deu a vida em missão pelo Tokkotai, a esquadra de pilotos suicidas bastante atuante na Segunda Guerra Mundial.

Positivo/Negativo

Adaptação de um best-seller homônimo que já vendeu mais de 4 milhões de cópias, Zero Eterno joga luz em um tema muito caro ao povo japonês, que até hoje é refletido nos livros, mangás, filmes e outros meios de expressão artística.

Dentre os vários fronts de batalha e inúmeras histórias, o fascinante papel dos kamikazes é um capítulo pouco conhecido, pelo menos neste outro lado do globo.

O título do mangá se refere justamente aos caças usados pela Marinha Imperial Japonesa, Mitsubishi A6M Zero, também chamados simplesmente de "Zero" (apelidados de "Zeke" pelos aliados, mantendo a tradição de dar nomes em código masculinos para os caças e femininos para os bombardeiros nipônicos). Durante a Segunda Guerra, constantemente os pilotos suicidas investiam com suas próprias aeronaves para fundar os navios inimigos.

O Zero fazia alusão aos últimos algarismos do Ano Imperial japonês de 2600 (ou 1940, no calendário cristão), ano em que o caça entrou na ativa. Consequentemente, por metonímia, os tripulantes desses aviões também eram apelidados de Zero.

Mas nem todos eram dispostos a morrer pela causa. Pelo menos é a impressão transmitida pelo protagonista Kentaro Saeki quando começa a cavoucar o passado do avô, o misterioso Kyuzo Miyabe.

Kentaro é um “neet”, abreviação de um termo britânico popular no Japão usado para qualificar jovens que não estudam, não trabalham e muito menos estão interessados em procurar emprego.

Com o objetivo de movê-lo dessa estagnação, a irmã faz a proposta de pesquisar sobre o parente depois que ambos descobrem, por meio do viúvo de sua recém-falecida avó, que eles tinham outro avô.

A retirada do personagem principal do marasmo e da inércia, assim como as constantes descobertas do passado familiar, indica a definição de uma jornada para o autoconhecimento e amadurecimento de Kentaro ao longo dos cinco volumes da obra.

Neste primeiro, o leitor conhece um ex-tenente da marinha japonesa. O que é revelado sobre Kyuzo Miyabe pode até parecer “normal” para os padrões ocidentais, mas inaceitável para os orientais. Um reflexo da rígida disciplina e honra nacionalista que prolongaria a Grande Guerra e acabaria na fatídica investida nuclear em Hiroshima e Nagasaki.

Interessante notar como é construída e desconstruída a figura do avó de Kentaro com base exclusivamente (por enquanto) nos relatos do veterano ancião, que também serve de contraponto ideológico no enredo.

De forma orgânica, são mostrados vários momentos da Segunda Guerra Mundial, especialmente o que acontecia no Pacífico.

A arte de Souichi Sumoto carrega leveza no traço, precisão nos detalhes (principalmente nas aeronaves e outros equipamentos bélicos) e dinamicidade nas cenas de ação. Repare na caracterização que ele faz dos inimigos norte-americanos: com aparência sempre taciturna, se não tiver um bigode, o piloto apresenta aspecto desagradável, como bom “vilão”.

Como curiosidade, o sucesso da obra original é tão grande que ela foi adaptada para o cinema em 2013, chegando a liderar as bilheterias no Japão, além de ganhar este ano uma minissérie de três capítulos produzida para a televisão.

A bela edição da JBC apresenta um formato 13,5 x 20,5 cm, papel offset, capa cartonada com laminação fosca, orelhas e um detalhado glossário sobre termos, lugares e fatos históricos para melhor compreensão da trama.

O único deslize fica por conta da descrição do mangá na orelha da primeira capa, que apresenta, em várias passagens, uma separação de sílabas inexistente na gramática normativa portuguesa.

Zero Eterno é uma história de busca e redenção em duas frentes: o passado e o presente, matérias-primas que fazem mover a mola-mestra do que poderá ser construído no futuro. Sem dúvida, um dos grandes mangás do ano até agora.

Classificação

4,5

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