25 anos de Spawn, a Cria do Inferno
Poucos personagens das histórias em quadrinhos dividem tantas opiniões. Há os que odeiam o anti-herói Spawn, criado pelo roteirista e desenhista Todd McFarlane, mas também existem aqueles que o admiram e formam os milhares de fãs que em alguns países acompanham suas aventuras há anos.
Quando estreou, em maio de 1992, Spawn estava predestinado a não ser apenas mais um dos muitos personagens que surgiram para compor o mix da Image Comics, editora que estava iniciando no mercado norte-americano de quadrinhos e fora fundada por McFarlane e outros quadrinhistas, como Jim Lee e Rob Liefeld, todos egressos da Marvel Comics, em uma espécie de debandada em busca de liberdade criativa e controle sobre suas próprias criações – na edição # 10 do gibi, em 1993, tornou-se clássica uma cena em que aparecem os braços de vários personagens das duas grandes editoras, presos em uma jaula no Inferno e clamando por liberdade, numa clara alusão ao fato de que seus criadores não detinham os direitos sobre eles. A HQ nunca foi publicada no Brasil.
Passados todos esses anos, a revista do personagem continua na ativa e ainda gerou vários outros títulos relacionados ao seu universo.
E para não ficar apenas no âmbito dos quadrinhos, Spawn já estrelou uma série em desenho animado e um longa-metragem live-action para o cinema – em 1997 –, além de diversas linhas de estatuetas e figuras de ação, sem contar os mais variados tipos de produtos licenciados.
No Brasil, Spawn estreou em março de 1996, pela Editora Abril, que cancelou o título em 2005, depois de 150 edições, além dos 12 números da série A Maldição do Spawn, o especial Batman & Spawn – Guerra Infernal, a revista A Bíblia do Spawn (um guia informativo sobre o universo do personagem) e algumas minisséries.
A Cria do Inferno retornou no ano seguinte pela Pixel Media, na qual tomou novo fôlego graças a um tratamento editorial mais apurado. A editora continuou a numeração do gibi de onde a Abril havia parado, mas publicou apenas 28 edições (até o # 178), chegando ao fim em 2008.
As histórias de Al Simmons, o ex-agente da CIA morto à traição pela agência de espionagem dos Estados Unidos e que, cinco anos depois, literalmente voltou do Inferno transformado em Spawn graças a uma barganha – feita por amor a sua esposa Wanda – com o demônio Malebólgia, sempre tiveram elementos do tradicional mundo dos super-heróis. O personagem principal, com seu uniforme colante, a esvoaçante capa, os poderes prodigiosos e os supervilões fantasiados que permeiam suas aventuras, nunca deixou dúvidas sobre isso.
Mas os monstros abissais, demônios (incluindo o mais conhecido de todos, Satã), conflitos religiosos, heresias, blasfêmias, canibalismo, violência, tortura psicológica, dentre outras coisas assustadoras, fizeram de Spawn uma das melhores revistas em quadrinhos de terror dos últimos tempos.
Pouco a pouco, as semelhanças com os quadrinhos de super-heróis foram limadas da série e o horror passou a reinar sem concorrência nas páginas das HQs do personagem, que recentemente chegou a ganhar um novo alter ego, James Downing.
Desde então, e, ao que tudo indica, para o resto de sua vida editorial, Spawn assumiu de vez o terror como matéria-prima e objeto de suas histórias.
Atuando nos becos sombrios dos bairros mais perigosos de Nova York; ladeado por larvas, baratas, ratos e outras pragas repulsivas; lutando no Céu contra anjos e no Inferno contra demônios; tomando o cetro do Senhor das Trevas e desafiando o Criador; ou apenas exibindo seu rosto horripilante em um quadro de página inteira, Spawn protagoniza histórias que chocam e servem de combustível para debates ateístas ou religiosos.
Afinal, como ficar indiferente a um ser superpoderoso dos quadrinhos que foi capaz de eliminar da existência ninguém menos que Deus e Satã?
Para quem ainda não se aventurou no universo de Spawn e possui a mente aberta o suficiente para encarar suas histórias como pura diversão, a boa pedida é adquirir em sebos os encadernados que as editoras Abril, Pixel e HQM publicaram, compilando diferentes fases da Cria do Inferno em sua passagem pelo Brasil.
No mercado editorial dos Estados Unidos, Spawn continua firme em seu caminho rumo à eternidade. Seja em que sentido for essa afirmação.