Os estudos sobre os super-heróis e suas conclusões
Os super-heróis já fazem parte do imaginário popular em qualquer lugar do mundo. E nos Estados Unidos eles também são elementos integrantes da cultura do país, de uma forma tão forte e enraizada que há décadas vêm sendo tema de estudos científicos nas mais diversas áreas do conhecimento humano.
Muitos desses estudos, não só nos EUA, chegaram a ganhar destaque na mídia. E o Universo HQ sempre tratou de divulgá-los.
Seguem abaixo alguns deles, para relembrar ou conhecer agora.
Super-heróis do cinema são nocivos aos jovens
Os super-heróis de hoje praticam violência sem parar, são agressivos, sarcásticos e raramente falam da virtude de fazer o bem à humanidade.
Esses e outros elementos reprováveis seriam as mensagens e imagens passadas aos jovens do sexo masculino pelo Homem de Ferro, Batman, Homem-Aranha, Superman e toda a galeria de superfantasiados dos longas-metragens de cinema, de acordo com um estudo de psicólogos dos Estados Unidos apresentado há alguns anos, durante a Convenção Anual da Associação Psicológica Americana.
Sharon Lamb, professora de saúde mental da Universidade de Massachusetts-Boston e orientadora do estudo, disse ao jornal britânico The Guardian que os super-heróis dos gibis de antigamente eram bem mais "bonzinhos" e que a diferença deles para os dos filmes da atualidade é que sujeitos como o Homem de Ferro da tela grande são exploradores de mulheres, exibem joias caras e demonstram sua virilidade usando armas.
Para ela, os meninos são mais ajustados mentalmente quando resistem à interiorização dessas imagens machistas.
Lamb e outros psicólogos chegaram a essas conclusões depois de entrevistar cerca de 700 garotos entre quatro e 18 anos de idade e acompanhar o que eles assistem na TV e no cinema.
Influencia das ameaças sociais
Muitos psicólogos acreditam que as pessoas ficam mais agressivas e menos interessadas em sentimentos e emoções nos tempos de crise social ou economia tumultuada.
Sobre isso, a revista norte-americana Political Psychology publicou, em 2010, um estudo que mostra resultados interessantes: os quadrinhos de super-heróis também reagem dessa forma, nas mesmas circunstâncias.
Os autores do estudo pesquisaram, quadrinho por quadrinho, oito títulos lançados entre 1978 e 1992, para registrar como as mulheres e as minorias eram tratadas; a forma agressiva com que as autoridades eram mostradas; as cenas de violência; o número de reflexões (balões de pensamento em vez de diálogos) e outros tópicos.
No geral, os pesquisadores avaliaram que as mulheres falavam menos e que havia um grande número de painéis com cenas violentas durante esse período em que os Estados Unidos estiveram, algumas vezes, ameaçados por conflitos internos ou externos.
Na pesquisa, foram usadas HQs da Marvel que até hoje são publicadas. Quatro eram de super-heróis convencionais que representam virtudes norte-americanas como patriotismo (Capitão América) e cidadania (Homem-Aranha); o restante foi de personagens não convencionais, com temas sobre perseguição social (X-Men) e amoralidade urbana (Demolidor).
Comparando as vendas desses gibis, surgiu outro dado curioso: os personagens não-convencionais venderam mais exemplares de seus títulos durante os tempos de estabilidade social do que nos períodos de ameaças, enquanto os outros mantiveram a vendagem de suas HQs estabilizadas.
Um modelo de conduta para as crianças
Nem tudo, porém, é negativo nos estudos sobre os super-heróis.
Foram dez anos analisando o impacto dos quadrinhos na vida dos leitores. Mas o resultado da longa pesquisa realizada pelo Dr. Chris Murray, da Universidade de Dundee, na Inglaterra, concluiu que o Homem-Aranha é o melhor modelo a ser seguido pelas crianças.
De acordo com Murray, o personagem Peter Parker é uma vítima das agressões de colegas de escola que cresce com muitos problemas pessoais e, ainda assim, torna-se um campeão em todos os sentidos e por isso está no topo da lista dos modelos exemplares para a criançada.
"Seu verdadeiro superpoder não é o de escalar paredes, mas a habilidade de assumir uma personalidade de confiança", disse Murray no texto de divulgação da pesquisa.
O coração dos super-heróis
No Brasil também há vários estudos sobre os heróis dos quadrinhos. Como Os vazios silenciosos no coração dos super-heróis, do pernambucano Cláudio Clécio Vidal, baseado na dissertação de mestrado que o autor defendeu em 2006.
A obra, que faz referência às ideias de vários pensadores, como Hegel e Michel Foucault, investiga os super-heróis norte-americanos e japoneses sob a ótica da filosofia, destacando que o coração desses personagens "pode funcionar como um espelho por meio do qual o edifício filosófico encara suas fraturas, contradições e vazios: suas crises de identidade".
"As narrativas de super-heróis, encaradas como representações imagéticas de conceitos abstratos - ou alegorias -, comportam-se como uma espécie de evangelho apócrifo, contrapondo-se a interpretações canônicas de noções filosóficas", anotou o autor na divulgação do lançamento.
O trabalho de 176 páginas está disponível gratuitamente para download ou leitura online, no formato PDF.